De ligação direta a 'jammers': como roubo de carros evoluiu com tecnologia
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Quem não se lembra das antigas travas de volante que se prendiam aos pedais com objetivo de criar uma barreira mecânica e impossibilitar colocar o veículo em movimento? Essa era a maneira de se defender dos furtos no passado. A evolução tecnológica e eletrônica dos componentes dos carros hoje permite bloquear seu funcionamento de um de qualquer parte do mundo com apenas um comando enviado por internet.
Antes os ladrões utilizavam ferramentas como chaves michas, serras para romper as travas, alicate para cortar os fios da ignição e fazer a "ligação direta" e então consumar o furto.
Há mais de 10 anos as fabricantes começaram a equipar os automóveis com centrais inteligentes ECU que controlam praticamente todas as funções desde a partida até a quantidade de combustível necessária ao funcionamento.
Essas centrais estão preparadas para funcionar apenas com a chave original. Existe uma senha eletrônica configurada com módulo ECU e mesmo que se tente a ligação direta o motor não irá funcionar.
Diante dessa dificuldade os bandidos tiveram que se reinventar. Hoje em dia utilizam módulos ECU clonados como ferramenta principal para praticar o furto e driblar a necessidade da senha da chave original. Em menos de um minuto os mais "habilidosos" conseguem ligar o motor e "arrastar" o automóvel ou picape.
Para os modelos equipados com a tecnologia keyless, ou chave presencial, o que eles precisam é interceptar o código transmitido pela chave original, se aproximar do carro-alvo e simplesmente começar a dirigir. Foi isso que aconteceu em Londres, no furto de um Tesla. Uma câmera de segurança filmou a ação que viralizou na internet.
Aqui, onde há muitas garagens fechadas, os gatunos preferem praticar este tipo de crime em estacionamentos de shopping centers ou supermercados. Tão logo o motorista desembarca, ligam os equipamentos, retransmitem o sinal da chave e saem com o veículo sem que a vítima perceba.
Rodrigo Boutti, diretor de operações da Ituran, empresa de rastreamento com tecnologia israelense operante há 20 anos no Brasil, recomenda alguns cuidados:
- Ao desembarcar, sempre acione o botão de travar as portas e certifique-se de que estão travadas mesmo;
- Olhe em volta e veja se há alguma movimentação estranha;
- Sempre que possível estacione em local fechado e controlado;
- Se morar em casa, evite que a chave de presença fique próxima ao local de estacionamento.
Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, em 2019 até novembro foram furtados e roubados mais de 87 mil veículos somente na capital e região metropolitana. Em alguns meses do ano os furtos representaram mais de 65%. Os ladrões praticam furto pois em caso de prisão e julgamento a pena é mais branda, já que não houve emprego da violência, tecnicamente classificada como roubo.
Outro problema apontado por Boutti é a utilização de "jammers" (embaralhadores de sinais) pelos criminosos. Um risco maior do que clonagem de chaves presenciais porque atinge todos os carros furtados ou roubados. São equipamentos baratos, encontrados na internet, que inibem os sinais de GPRS/GSM comumente utilizados no rastreamento. Os larápios podem então se deslocar até os desmanches sem serem monitorados.
A solução escolhida pela empresa foi desenvolver dispositivos inteligentes que emitem alertas de segurança de acordo com o comportamento fora da rotina normal de uso pelo motorista e montar uma estrutura dedicada de antenas de radiofrequência. Estas são estrategicamente distribuídas nos grandes centros urbanos em regiões onde as estatísticas apontam o maior número de ocorrências.
Por mês, são tratadas aproximadamente 1.000 eventos reais de roubo e furto. Com isso se consegue montar uma base de dados para identificar os locais com maiores concentrações de casos, modelos mais visados, horários em que os bandidos preferem atuar e até mesmo prever para que região o veículo será levado para desmontagem e posterior revenda das peças. Cerca de 80% dos carros furtados ou roubados e não recuperados são desmontados em menos de 30 minutos.
Hoje o tempo médio de recuperação de um carro monitorado em tempo real chega a apenas 26 minutos. Em 2017 eram necessários 44 minutos, quase o dobro do tempo.
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