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Fernando Calmon

Coronavírus e dólar alto devem derrubar mercado de automóveis em 2020

Fernando Donasci/UOL
Imagem: Fernando Donasci/UOL

Colunista do UOL

19/03/2020 04h00

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Os efeitos do novo coronavírus no mercado brasileiro de veículos serão perversos, mas ainda não dá para dimensioná-los. Mesmo porque o trabalho remoto instaurado por muitas empresas ameniza, em parte, a crise e pode ajudar na recuperação econômica.

Até agora o ano estava indo muito bem. A média diária de vendas de veículos leves e pesados atingiu 10.716 unidades de 1º de janeiro até segunda-feira, dia 16 (6,4% superior a 2019). Neste dia, porém, a média recuou 8% para 9.861 unidades. A comercialização de usados também refletiu a insegurança sobre os rumos da economia e tinha caído cerca de 10%, segundo estimativas.

Problema do covid-19 é mundial e teme-se falta de autopeças vindas do exterior. A Fenabrave ressalvou que os estoques nas concessionárias vão de 45 a 60 dias incluindo motos, máquinas e implementos.

Então, daria para cobrir eventuais paradas das linhas de montagem e, avalio, sem atingir de forma homogênea todas as marcas. Cenário ruim, embora não desesperador, por se desconhecer o grau de retomada após esperados três meses de prostração.

Outro fator de incerteza - dólar no patamar de R$ 5 - pode atormentar as fabricantes de forma diferente. Antes devo ressalvar, ao contrário do pensamento corriqueiro, que há décadas o Brasil não exige índice mínimo de conteúdo de peças locais nos produtos aqui fabricados. A exceção ocorreu no período do programa Inovar-Auto (2012-2017), mas o motivo implícito foi segregar os modelos importados em época de real supervalorizado.

É difícil calcular hoje o conteúdo importado em razão das autopeças também conterem itens vindos do exterior, principalmente na eletrônica de bordo.

No geral estimo algo entre 40% (modelos recentes e alta incidência de eletrônicos) e 10% (aqueles há tempos no mercado). Quanto se repassará para o preço dependerá do conteúdo local do modelo e da estratégia de cada fabricante. Nessas circunstâncias o impacto não será linear e nem integral.

A GM sofreu o primeiro impacto da crise. Seu principal lançamento do ano, o novo SUV compacto Chevrolet Tracker não teve lançamento presencial para concessionárias e imprensa (optou por streaming de vídeo). No entanto, anunciou preços tão competitivos quanto os dos Onix/Onix Plus, em 2019 (embora estes já tenham até sido majorados).

O Tracker começa em R$ 82.000 e chega a R$ 112.000. Motores, só tricilindros turboflex, desde o atual 1-L dos Onix (116 cv/16,8 kgfm) ao novo 1,2-L (132 cv/21,4 kgfm), como antecipei no ano passado. Nos dois casos, potência e torque são inferiores ao modelo que se despediu.

Apesar de o novo SUV ser, em média, 160 kg mais leve que o anterior, na relação peso-potência a versão de menor cilindrada fica em posição inferior (10,6 kg/cv) e a mais potente quase iguala (9,3 kg/cv, agora; antes 9,1 kg/cv). Isso será avaliado na próxima coluna.

Espaço interno melhorou um pouco: o novo modelo é 1,5 cm maior tanto na largura (179 cm) quanto na distância entre-eixos (257 cm). Apesar de mais baixo, espaço para cabeça foi ampliado. Grande avanço foi no porta-malas que passou a 393 litros (antes, 306 litros) ou 28% superior ao acanhado volume anterior.

Alta Roda

- No momento, não há notícias de atrasos em lançamentos. VW ainda não marcou data para o esperado Nivus (SUV compacto com teto que lembra cupês), mas produção está prevista para primeiro de junho. Já seu SUV médio argentino só em primeiro de janeiro de 2021. Picape Amarok (272 cv) deve chegar em maio, pois acaba de estrear na Argentina.

- Apresentações presenciais, porém, vêm sendo canceladas, uma atrás da outra. No caso de produto inteiramente novo, como picape Strada, em abril, haverá transmissão ao vivo via internet. Fabricantes sabem que impacto é menor do que uma convenção. Contudo, evitar reunir grande número de pessoas e viagens de avião atendem recomendações do ministério da Saúde.

- CAOA Chery lançou o sedã anabolizado Arrizo 5, modelo 2021, com câmbio CVT de nove marchas (antes, sete) e aumento de 10% no torque (19,4 para 21,4 kgfm). São nítidas as diferenças na arrancada inicial e menos ruído em velocidades de estrada (a 120 km/h, apenas 1.900 rpm). Versão mais cara tem teto solar e rodas de 17 pol. Preços subiram: R$ 74.590 a R$ 83.590.

- Renault apresentou na Europa o veículo conceitual elétrico Morphoz, inovador em um ponto bem interessante. Distância entre eixos pode ser ampliada em até 20 cm, passando de 2,73 m para impressionantes 2,93 m, o que melhora sobremaneira o conforto em viagens. Não há pormenores sobre viabilidade técnica, porém esteticamente a solução ficou boa.

- Solução atraente está sendo proposta pela ZF. Trata-se do primeiro freio de estacionamento eletromecânico dianteiro, no lugar da aplicação universal nas rodas traseiras. Além de ampliar o espaço interno, em especial nos carros compactos, trata-se de solução mais econômica e segura. Ideia vem sendo oferecida a fabricantes de veículos e espera encontrar interessados.