Ford e VW juntas? "Autolatina das picapes" nem começou e já foi abortada
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Era para acontecer na América do Sul o pontapé inicial da parceria global de Ford e Volkswagen em veículos comerciais, que se estendeu também para o desenvolvimento conjunto de tecnologias autônomas e eletrificadas. Em General Pacheco, na Grande Buenos Aires, onde Ford e Volkswagen estão divididas hoje pelo alambrado que não existia nos tempos de Autolatina, seriam produzidas em 2022/23 uma picape de cada marca, desenvolvida pela engenharia Ford, que tem mais experiência no assunto. As novas gerações de Ford Ranger e VW Amarok.
O projeto conjunto não caiu na graça da divisão da América Latina da Volkswagen, focada em outros desenvolvimentos para a região. E, segundo apurou a publicação argentina Autoblog, trabalhou contra a ideia e convenceu a matriz na Alemanha. O projeto Cyclone foi cancelado apenas na região, alterando os planos de uma cadeia de fornecedores que já trabalhavam em cotações e até no teste de algumas partes da futura arquitetura da nova geração de picape.
Conforme reportagem dos parceiros editoriais de AutoData na Argentina a decisão, já anunciada aos envolvidos, foi baque para fornecedores, que esperavam grandes volumes com a produção dois em um.
E também para os trabalhadores da Ford Pacheco, a unidade encarregada da fabricação das duas picapes, que aguardavam um grande reforço nas linhas na próxima década. Em Pacheco a Ford produz apenas a Ranger: desde o ano passado foi descontinuada a linha de montagem da família Focus.
A avaliação é que esta decisão faz a aliança Ford-VW dar um passo para trás. Quando anunciada globalmente a parceria mostrou fundamentos bastante sólidos para atingir o objetivo de compartilhar custos e desenvolvimento, produzindo sinergias relevantes para as duas empresas.
O Projeto Cyclone morreu apenas na Argentina. As matrizes de Ford e VW seguem as atividades em conjunto buscando, a partir de agora, outros lugares no mundo para produzir Ranger e Amarok. Por enquanto este é um golpe na competitividade da América do Sul, que poderia ter ainda mais destaque na produção global de picapes.
O que se sabe neste momento é que a Amarok lançada em 2010 continuará em produção do lado da VW em Pacheco. E que a unidade da Ford continua se credenciando à produção da nova geração da Ranger da aliança Ford-VW.
Outro lado. Nenhuma das empresas confirma, oficialmente, o fim da parceira na região. Em nota a Volkswagen diz que "esperamos proporcionar conjuntamente uma atualização de nossa associação e informaremos em breve os pormenores deste projeto". A Ford afirma que "os planos da Ford para a Ranger na América do Sul não mudaram (...). Não fazemos comentários sobre negócios de outras empresas".
Posições à deriva. O setor automotivo aguardava com certa ansiedade um direcionamento da Anfavea, associação que representa as fabricantes de veículos no País, com relação às projeções para o ano. Ainda aguarda. O presidente Luiz Carlos Moraes descartou fazer, por ora, uma revisão nos números e manteve todo mundo no escuro.
Justificável? AutoData levantou ao longo da semana informações que mostram um cenário ainda prematuro para apresentar projeção acurada para o desempenho do mercado automotivo em 2020. Até a bola de cristal mais poderosa é incapaz de visualizar o que vai acontecer nesse caminho nebuloso criado pela pandemia - não sabemos nem quando a tal da quarentena será encerrada. Temos apenas o indício de que ainda estamos longe do fim. Seria importante, no entanto, alguma sinalização da Anfavea: uma retração de 20% a 50% nas vendas, com avaliação periódica do desempenho? Informação é ouro nos dias atuais.
Na casa dos 80%. A queda na última semana de março ficou na casa dos 80%, comparada com a primeira semana daquele mês. Na China o recuo das vendas teve comportamento semelhante no auge da pandemia, em fevereiro.
Recuperação em V? A questão é como será a retomada. Em conversas com fontes do setor os jornalistas de AutoData escutam que dificilmente a recuperação será rápida. O retorno das fábricas será lento: há empresa falando em voltar apenas com um turno reduzido, e os consumidores também não estarão confiantes para trocar de veículo.
Dá um dinheiro aí? E há, igualmente, a questão dos bancos. Os relatos são de que o crédito está mais difícil e mais caro para empresas que buscam reforçar o fluxo de caixa. Como será para aquisição de veículos? A tendência, segundo nossas fontes, é a de maior seletividade, com mais reprovação de fichas.
* Colaboraram: André Barros, Caio Bednarski, Bruno de Oliveira e Marcos Rozen.
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