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Como compensar toda a emissão de CO2 de seu carro gastando apenas R$ 200

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Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

17/04/2020 04h00

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Imagine que você, com seu carro dotado de motor a combustão, não importa a potência ou o combustível utilizado, seja capaz de limpar o ar daquelas toneladas de CO2 ao rodar, 10 mil, 20 mil quilômetros durante um ano. Carros elétricos estão sendo criados para essa função: evitar poluir o ambiente com gases de efeito estufa.

Não se iluda, nobre leitor: podemos achar incrível a tecnologia, os novos e revolucionários cockpits, o torque brutal e instantâneo e tudo o que estão falando insistentemente nos últimos tempos sobre os veículos elétricos. Mas carro elétrico só existe e estará cada vez mais presente porque é urgente reduzir de forma definitiva o aquecimento global, outro inimigo invisível como o coronavírus.

Só que o aquecimento global é ainda mais letal: ele será capaz de acabar não só com a vida da espécie humana na Terra mas com a de todos os outros seres que aqui habitam.

Esta é uma realidade colocada pela ciência - e não à toa as montadoras destinam bilhões de dólares na transformação das próximas gerações de veículos. Pare para pensar: se não é real essa ameaça porque todas as empresas estariam fazendo esse movimento sem precedente na indústria automotiva?

Essas reflexões nos conduziram à prática. Em dois períodos, em 2018 e 2019, rodando com carros das frotas das montadoras, foram plantadas árvores para compensar a emissão desses veículos utilizados em nossa atividade profissional. O resultado da experiência: depois de dirigir 18,5 mil quilômetros foram necessários R$ 200 para plantar dez árvores e com isso contribuir para retirar da atmosfera todo o CO2 liberado pelos motores desses veículos.

R$ 200 é um valor irrisório para investir na máquina mais eficiente para captar o CO2: a árvore. Mas tem que ser feito por gente especializada no assunto para garantir o desenvolvimento dessas árvores e trazer adeptos para essa prática.

Quem avalia é Lucas Pereira, diretor da Iniciativa Verde: "A compensação de CO2 ainda não tem grande adesão. Muita gente se interessa, existem pessoas engajadas mas o grande público não se identifica com a urgência do tema. A mudança climática não é algo que o cidadão comum avalia como preocupante assim como a pandemia de coronavírus agora".

O trabalho da Iniciativa Verde, uma organização do terceiro setor, consiste em gerenciar todo o processo para você. Além do cálculo apresentado nas tabelas também faz o plantio em diversas áreas de mananciais, como na serra da Mantiqueira em São Paulo e em Minas Gerais. Eles têm ações no bioma Cerrado e na Amazônia e em outros estados brasileiros.

Todas as áreas de plantio de árvores nativas, vale ressaltar, são georeferenciadas, ou seja, estão monitoradas, o que possibilita o acompanhamento do seu desenvolvimento, confirmando que o serviço ambiental da árvore está sendo realizado.

Os cálculos feitos pela Iniciativa Verde seguem as orientações do Programa Brasileiro GHG Procol, idealizado pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas, e são registrados nas publicações oficiais dos inventários de gases de efeito estufa no País.

Somando os dois momentos em que tivemos oportunidade de conhecer esses veículos foram emitidas mais de 2 toneladas de CO2 equivalente rodando muito mais na estrada do que na cidade. Explorando as tabelas identifica-se veículos que não tiveram suas emissões registradas.

Foram os modelos abastecidos com etanol que, de acordo com o GHG Protocol, é neutro de CO2. Esta foi uma iniciativa individual deste repórter, que realizou o pagamento da compensação e recebeu, em seu nome, os certificados exigidos para que a atividade de plantar árvores seja legal e reconhecida pelos órgãos competentes.

Assim como a neutralização das emissões automotivas também é possível fazer as contas para qualquer atividade cotidiana, como viagens, na utilização de transporte público e até dentro de nossas casas. Mas ainda há muita desinformação, preconceito e descaso com uma atitude simples e de baixo custo.

Pereira avalia: "Existe boa vontade das pessoas mas, na prática, é difícil elas colocarem a mão no bolso. Companhias aéreas têm programas em que o cliente pode comprar com o ticket da viagem. A adesão é baixíssima. As pesquisas mostram que 40% pagariam mas, de fato, apenas 2% realmente fazem a compensação. A verdade é que as pessoas se preocupam da boca para fora".

É interessante e até divertido fazer a associação da neutralização de CO2 com os carros elétricos. Agora, participar voluntariamente desse movimento, como fizemos, já são outros quinhentos...Fica a dica.

Respiradores. O governador João Doria convocou executivos de montadoras para saber da possibilidade de usar as ociosas fábricas de veículos para produzir respiradores. As fabricantes dos equipamentos estão com a capacidade no limite e as importações, da China, talvez não cheguem no tempo necessário da demanda estimada pelo governo para combater a covid-19.

Não dá. Questões técnicas, jurídicas e administrativas, porém, impediram o sim das montadoras. A produção requer, além de tempo e aprendizado, autorização de governo, isenção fiscal e segurança jurídica - quem se responsabilizaria por um eventual defeito?

Outras frentes. Não impede, porém, que sigam colaborando de outras maneiras: mais de uma empresa presta consultoria técnica, colocou sua equipe logística para localizar fornecedores locais e até internacionais e até podem fornecer mão de obra para auxiliar a aumentar a capacidade de produção.

Din-din. Nos bastidores da indústria automotiva há comentários sobre reunião que presidentes de duas montadoras tiveram no BNDES: eles foram pedir R$ 1 bilhão para suas empresas. Ouviram dos interlocutores do banco de fomento do governo que a iniciativa privada deveria atender ao pleito das grandes empresas. Os presidentes responderam que já tinham feito o pedido a esses bancos, sem sucesso.