Indústria automotiva acumula R$ 50 bilhões em dívidas, diz presidente da GM
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Aumento de preços dos carros, balanços de grandes empresas por um longo período comprometidos e uma dívida que hoje chega a R$ 50 bilhões na cadeia automotiva. Este é o cenário que um dos líderes do setor apontou, de forma enfática, para esta indústria nos próximos meses no Brasil.
[Sobre a dívida] "acredito que ela possa duplicar até o fim da crise" disse com exclusividade a AutoData Carlos Zarlenga, presidente da General Motors América do Sul.
A liquidez do caixa das empresas tem sido a razão de intermináveis reuniões feitas à distância nas últimas quatro semanas, relatou o executivo em vídeo gravado nesta quinta-feira, 23.
A preocupação é que a roda que movimenta essa imensa cadeia possa não estar preparada para girar assim que se iniciar a retomada das atividades: "Sabemos que sem liquidez muitas empresas dessa cadeia não suportarão. Algumas podem quebrar. A situação é tão grave que até montadoras podem não conseguir sair dessa".
Além de manter conversas com representantes dos governos e com bancos privados em busca de uma solução capaz de irrigar os caixas das empresas os líderes do setor automotivo estão trabalhando em conjunto na disciplina financeira e em cortes de despesas, projetos e investimentos para tentar equilibrar a equação: "Reduzir e melhorar os balanços na retomada será absolutamente a chave para o sucesso das empresas".
Zarlenga acredita que os temas regulatórios que definem muitos investimentos em engenharia, por exemplo, terão que ser revistos: "O Rota 2030 e todas as outras questões regulatórias precisam ser postergadas, porque não vai haver dinheiro para fazer investimentos: o caixa será usado para pagar dívidas".
Em 2020, mesmo sem ter uma projeção apurada para o mercado nacional, a GM estima que as vendas não chegarão a 2 milhões de unidades. A fraca retomada dos negócios será reflexo da baixa confiança do consumidor para ir às compras. E esse período de incertezas terá impacto também sobre 2021 e 2022. Na avaliação de Zarlenga qualquer crescimento nos próximos anos não será suficiente para equilibrar o balanço das empresas.
Assim, torna-se inevitável o aumento dos preços dos veículos para que as empresas possam retomar seu fluxo de caixa saudável. Este movimento silencioso de reajuste das tabelas de preços dos automóveis já vem ocorrendo e a tendência é que sejam mais frequentes após a retomada das atividades por causa da pandemia da covid-19.
O executivo da marca mais vendida de carros no mercado nacional acredita que um parâmetro a ser utilizado como referência para definir preços será o dólar. No momento da conversa com Zarlenga o câmbio estava a R$ 5,31 por dólar.
Todos juntos. Besaliel Botelho, presidente da Bosch para a América Latina, concorda com Carlos Zarlenga, da GM, sobre a necessidade urgente de apoio das instituições financeiras públicas e privadas às empresas do setor automotivo. Estão em jogo centenas de milhares de empregos formais que precisam ser mantidos para contribuir com a retomada da economia. Em entrevista a AutoData o presidente da Bosch afirmou que o "foco principal é a manutenção dos empregos".
R$ 40 bi. O tamanho do fundo do poço que o presidente da GM imagina é ainda mais profundo que o de Pablo Di Si, presidente da Volkwagen, que avaliou o buraco em R$ 40 bilhões. Porém, além de compartilharem a mesma nacionalidade [são argentinos], os dois líderes concordam que em duas semanas muitas empresas ficarão sem alternativas para manter suas atividades.
Carro pra quem? Bancos privados e públicos e uma atitude mais contundente do governo nessas negociações são as últimas alternativas para um setor que representa parte relevante do PIB industrial do País. O que vem sendo chamado de "novo normal", quando forem retomadas as atividades econômicas no Brasil, passa, obrigatoriamente, pelo consumidor. Os presidentes de GM, VW e Bosch se perguntam: "Quem vai comprar carro diante de uma pandemia?". Se bancos ainda não liberaram dinheiro a juros aceitáveis às empresas quem dirá a consumidores que estarão apertados. Salários reduzidos, aumento do desemprego - e aí vem a outra pergunta: "Para quem a indústria vai produzir?".
1ª marcha. A roda tornará a girar com início da produção na Scania, em São Bernardo do Campo, SP, e Volkswagen Caminhões e Ônibus, em Resende, RJ. Mercedes-Benz, Volkswagen e FCA foram outras a confirmar retorno da produção em maio. Devagar, devagarinho, torcendo para que do outro lado exista consumidor disposto a fazer com que esta velocidade aumente.
Construindo protocolos. Comitê global na Bosch avalia os protocolos que foram utilizados primeiramente na Ásia e em outros países para definir quais medidas devem ser tomadas para proteger os funcionários que voltarão às suas atividades. O retorno da produção virá acompanhado de muito, mas muito cuidado. Distanciamento maior dos colaboradores, novos EPIs como máscaras e luvas, checagem de temperatura, frota maior de ônibus higienizados e menos passageiros, refeitórios com mesas afastadas umas das outras... dentre outras exigências. Esse tipo de procedimento valerá para todas as empresas que terão que se adaptar a rígidas regras sanitárias. A volta tem que ser efetiva - de nada adianta retomar a produção e precisar parar em duas semanas por uma nova onda de contaminação do coronavírus.
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