Locadoras param de comprar carros e aumentam crise nas montadoras
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Não bastasse a quarentena e o fechamento das lojas, que cancelaram qualquer plano de comprar um automóvel, agora as montadoras enfrentam a fuga do que foi nos últimos anos a salvação para suas operações no Brasil: a venda direta, mais especificamente a venda para locadoras de veículos.
Uma das associações desse setor disse que já tem 80% dos contratos de locação para motoristas de aplicativo cancelados. Esse movimento afeta todas as locações dessas empresas. Assim, as principais locadoras do País estão cancelando a compra de veículos junto às fabricantes.
A Movida, uma das três grandes desse setor junto com Localiza e Unidas, anunciou na quinta-feira, 14, que suspendeu a operação de compra de carros 0 KM. Alega que a quantidade de veículos disponível hoje em sua frota é o equivalente a três meses de vendas.
Fontes do varejo automotivo consultadas por AutoData dizem que as locadoras, grandes ou de pequeno porte, procuram galpões para deixar essa imensa quantidade de veículos enquanto os negócios estão praticamente paralisados.
Essa decisão tem um impacto importantíssimo na cadeia automotiva. Mas antes de abordamos os riscos é preciso compreender a venda direta para locadoras. A venda direta é uma modalidade de negócio feito entre o fabricante com alguns grupos específicos: taxistas, frotas corporativas, locadoras e PCD - pessoas com deficiência.
Estão previstas isenções tributárias para algumas dessas categorias e, no caso das locadoras e grandes frotistas, há relevante desconto no preço final dos veículos. Por dois motivos: o concessionário é excluído do processo de negociação, deixando de aplicar suas margens no preço. E é de interesse da montadora fechar a venda de volumes significativos com descontos maiores, para reduzir a ociosidade na produção.
Esse é o principal argumento dos fabricantes que, ao mesmo tempo em que negociaram 44,5% das vendas totais em 2019 de forma direta - sendo mais da metade disto para as locadoras - reclamam que a rentabilidade não justifica a operação. Apenas a queda da ociosidade de produção é razão para manter esse negócio.
Em nome da garantia da produtividade de toda uma cadeia as montadoras criaram um importante concorrente para seus próprios parceiros, os concessionários. Isso porque as locadoras rapidamente incorporaram no modelo de negócios a venda de veículos seminovos. São grandes volumes comprados com desconto, muitos deles utilizados por um período de doze meses na locação - com quilometragem baixa, que não ultrapassa 30 mil quilômetros - e por isso mesmo os preços e suas condições são praticamente imbatíveis no mercado de usados.
Esse movimento ágil das locadoras vem sufocando os concessionários e corroendo as margens de montadoras há alguns anos. E agora, com o cancelamento das programações das compras por parte das locadoras, que eram frequentes, o argumento da manutenção de índices de produção suficientes para justificar a operação no Brasil pode não ser tão atraente para as empresas fabricantes de veículos.
Traduzindo isso para o mundo dos negócios: com a paralisação da produção por causa da pandemia, a incerteza sobre o ritmo da retomada dos negócios - quando vier - e agora com a redução drástica das vendas diretas, pode haver em curto espaço de tempo decisões radicais por parte de algumas empresas instaladas no Brasil. Não são poucos executivos que já disseram isso reservadamente aos jornalistas de AutoData.
Aliás, o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, disse em live promovida por AutoData esta semana que estudos de viabilidade econômica de operação no Brasil estão na mesa dos presidentes das montadoras: "É claro que eles estão analisando todas as alternativas neste momento. Não seria diferente sobre a possibilidade de encerrar as operações no País".
Subindo o tom. Moraes também incentivou, na live de AutoData, a quarentena e cobrou de forma incisiva ação coordenada dos governos federal, estaduais e municipais no combate à covid-19. Segundo ele "a saúde dos cidadãos está em primeiro lugar".
Sem confiança. Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz, ecoou o discurso: "A confiança da população só retornará se tivermos a crise da saúde controlada".
½ turno. A fábrica da Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo, SP, voltou a produzir com metade da força de trabalho. Schiemer garante que o mercado de caminhões não parou, sobretudo por encomendas do agronegócio. Mas admite que o ritmo não é o mesmo.
Vendidos. Os executivos da indústria disseram que foram surpeendidos após a caminhada de industriais, liderada pelo presidente da República até o STF para pedir o fim do isolamento social. Dentre os presentes na carreata a pé estava um vice-presidente da Anfavea, Antônio Sérgio Martins Mello, da FCA. A entidade se pronunciou dizendo que a reunião, que antecedeu a ida ao STF, era para falar sobre assuntos econômicos e a visita não estava programada.
GM online. A General Motors anunciou o lançamento da loja Chevrolet no Mercado Livre, a princípio com o SUV Tracker. Serão comercializados modelos 0 KM com apoio da rede concessionária.
Como é? AutoData apurou que a iniciativa não foi bem recebida na rede de concessionários. Ninguém entendeu nada - e, segundo uma fonte, os revendedores não foram consultados previamente.
Faltam peças. Fabricantes de máquinas agrícolas relatam problemas no abastecimento de peças, tanto de fornecedores internacionais como de nacionais. Lá fora a questão é que fábricas ficaram paradas nos últimos meses e só retornam agora. Aqui, existem municípios que ainda não liberaram a abertura de fábricas.
A toda. O setor parou menos que o de veículos, vinte dias em média, para seguir abastecendo o agronegócio.
*Colaboraram: André Barros, Bruno de Oliveira, Caio Bednarski e Marcos Rozen
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