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ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Renault e Nissan podem seguir exemplo da Ford e sair do Brasil?

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Imagem: Divulgação

Colunista do UOL*

09/04/2021 04h00

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Carlos Ghosn conhece a indústria automotiva brasileira, conhece bem mais a Renault e a Nissan e, por isso, declarações suas sobre uma possível saída dessas empresas do Brasil, a exemplo do que fez a Ford, tem um peso gigante e agita o mercado. Mas o que isso tem de concreto? Algum sinal de que essa possibilidade está na mesa das companhias?

Ao blog Radar Econômico, da Veja, Ghosn, em análise sobre a indústria automotiva nacional, disse que "os mais fracos sairão do Brasil". E exemplificou, dentre os mais fracos "a Aliança Renault Nissan", alegando que "para competir no Brasil é preciso ter uma montadora forte".

Não há dúvidas de que as incertezas do atual cenário para a economia brasileira assustam investidores e faz com que empresas multinacionais refaçam contas para justificar suas operações locais.

O contexto político e econômico foi tema de palestra do presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, esta semana. Além de criticar o governo federal e o Congresso, ele foi taxativo: Brasília (DF) está mais preocupada com as eleições de 2022 do que com a economia real e atual, que é preocupante. E levantou uma questão: está mais difícil justificar, em suas reuniões rotineiras, os investimentos no Brasil junto às matrizes.

Investimentos são vitais para o negócio no longo prazo, pois a indústria precisa se atualizar, renovar seus produtos e apresentar novidades ao mercado, ainda mais no brasileiro, tão competitivo.

E tanto Renault quanto Nissan estão com planos: a primeira anunciou R$ 1,1 bilhão no País este ano e em 2022, para renovar cinco produtos e introduzir um motor turbo, ainda que neste momento importado, em seu portfólio. A segunda acabou de lançar o novo Kicks e tem um projeto de exportação para a região que pode alavancar o ritmo de sua fábrica em Resende (RJ).

Mais: no ano passado as duas, por meio da Aliança Renault Nissan Mitsubishi, anunciaram que produzirão carros em plataformas compartilhadas no País. Isso significa que sairão das linhas de Resende modelos Nissan e Renault, o mesmo acontecendo na fábrica em São José dos Pinhais (PR). Ao menos sete modelos, dois hatches, dois sedãs e três SUVs, estão nos planos.

Juntas as duas marcas venderam, no ano passado, 190 mil veículos, quase 10% do total de veículos leves negociados no mercado brasileiro. Só perderam, em volume, para General Motors, Volkswagen e Fiat, da Stellantis, três companhias consolidadas há mais de quarenta anos no País e que nas últimas décadas se revezaram no topo do mercado.

São argumentos que contradizem as declarações de Ghosn, de que Nissan e Renault são fracos no mercado nacional. A quarta montadora do País deixaria o mercado, mesmo com investimentos e planos futuros traçados?

A Ford era a sexta e deixou. Vendeu, em 2020, 139 mil veículos, mais de 7% do total do mercado. Fez o mesmo com caminhões, segmento em que mantinha porcentual ainda maior de participação. E tinha planos futuros - um SUV, substituto do EcoSport, foi desenvolvido pela equipe brasileira e só aguardava o OK da matriz para sair do papel.

No mundo dos negócios as decisões são tomadas com muito estudo e cuidado - Ghosn sabe bem, pois participou desta indústria por mais de vinte anos. Moraes, da Anfavea, passou o recado que vem das matrizes.

Os que pensam nas eleições de 2022 deveriam olhar mais para o presente. O risco existe sim, e, se não for Renault e Nissan, pode ser outra.

* Colaboraram André Barros e Vicente Alessi, filho