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A eletrificação automotiva pode destruir o planeta?

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Imagem: Shutterstock

Colunista do UOL

20/01/2023 04h00

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Na quarta-feira, 17, o secretário geral das Nações Unidas, António Guterres, fez uma revelação impressionante na abertura do Fórum Econômico Mundial: "Soubemos na semana passada que certos produtores de combustíveis fósseis estavam plenamente conscientes na década de 1970 de que seu principal produto estava assando o planeta".

Ou seja: nos últimos cinquenta anos utilizamos o combustível no veículo enquanto empresas negavam que a combustão do primeiro produto realizada pelo segundo pudesse, de fato, fazer tão mal a tanta gente, a tantas espécies.

Caso ainda o leitor não tenha a dimensão do que isto representa basta pesquisar a frase desastres naturais na internet. Nesta semana, mesmo, há vídeos do princípio de um tornado no Estado de Pernambuco. Tornado no Brasil? E nevar em pleno início de verão tupiniquim é normal? Isto também já aconteceu nos últimos meses por aqui.

António Guterres citou as tragédias ambientais em seu contundente e necessário discurso para os líderes da economia global. E foi além: "Estamos flertando com o desastre climático. Toda semana testemunhamos uma nova história de terror climático. As emissões de gases de efeito estufa estão em níveis recordes. O compromisso de limitar o aumento da temperatura global a 1,5° C está virando fumaça. Sem mais ações caminhamos para um aumento de 2,8° C. As consequências serão devastadoras. Várias partes do nosso planeta serão inabitáveis. E para muitos esta é uma sentença de morte".

E é bom que se saiba que a badalada solução para esses problemas, a mobilidade sem emissões, está trilhando o mesmo caminho. Empresas e a sociedade cometem o mesmo erro com a novidade da indústria automotiva, os veículos eletrificados.

De um lado não há transparência sobre os [imensos] impactos da utilização e no descarte de materiais raros utilizados nas tecnologias eletrificadas e na produção desses novos veículos. Tampouco uma ideia clara ou legislação que possa definir a forma como será gerada a energia necessária para milhões de veículos elétricos nos próximos cinco, dez, vinte anos. Será que teremos, apenas em 2050, alguém dizendo que carros elétricos destroem o planeta?

A realidade mostra que, por enquanto, países como a Alemanha estão expandindo minas de carvão para gerar energia elétrica. A jovem ativista sueca Greta Thunberg foi, na quarta-feira, 18, retirada e presa durante algumas horas pela polícia alemã por protestar em frente a uma mina de carvão contra a expansão da produção.

Na quinta-feira Thunberg já estava em Davos, na Suíça, em evento paralelo ao Fórum Econômico Mundial jogando na cara dos líderes algo tão elementar quanto a necessidade de as empresas buscarem o lucro para sobreviverem: "Precisamos encarar a crise climática como uma crise".

Em um painel com o chefe da Agência Internacional de Energia ela disse que é um absurdo o que a indústria energética global faz sem pressão pública: "Essas pessoas vão o mais longe que puderem, desde que possam se safar. Eles continuarão investindo em combustíveis fósseis, continuarão jogando as pessoas debaixo do ônibus para seu próprio ganho".

Se você chegou até aqui, nobre leitor, saiba que seu interesse por este tema precisa se transformar em atitude. Este é o momento para o consumidor exigir das empresas, em todos os setores, não apenas o de energia ou automotivo. Exigir que os meios de produção, os insumos utilizados e as formas de descarte desses produtos causem o menor ou, de preferência, nenhum impacto no planeta.

Trata-se de uma regra que todos deveriam adotar em sua jornada de consumo. O produto ou serviço que não demonstre claramente o que é feito para preservar a nossa casa, o planeta e as espécies que aqui habitam, ficará fora das opções de compra. Parece complicado, mas é uma atitude muito simples.

Caso seja algo praticado por todos nós ficaria mais fácil atribuir as responsabilidades a executivos e empresas, assim como feito com a indústria de tabaco, que também escondeu os problemas de saúde causados pelo produto que comercializavam. Guterres, da ONU, fez esse paralelo em seu discurso: "Assim como a indústria do tabaco, eles [os produtores de combustíveis] passaram por cima de sua própria ciência. As Big Oil venderam uma grande mentira. E, como a indústria do tabaco, os responsáveis devem ser responsabilizados. Hoje os produtores de combustíveis fósseis e seus facilitadores ainda estão correndo para expandir a produção, sabendo muito bem que seu modelo de negócios é inconsistente com a sobrevivência humana".

Diante de presidentes de bancos, de grandes empresas e da elite econômica mundial presente em Davos Guterres continuou afirmando que devemos acabar com o nosso vício em combustíveis fósseis e "parar nossa guerra autodestrutiva contra a natureza".

A mesma ideia autodestrutiva deve ser transportada para os veículos elétricos. Por razões óbvias.