Queremos mesmo o fim dos combustíveis fósseis?
Em meio a uma ofensiva da eletrificação da mobilidade nos maiores mercados globais, e mais recentemente também aqui no Brasil devido ao aquecimento global, que, dentre outros fatores, está literalmente fritando os oceanos e o Hemisfério Norte neste verão, pode-se afirmar que os combustíveis fósseis ainda são protagonistas e não estão no centro da agenda de descarbonização do planeta.
Sinal contundente veio esta semana com a falta de comprometimento da Cúpula da Amazônia em Belém, PA, quando a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica [OTCA], composta por oito países [Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela], não incluiu na carta chamada Declaração de Belém qualquer menção ao fim da utilização de combustíveis fósseis como forma de reduzir os gases de efeito estufa na atmosfera, especialmente o CO2.
Nem mesmo a forte atuação de movimentos sociais, ONGs e indígenas nas ruas de Belém pedindo para que neste encontro histórico fossem apresentadas ações contundentes para acabar com a supremacia dos combustíveis fósseis foi suficiente para que o documento final incluísse o tema como uma das cem prioridades para o futuro do ecossistema amazônico.
A foz do rio Amazonas é a próxima fronteira da exploração de petróleo no País e o atual governo brasileiro já deu sinais de que tem interesse em que este projeto vá adiante. Inclusive o presidente da Petrobras participou de encontros durante o evento no Pará defendendo abertamente a possibilidade de exploração de petróleo na região.
Outro personagem importante para o futuro da descarbonização que participou de algumas reuniões esta semana na Cúpula da Amazônia foi Sultan Al-Jaber, CEO da Adnoc, a petroleira estatal dos Emirados Árabes Unidos. Doutor Sultan, como gosta de ser chamado, não à toa, será o presidente da próxima Conferência do Clima da ONU, a COP 28, a se realizar em novembro, em Dubai, maior cidade dos Emirados Árabes Unidos.
O jornal britânico The Guardian publicou no início do mês documentos sigilosos relacionados aos preparativos para a COP 28 e as mensagens-chave que deverão ser utilizadas durante o encontro. Não há referências aos combustíveis fósseis, óleo e gás nas narrativas que devem fazer parte dos discursos e documentos da próxima COP.
O Observatório do Clima, organização da sociedade civil brasileira, revelou em seu site este caso às vésperas da Cúpula da Amazônia e da chegada do doutor Sultan no Brasil, acrescentando que os Emirados Árabes Unidos têm um dos maiores planos de expansão de produção de petróleo do mundo - informação também atribuída ao The Guardian.
Ainda nesta semana a Anfavea apresentou balanço de vendas e separou um capítulo especial desses dados para o licenciamento dos veículos com "novas tecnologias de propulsão". No acumulado do ano foram emplacados 35 mil automóveis e comerciais leves híbridos e 4,7 mil 100% elétricos no Brasil. Uma fração do total: foram vendidos, por enquanto, 1,2 milhão de veículos no Brasil este ano.
Mas enquanto a indústria automotiva por meio de seus líderes diz todos os dias que o "futuro será elétrico" outro caso curioso surgiu há duas semanas na Alemanha. O órgão regulador da rede elétrica do país afirmou que pode limitar o fornecimento de energia para abastecer carros elétricos.
O governo alemão precisa expandir a rede elétrica e atualizar este sistema que não está preparado para alimentar dispositivos que consumam muita energia. E assim os carros elétricos, em uma situação de emergência energética no país europeu do automóvel, poderão ficar sem combustível.
Com tantos sinais na contramão da descarbonização e da eletrificação da mobilidade será mesmo que queremos o fim dos combustíveis fósseis?
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