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Fiat Uno: participamos da montagem das últimas unidades do histórico carro

Colunista do UOL

22/12/2021 04h00

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Acostumado a ficar atrás das últimas novidades do mundo automotivo, sempre fico atento aos carros que estão por vir. Entretanto, no fim de novembro recebi um convite diferente: fui chamado para participar da despedida de um veículo icônico que marcou gerações no Brasil.

A Fiat me chamou para montagem do último lote do Uno Ciao, série de encerramento da produção do compacto no Brasil.
Depois de 37 anos, o Uno deixará as linhas de produção de Betim (MG) para entrar para a história da indústria brasileira. Para marcar o momento, a edição Uno Ciao será limitada a 250 unidades. O preço sugerido será de R$ 84.990.

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A série histórica tem a carroceria na cor Cinza Silverstone e o teto em Preto Vulcano. Cor que também é replicada na capa dos retrovisores. O visual externo ainda conta com rodas de liga com acabamento em grafite e adesivos nas laterais, na porta dianteira fica estampado o Uno Ciao, na traseira está grafado em italiano "La Storia di Una Legenda" - "a história de uma lenda" no português.

Como é de praxe, as séries especiais agregam mais equipamentos. O Uno Ciao é baseado na versão Attractive e vem equipado de série com ar-condicionado, direção hidráulica, quadro de instrumentos com tela de LCD, computador de bordo, sistema de som com rádio bluetooth e entrada USB.

Traz ainda airbag duplo, travas e vidros elétricos dianteiros com one touch e antiesmagamento, gancho universal para fixação de cadeira infantil (Isofix), limpador, lavador e desembaçador do vidro traseiro, freios ABS com EBD, cinto de três pontos e encosto de cabeça para todos os ocupantes, bancos traseiros bipartidos e rebatíveis. A série ainda conta porta-trecos no teto e retrovisor central adicional para monitorar a turma do fundo.

Mas, como disse no título dessa coluna, tive a oportunidade de participar e acompanhar algumas das etapas do processo de montagem. Fui testemunha de um dos momentos históricos da indústria automotiva brasileira. Afinal, dos 45 anos da Fiat no Brasil, o Uno participou ativamente de 37 anos. A história do Uno e da Fiat se misturam e um estará sempre ligado ao outro.

Montando o Uno Ciao

A história começa nas prensas, onde os funcionários devem usar uniformes com a camisa de manga comprida, luvas especiais e um avental. Neste local, pude vistoriar um capô do Uno Ciao. O trabalho é árduo e exige extrema atenção não só para vistoriar as peças como também para evitar acidentes.

Das prensas, fui para funilaria, local onde são montadas as carrocerias. O processo é quase todo automatizado. Lá presenciei o início da fabricação das últimas unidades do Uno.

Participei da produção do último lote no dia 9 de dezembro, mas as últimas unidades de fato foram fabricadas entre os dias 13 e 15 de dezembro. Aqui, o Uno já começa a tomar forma, pois a carroceria já conta com portas, capô e tampa do porta-malas.

Em seguida, estou em uma área que antecede a pintura. Nesta fase da produção, são aplicados os selantes nas junções da carroceria para evitar futuras infiltrações de água no habitáculo do Uno Ciao. Com um pincel em mãos, fui incumbido de aplicar o isolante na junção da lateral com o teto. Falando assim pode até parecer fácil, mas é um trabalho manual que exige muita atenção.

No assoalho, são robôs que, em um ritmo de um balé, fazem a aplicação do isolante acústico para diminuir o barulho no interior do hatch. Devido a toda complexidade do processo de pintura no qual são aplicados o prime, a pintura e o verniz que exigem a secagem em fornos não foi possível acompanhar a execução.

Aproveitei a parada para o almoço para bater um papo com o engenheiro Sílvio Piancastelli, gerente de desenvolvimento de produto da Stellantis. Ele foi um dos pais do Uno, ao lado de outros engenheiros como o Robson Cotta, que se aposentou recentemente.

Sílvio nos conta que o Uno chegou a ser testado no Polo Norte. Lá nas pistas de gelo foram desenvolvidos seu sistema de freios ABS, entre outros recursos tecnológicos.

Alimentado, segui na labuta. Com as carrocerias pintadas, estou na montagem final, na linha de produção 1. Nela, o compacto recebe todas suas peças para ganhar as ruas.

Fui treinado por um funcionário para "batizar" o Uno. Com o gabarito em mãos aplico seu nome na tampa traseira. A Fiat resgatou o primeiro logo da segunda geração e cada letra recebeu as cores da bandeira italiana.

A linha de produção tem ritmo alucinante, lá dependendo da montagem, os profissionais trabalham ora andando para frente ou dando passos para trás.

Além do logo, ajudei a instalar o para-brisa, outra função que é necessária extrema atenção. Como o vidro é colado, o encaixe tem que ser perfeito, caso contrário, a peça poderá ficar mal encaixada. O processo é finalizado com pequenas batidos no vidro.

Ainda instalei a lanterna traseira que exige habilidade para seu correto encaixe. E tudo tem que ser feito com leveza, afinal uma força extra pode acabar quebrando a peça.

Ao fim do processo, retiro o hatch da linha 1. A série de despedida Uno Ciao está quase completa, mas os adesivos e sua numeração de 1 a 250 são instalados em outro local.

Depois de pronto todo Fiat dá uma volta na pista de testes para sua verificação final. E é claro que lá fui eu dar uma volta com o Uno Ciao. Não é comum andar em pista de teste de fabricante, mas a minha primeira volta em uma, foi justamente na da fábrica de Betim (MG), onze anos antes, quando guiei a segunda geração do Uno antes de seu lançamento oficial.

Um filme passa pela minha cabeça e mostra como o tempo voa. Lembro dos Uno que já tive. No total foram sete, sendo quatro da primeira geração e três da segunda.

Guiei o Uno com todo o cuidado, afinal são unidades que vão entrar para história e será um momento que guardarei para sempre em minha memória.

Das 250 unidades do Uno Ciao que foram produzidas, a Fiat pegará a última que em vez do número 250 receberá a marca de 4.379.356, que representa a soma de produção das duas gerações.

Termino meu dia de trabalho, feliz por ter feito parte de um dos momentos mais históricos da indústria automotiva brasileira. Não há dúvidas de sua importância para o mercado.

Me despeço por aqui, e agradeço ao Uno por tudo, inclusive por ter sido testemunha de momentos importantes da minha vida. Cito entre eles, a participação efetiva na conquista da minha habilitação, por ter sido meu companheiro nos tempos de estudante de jornalismo até a minha formatura, entre outros momentos marcantes da minha história.

Obrigado, Uno Ciao!

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