Caçador de carros: Opala, 50 anos, é o carro de luxo mais querido do Brasil
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Clássico da GM celebra cinquentenário com legião de apaixonados
Não, você não leu errado. O Opala foi durante seus 24 anos de vida (1968-1992) e mantém até hoje o status de carro de luxo mais querido do Brasil.
Se alguém contestar isso, é porque nunca andou ou conversou com um dono de Opala. Tão simples quanto isto.
Nesse mês de novembro, começo uma série de colunas dedicadas aos carros antigos que marcaram época. Toda última semana do mês, você vai voltar no tempo com algum carro clássico.
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Para iniciar essa série, neste novembro de 2018, a escolha não poderia ser outra que não o Chevrolet Opala. O grande sedã da GM nasceu há exatos 50 anos, em uma época que tínhamos pouquíssimas variedades de carros de passeio à disposição.
Mas queria ir além de escrever sobre o carro. Decidi procurar por histórias de donos de Opalas. Histórias reais de quem tem, gosta e usa o carro -- aqueles impecáveis com baixíssima quilometragem e que passam a vida debaixo de capas ficarão para uma próxima.
Nada contra quem vê em carros antigos oportunidade de investimento, mas não era este o foco. Precisava entender os motivos que fazem uma pessoa gostar tanto desse carro, mesmo tanto tempo depois de ele ter saído de linha.
Não foi difícil
Afinal, não faltam entusiastas do modelo. Particularmente, eu não sentia nada além de respeito pelo Opala. Tinha 10 anos quando ele saiu de linha e nunca tive um na garagem. Naquela época, ele já não tinha o mesmo glamour, pois concorria com carros mais modernos, tanto em concepção mecânica quanto em design.
Quando partiu, abriu caminho para o Omega, considerado por muitos o melhor carro nacional de todos os tempos. O sucesso do Omega ajudou seu esquecimento, e por um tempo o Opala virou até motivo de piada para alguns.
Quanto tirei minha habilitação, os Opala mais novos já beiravam 10 anos de vida. Eram apenas carros velhos, grandes e beberrões que ninguém queria. Junto com seus parceiros de época, os Ford e Dodge com motores V8, esses carros ficaram por anos no ostracismo com valores baixíssimos de mercado.
Para a nova geração de motoristas que viria, não fazia o menor sentido ter esses carros. Porém, o cenário mudou completamente: hoje eles estão cada vez mais caros. É impressionante os valores que estão atingindo no mercado de usados. Até mesmo aqueles que não estão em bom estado são caros.
Para eu poder entender o que está acontecendo, conversei com Alexandre, dono de um Opala L 1982 caracterizado de SS; com Anderson, que tem um Opala Diplomata 1989; e com Rafael, também proprietário de um Diplomata 1989, mas com câmbio automático.
Será que eles me convenceram a ir além do respeito para passar a idolatrar esse carro?
Identidade
Alexandre cresceu dentro de Opala. Seus pais tiveram alguns ao longo da sua infância. Além disso, ele se encantava com as antigas corridas de Stock Car, quando ainda eram feitas com Opalas de rua preparados. Ele tem uma oficina mecânica em São José dos Campos (SP). Aprendeu com seus antepassados, também donos de oficinas, tudo sobre mecânica. Inclusive, carrega um ensinamento do avô de que carro bom é carro simples.
Tudo isso criou o que ele chama de "identidade". Tem noção de que os carros atuais são melhores em diversos aspectos, mas se identificou tanto com os antigos que não se incomoda de andar no dia a dia com seu Opala 1982 -- mesmo sentindo falta do conforto de um ar condicionado, desfila com seu carro por puro prazer em ouvir o ronco e sentir as acelerações.
Desde que comprou o modelo, há mais de 20 anos, desmontou e o montou várias vezes. Ele era branco, virou vermelho. Era "L", virou "SS". O interior tem bancos esportivos que combinam preto com vermelho. O motor quatro-cilindros foi todo modificado e hoje rende em torno de 150 cv. Para ele, vender esse carro é abrir mão da sua identidade.
Para ele, não faz sentido ir na padaria com um carro novo, prata, silencioso e eficiente. Tem que ir fazendo barulho e chamando atenção. Eu dei uma volta com seu Opala e comecei a entender tudo que ele dizia... Impossível não sorrir nas aceleradas. Veja o vídeo no topo desta página.
Viciante
Já Anderson eu conheci no início desse ano. O quase "quarentão" com voz de locutor de rádio contratou meu serviço para avaliar um BMW 740i 1996. "Quem é esse maluco que quer uma barca alemã de 20 anos com motor V8?", pensei.
Porém, seu grau de insanidade não para por aí, pois depois de um tempo ele confessou ser dono de outros dois Opala. O primeiro, um cupê 1975, comprado há 13 anos, que está virando um hot hod com motor V8.
O segundo, um Diplomata 1989, comprado há 5 anos por conta na demora em finalizar o projeto do 1975. Ele diz que não aguentava mais ficar sem Opala.
No dia que entreguei o BMW, perguntei se iria se desfazer dos Opala e ouvi uma gargalhada. "Não dá, é viciante", afirmou com sua voz de Cid Moreira. Passados alguns meses, fui atrás dele para escrever essa coluna.
A princípio, achou que não faria sentido, pois seus carros são usados constantemente e não preservam originalidade. Insisti, pois sabia que não era isso que estava buscando. Os carros do Anderson seriam perfeitos para eu entender a paixão que existe por Opala.
Ao chegar em Caraguatatuba, litoral norte de SP, lá estava ele em frente sua casa passando "pretinho" nos para-choques do Diplomata. Aos poucos fui vendo que, de fato, seu carro preserva algumas marcas do tempo.
Um "podrinho" aqui, um rasgado no banco ali, mas nada que tirasse sua beleza. O melhor ainda estava por vir. "Liga a criança, Felipão", autorizou o sorridente dono do Opala. Depois de ouvir o ronco, é difícil ficar indiferente com o som vindo do escapamento. Fui desligar e ele disse: "Não precisa, deixa a criança mamar um pouquinho".
Pronto, era isso! Captei a mensagem! Opala é prazer em ouvir o ronco, não importa o quanto está sendo injetado de gasolina (o Diplomata do Anderson tem injeção eletrônica). Saímos e tive o prazer de ir guiando.
Fiquei impressionado com o torque do motor seis-cilindros. Passei por lombadas na quarta e última marcha, voltei a acelerar e o carro não pediu a terceira. Chegamos na orla de Caraguá e o vírus do Opala já estava conseguindo me pegar. É o segundo vídeo desta página.
Mão na massa
O terceiro personagem é de São Vicente, litoral sul de São Paulo. Rafael também é amigo de Anderson. Gentilmente, topou ir até Caraguá para gravarmos juntos. Ao chegarmos na orla com o Diplomata do Anderson, lá estava Rafael e seu Diplomata automático.
Saí de um carrão honesto com muita história para entrar em outro que parecia ter saído da fábrica -- Rafael gosta de preservar a originalidade.
Nos cinco anos que está com o seu, fez praticamente tudo que envolve a parte mecânica com as próprias mãos. Anderson gosta de tirar um sarro do amigo que, diferente dele, pouco sai com o carro da garagem. É disso que ele gosta: passar horas com o carro no cavalete, trocar freio, suspensão, ajustar motor e tudo que estiver ao seu alcance.
O Diplomata de Rafael divide espaço com outros carros modernos na garagem, usados por ele e sua esposa. Mas em nenhum outro é possível colocar tanto a mão na massa. A simplicidade mecânica do Opala permite que qualquer pessoa com o mínimo de conhecimento, ferramentas e coragem possa se aventurar em suas entranhas, mesmo que seja em casa.
É como um brinquedo de adulto que, convenhamos, está em extinção. No final da gravação, ele fez questão de liberar o carro para que eu desse umas voltas. Bastou sair com ele para sentir uma dirigibilidade muito próxima de qualquer carro atual -- o motor é liso, suave, forte; a suspensão é macia e o câmbio automático de quatro marchas é perfeito.
Enquanto desfilava, pessoas em volta olhavam para o carro. Um motociclista encostou do meu lado elogiando e pedindo informações. É impressionante como Opala chama atenção. O Diplomata do Rafael foi a cereja do bolo que eu precisava para entender a essência do Opala e concluir que sim, agora eu quero um.
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