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Caçador de Carros

Test drive: o que você precisa observar e testar antes de comprar um carro

Luiz Carlos Murauskas
Imagem: Luiz Carlos Murauskas

Colunista do UOL

23/04/2020 04h00

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Quando avalio um carro usado, o test drive é a penúltima etapa. Somente depois de verificar funilaria, pintura, estrutura, mecânica, interior e documentação que eu sigo para andar com o veículo. Por mais importante que essa etapa seja, não tem sentido fazê-la em um carro reprovado nas etapas anteriores.

A última etapa é a negociação, que também depende de todas as outras para fazer algum sentido. Não é prudente fechar um negócio sem antes dar umas voltinhas para saber se existe algum problema mais grave com o carro.

Já deixei de comprar para clientes carros aparentemente impecáveis, mas que se mostraram ruins de guiar, com problemas mecânicos que inviabilizavam a aquisição.

É preciso levar em conta que você vai passar muitas horas da sua vida dentro do carro. Por isso, a primeira coisa a se fazer na hora do teste é ajustar as posições de banco, volante, cintos de segurança e espelhos. Depois disso, verifique se tudo está confortável e ao alcance das mãos.

Ligue o carro, mas com ele ainda parado, pise nos pedais algumas vezes para sentir se há vibração ou excesso de peso, principalmente na embreagem. Este é um componente geralmente caro, mas de fácil reparo. Se esse pedal estiver muito pesado, só vale a pena seguir com o negócio caso o vendedor baixe a pedida.

Se sentir vibrações, pode ser problema nos coxins do motor. Em seguida, engate todas as marchas com certa rapidez e verifique se há sincronismo. Não pode haver folgas, imprecisão nos engates ou ruídos estranhos.

Nos carros automáticos, verifique se tem algum tranco na mudança da alavanca de "P" para "R" ou "D". Caso isso aconteça, pode ser problema em algum coxim do câmbio. Observe se a seleção das posições da alavanca são as mesmas que aparecem no painel. Quando tem folga no cabo desse seletor, pode ser que o câmbio ainda esteja no "N", mesmo que a alavanca esteja no "D".

Um teste importe, conhecido como "stall test", serve para saber se o câmbio está patinando. Para isso, é preciso colocar em "D", acionar o freio com o pé esquerdo, e acelerar até o fim com o pé direito. Observe a rotação do motor no conta-giros, que não pode passar muito da faixa dos 2 mil rpm.

Ainda parado, esterce o volante de um lado para o outro mais de uma vez. Aqui também não deve haver folgas ou acontecer estalos que possam indicar problemas na caixa de direção - um reparo oneroso. Teste buzina e se todos os comandos funcionam bem.

Se o motor estiver frio, você até pode sair com o veículo de imediato, mas é possível que ocorram oscilações na rotação do motor ou falhas em acelerações - situações toleráveis pelo menos até o momento em que o motor atinja a temperatura ideal, depois de alguns minutos.

Com o carro em baixa velocidade, verifique se tem alguma vibração quando é colocado carga no acelerador. Isso pode indicar problemas nas trizetas.

Enquanto estiver guiando, desligue o som e o ar-condicionado e fique atento a qualquer ruído estranho. Dirija por ruas mal pavimentadas para que a suspensão possa trabalhar bastante e indicar eventuais folgas ou barulhos. Esse é um sistema complexo, com muitas peças caras. Portanto, descarte um carro com suspensão ruim.

Passe com o carro na diagonal em valetas e, nesse momento, esterce o volante para os lados. Tente identificar algum possível estalo vindo das rodas. Isso pode sinalizar problemas nas juntas homocinéticas.

Em uma via bem pavimentada e sem curvas, solte as mãos do volante por alguns segundos e verifique se o carro se mantém em linha reta. Caso ele puxe para os lados, um simples alinhamento pode ser a solução. Mas atenção: isso também pode ser problema estrutural, proveniente de alguma batida. Fique esperto!

Dificilmente você terá a oportunidade de pegar uma rodovia, considerando que, geralmente, o test drive é curto. Assim, tente dar umas aceleradas mais fortes para sentir se a resposta do motor é imediata, linear e suave. Nessas acelerações, repare também se há algum indício de escapamento furado.

Ao pisar no freio, verifique se a resposta é imediata ou se existe algum atraso, por conta de uma folga no pedal do freio. Observe possíveis barulhos e chiados, que podem indicar que os componentes estão no fim da vida.

Procure desacelerar diversas vezes, pisando no freio e na embreagem. É comum que carros com falhas no sistema de injeção eletrônica "apaguem" nessas desacelerações. Se isso acontece, somente um mecânico com um computador conectado ao veículo vai poder dizer a causa, que pode ser uma simples sujeira ou problemas em sensores mais caros. Descarte, também, carros com esse tipo de falha.

No caso dos carros com câmbio automático, as trocas de marchas precisam ser suaves, sem nenhum tranco. Tente contar as mudanças, para saber se todas elas estão entrando perfeitamente. Se o câmbio for equipado com a opção de trocas manuais, não se esqueça de testar essa função.

Os mostradores merecem atenção no test drive, pois podem indicar alguma anomalia. Quanto mais moderno o carro, maior o número de informações. Se atente a elas e, caso não entenda o aviso, procure no manual do proprietário para ter certeza do problema.

Infelizmente, nem todo vendedor deixa o potencial comprador fazer o test drive. Em geral, particulares são mais receptivos. Mas, se o ponto de encontro for um estacionamento de shopping ou mercado, exija que também possa dirigir em vias próximas, uma vez que não será possível testar bem o carro somente nesses espaços.

Quanto aos revendedores, muitos deles não liberam os veículos e ainda tentam convencer o cliente que, se surgir algum problema, farão o devido reparo. Não caia nessa! Discursos assim costumam mudar - e muito - depois que você já fechou negócio.

Se você seguir essas dicas e o carro não apresentar os possíveis problemas apontados, provavelmente fará um bom negócio caso opte pela compra.