Por que é quase impossível encontrar um carro usado bom e mega barato
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Quem acompanha o mercado de carros usados, em especial de veículos com uns bons anos de vida, está sempre procurando uma "sarna para se coçar". Ou seja, em vez de buscar algo mais produtivo e racional para fazer, sonha com um antigo que certamente vai tomar seu tempo livre.
Calma, não entenda como uma crítica. Na verdade, está mais para uma autocrítica, já que me encaixo nesse perfil. Como o caro leitor sabe, sou uma dessas pessoas que respira carro, todos os dias, e os 'antiguinhos' têm espaço reservado no meu coração.
Recentemente, coloquei na cabeça a ideia de pegar um carro de até R$ 5 mil, para poder reformar e registrar todo o processo aos meus seguidores. A primeira a torcer o nariz foi minha esposa, que nem de longe tem a mesma paixão que eu tenho pelos carros.
Já temos o nosso velhinho, que inclusive está na UTI desde o ano passado, nos dando gastos desnecessários. Isso porque não é nosso carro de uso diário e, de forma racional, nem faz sentido continuar mantendo-o em nossas vidas. Porém, depois de pronto, dá uma satisfação enorme e os momentos de dores de cabeça passam na hora. No fim das contas, para quem gosta, sempre vale a pena.
Enfim, já que ela não curtiu, busquei uma zona de conforto, que no nosso caso são os amigos que pensam como nós. Nenhum deles quis tirar a ideia da minha cabeça. Pelo contrário, incentivaram e começaram a me ajudar na busca da cobaia para o projeto. Pois é, como nossa mãe sempre diz, cuidado com as amizades.
Com isso, o passatempo das últimas semanas tem sido esse. Só que não está sendo nada fácil. Procurar um carro minimamente razoável, que custe no máximo R$ 5 mil, é uma tarefa dificílima. Logo eu, que já gravei conteúdo para o meu canal dizendo que não vale a pena comprar carros usados de R$ 7 mil, decidi embarcar em um projeto com grau ainda maior de dificuldade.
Enquanto o pretendente não está incomodando na garagem, posso dizer que tem sido divertido. Isso mesmo: difícil, mas divertido. Os anúncios desses carros baratos são os mais engraçados que podemos encontrar nos classificados e, por vezes, segue uma tendência.
1- Débitos pendentes
Palio só para rodar. Chevette para andar na roça. Ka atrasadinho. Esses anunciantes podem ser criativos com os títulos, mas não dá para dizermos que são bons pagadores. É impressionante a quantidade de carros que estão com débitos que ultrapassam o valor de mercado do próprio carro.
Com isso, passa a não valer a pena regularizar esses veículos, que rodam na sorte de não serem pegos pelas autoridades. Obviamente, não recomendo que o leitor embarque nessa, afinal de contas, cedo ou tarde, o dono de um carro como esse vai se dar mal.
2- Procedência duvidosa
Boa parte dos anunciantes deixa claro que o DUT está em branco, ou seja, o Documento Único de Transferência não está preenchido no nome de ninguém e o carro pode ser transferido a qualquer momento. Ótimo, uma coisa a menos para o comprador se preocupar.
Porém, é comum nos anúncios de carros baratos, o documento estar preenchido no nome de um terceiro, que as vezes o vendedor nem conhece. Claro que está tudo errado e não recomendo que ninguém arrisque entrar nessa cilada.
3- Problemas mecânicos
É de se esperar que um carro barato tenha problemas mecânicos. Se não tiver, me avise que vou lá comprar. O que devemos nos atentar é quanto a gravidade e a complexidade desse problema. Nessa minha procura de um carro de R$ 5 mil, estou dando preferência para mecânicas simples e comuns no nosso país.
Os campeões, pelo menos na minha opinião, são os robustos motores das famílias 1 e 2 da Chevrolet e os famosos AP da Volkswagen. Correndo por fora, os econômicos CHT da Ford e os eficientes Fiasa da Fiat. Esses motores são conhecidos de qualquer mecânico no país.
A facilidade e o baixo custo da mão de obra são pontos fortes na escolha de um carro barato. Ou seja, mesmo com problemas, nem sempre é preciso muito investimento para deixá-los novamente confiáveis.
4- Estrutura
Quanto mais antigo o carro, maior a chance de sua estrutura estar comprometida. Normalmente, eu diria que apenas uma forte colisão pode afetar a estrutura de um carro, mas nesses antiguinhos o tipo de uso e o tempo costumam ser cruéis. Alguns modelos são famosos por apresentar trincas em determinados pontos da carroceria.
Não é fácil descobrir isso, já que por vezes está escondido em alguma parte de difícil acesso do carro. Esse é um ponto que me preocupa bastante, e é das primeiras perguntas que faço ao vendedor.
Além disso, tem os famosos "podres", que são pontos de ferrugem. É uma praga que se alastra e parece não ter fim, inviabilizando o projeto.
Com isso, tenho deixado de lado os carros dos anos 80 para baixo. Mas, para minha surpresa, tenho visto que muitos dos anos 90 também estão sofrendo com isso. Pois é, disse que não estava sendo fácil.
5- Reformas mal feitas
Desconfie de carros que aparecem brilhantes e reluzentes nas fotos. "Como assim?", deve ter pensado o leitor. Meu amigo, estamos falando de carro barato, e se ele está bonito nas fotos é porque tem coisa errada.
São grandes as chances da pintura ter sido toda refeita, algo que pode parecer inofensivo, mas pense que o custo da funilaria e pintura de um carro costuma ser o processo mais caro de uma reforma ou restauração. Se o veículo passou por isso e está sendo anunciado por um preço baixo, é porque o serviço foi feito de uma maneira econômica, ou seja, sem capricho algum.
Não vai demorar para a massa plástica utilizada na carroceria começar a trincar, por vezes revelando ferrugens que foram apenas escondidas, ou para a pintura começar a queimar. Eu prefiro pegar um velhinho com pintura feia, porém original, assim tenho a opção de escolher o tipo de serviço que será feito.
6- Esqueça o ar-condicionado
Ele pode até aparecer na descrição do anúncio, seus botões podem estar no painel e seus periféricos no cofre do motor. Mas as chances de você conseguir um carro barato que tenha o ar-condicionado funcionando são mínimas. E não caia no conto do "só falta colocar o gás", pois nunca é apenas isso.
O ar-condicionado é um sistema que depende do uso contínuo para seu bom funcionamento. A falta de uso faz com que ele deixe de funcionar, e o reparo é caro, motivo da maioria dos donos de carros baratos optar por não arrumar. Se você está atrás de um carro barato, esqueça esse conforto.
7- Pneus
Eu nem pergunto sobre os pneus, pois sei que um carro barato não os tem em boas condições. Torça para que exista alguma borracha ao redor da roda, sem me preocupar com a qualidade. Mas é claro que não estou dizendo que você deve rodar com eles assim. Das duas, uma: ou você reserva uma parte do orçamento para os pneus, ou capricha no item abaixo.
8- Negociação
Estou acostumado a negociar carros com valores maiores, em que o desconto na negociação é algo comum. O valor do "choro" depende da condição do carro e também do preço dele. Faz sentido pedir R$ 2 mil de desconto em um carro de R$ 50 mil, assim como pedir R$ 10 mil em um de R$ 150 mil.
E em um carro barato, quão cruel dá para ser com alguém que já está pedindo bem pouco pelo carro? Depende do quanto precisará ser investido nele. Para isso, a avaliação tem que ser muito bem feita, assim você minimiza as surpresas.
9- Golpes
Eles estão lá nos classificados, e infelizmente algumas plataformas pouco fazem para inibi-los. Se eu acessar agora, nesse exato momento, sei que vou me deparar com alguma relíquia com valor bem atrativo. Nem perco meu tempo tentando entrar em contato com o vendedor, pois é certo que se trata de um golpe.
Meu amigo, não seja ingênuo. Com tantas referências de preço, não é possível que alguém que tenha um bom carro aceite vender por uma parcela daquilo que ele vale de fato.
Isso se estende aos que colocam condições para lá de atrativas, como simulação de financiamento com juros irrisórios, garantia maior que a estabelecida por lei, frete grátis ou pagamento de valor da Tabela Fipe em um possível carro que estiver entrando na troca. Claro que é golpe. Melhor virar a página e ir para o próximo anúncio.
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