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Caçador de Carros

Opcionais: quando valem a pena e quais valorizam seu carro na revenda

Letícia Moreira/Folhapress
Imagem: Letícia Moreira/Folhapress

Colunista do UOL

10/09/2020 04h00

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Estou com um Honda City na garagem, que ficará comigo nos próximos dias. Trata-se da simples versão LX, uma das mais baratas do modelo, que dependendo do ponto de vista decepciona na oferta de equipamentos de conforto e segurança.

O Honda City LX custa R$ 78.300, sem contar com central multimídia, airbags laterais e controles de estabilidade e tração. Por apenas R$ 2 mil a mais, a Volkswagen oferece o Virtus MSI automático com todos esses equipamentos. Ou seja, a Honda cobra caro pelo simples City.

Porém, como eu disse, dependendo do ponto de vista, alguém pode enxergar nesse Honda um carro com boa relação custo/benefício. Ele é espaçoso, bem acabado, com mecânica robusta e com os principais itens de comodidade, como ar-condicionado, direção elétrica, sistema de som e conjunto elétrico de vidros, travas e retrovisores.

Não posso esquecer da transmissão automática, item indispensável no segmento. Sendo assim, é um carro digno, que atende as necessidades da maioria das pessoas, além de ter ótima liquidez no mercado de usados.

Segundo a Tabela Fipe, um City LX 2019 vale R$ 64 mil, enquanto o Virtus MSI automático 2019 vale R$ 59 mil. Ou seja, as contas se invertem na hora da revenda, e o City passa a valer mais. Por mais estranho que possa parecer, nesse exemplo o mercado de usados valorizou mais o carro mais simples.

Em outro caso recente, em que tive a oportunidade de avaliar um VW Golf GTI 2014, algo sobre os equipamentos chamou minha atenção. O carro avaliado por mim tinha absolutamente todos os opcionais disponíveis para o modelo naquela época, o que acrescentava inacreditáveis R$ 37 mil em opcionais. Ou seja, esse carro que em 2014 custava R$ 95 mil sem opcionais poderia chegar a R$ 132 mil com todos eles.

Hoje, utilizando a Tabela Fipe como referência, o mesmo carro, independentemente de ter ou não os opcionais, vale R$ 85 mil, cerca de 10% menos. Mas esses opcionais não conseguem sustentar essa desvalorização, tanto que o carro avaliado por mim foi negociado por R$ 89 mil. Fosse considerar desvalorização igual para os opcionais, ele deveria valer cerca de R$ 118 mil no mercado de usados.

Podemos concluir que equipamentos e opcionais não sustentam o preço de um carro. Por mais completo que ele seja, o modelo em si é o que mais importa quando se fala em liquidez. O mercado valoriza o modelo e, o que vier a mais é lucro.

Sendo você comprador de novo ou usado, essa é uma dica importante caso queira valorizar seu dinheiro. Está claro que não vale a pena comprar um carro novo com opcionais livres. O melhor é optar por versões com pacotes fechados, pois essas sim continuam tendo referência de preço. Já no mercado de usados, é muito vantajoso procurar por carros com opcionais, já que se paga proporcionalmente mais barato por eles.

E quais são os equipamentos que valorizam os carros usados? Listei, junto com meus seguidores nas redes sociais, 8 equipamentos que fazem a diferença na hora de você vender seu carro.

Direção assistida (hidráulica ou elétrica)

Este é, disparado, o equipamento mais pedido pelo consumidor. Quem só conhece carros com direção sem assistência, seja ela hidráulica ou elétrica, pode pensar que é frescura.

Mas basta uma voltinha com um carro equipado com isso para nunca mais querer voltar para "musculação" do carro sem direção assistida. Revender um carro assim, só com um bom desconto. Afinal, o interessado pode conseguir algo similar e mais equipado pelo mesmo preço.

Ar-condicionado

Há alguns anos, o ar-condicionado era raro em carros de entrada. Mas hoje só passa calor quem quer. O mercado aproxima muito o valor de carros usados com ou sem esse equipamento.

Conheço muitas pessoas que dizem não usarem o ar-condicionado. Mas, mesmo assim, na hora de escolher um carro para comprar, recomendo que invista no ar-condicionado para não sofrer na hora da revenda.

Trio elétrico

O famoso trio é composto pelos vidros, travas e retrovisores elétricos. Todos esses são, indiscutivelmente, úteis como itens de conveniência. Porém agregam pouco no valor do carro.

É sempre melhor comprar um carro que os tenha instalado de fábrica. Mas um bom modelo de entrada sem esses equipamentos não deve ser desprezado.

Diferentemente da direção hidráulica e do ar-condicionado - equipamentos caros e complexos - o trio é barato e pode ser instalado depois da compra do carro sem grandes adaptações. De qualquer forma, é bem requisitado pelos consumidores de carros usados.

Central multimídia

Muitos não abrem mão de um sistema de som moderno, que tenha entradas auxiliares, bluetooth, câmera de ré, interface com celular e mais uma série de outras coisas.

Poucos carros têm de série. E, com exceção daqueles de marcas duvidosas, não são baratos de serem instalados. É um item que valoriza muito seu carro e pode ser determinante para o comprador optar pelo seu e não pelo de outro que não tenha.

Banco de couro

O banco de couro (ou sintético, na maioria das vezes) tem tido cada vez mais consumidores, que não aceitam mais sentar em bancos de tecido. A principal vantagem é a limpeza.

Infelizmente tenho visto couros de baixa qualidade, que mais parecem os antigos estofamentos de vinil. Assim como o sistema de som, pode ser fator decisivo na revenda sim, mesmo contra minha vontade, já que prefiro um bom e confortável tecido aveludado.

Equipamentos de segurança

Nosso mercado está amadurecendo nesse quesito, mas em passos lentos. Em países de primeiro mundo, há tempos os carros são equipados com vários airbags, freios ABS e controles eletrônicos de estabilidade e tração.

Por aqui, muito se fala entre as pessoas que acompanham o mercado de carros, mas pouco se vê na prática. O exemplo do Honda City no início da coluna é perfeito para comprovar que o consumidor nem sempre exige o equipamento, tanto que continua pagando caro e valorizando modelos que não são assim equipados.

Transmissão automático

Algumas categorias são "obrigadas" a ter câmbio automático. Sedãs médios e SUVs com câmbio manual são raros e ruins de revenda.
Se você é daqueles que não gosta de perder muito dinheiro na revenda, saiba que essa é uma tendência irreversível. E cada vez mais o consumidor quer se livrar do pedal de embreagem.

Teto solar

Acontece algo curioso no mercado de carros usados: se o consumidor opta por um modelo que tenha teto solar, ele não quer saber de versões sem esse opcional.

O VW Golf, já citado nessa coluna, e tantos outros modelos, como Jetta, Fusion, Azera, etc, sofrem com isso. Como o preço de tabela é o mesmo para as versões, quem tem teto solar se dá melhor na preferência do comprador de usados. Assim como sistema de som e estofamento de couro, pode ser a diferença entre vender ou não.