Carros de luxo usados: quando vale pagar "barato" e quais as "pegadinhas"
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Estava eu, guiando pelas ruas da minha querida Guarulhos, quando me deparo com um BMW diferente. O enorme sedã preto desfilava entre carros comuns, e certamente chamava a atenção de todos por sua beleza. Imediatamente identifiquei o modelo da Série 7, ou seja, a categoria dos sedãs mais luxuosos da marca alemã.
Fiquei curioso para saber o ano do modelo, mas como estava dirigindo não consegui registrar a placa. De qualquer forma, sei que era a atual geração, mas antes da recente e polêmica reforma em que a grade dianteira ficou desproporcionalmente enorme em relação ao carro.
Cheguei mais perto e notei que os vidros eram blindados. Apesar de não ser surpresa algo do tipo em um carro dessa categoria, fiquei um pouco decepcionado e comecei a refletir sobre o mercado de carros de luxo, suas vantagens, desvantagens, e outros pontos interessantes.
Como Caçador de Carros, costumo ter a oportunidade de avaliar muitos desses carros de luxo. Eles seguem alguns padrões no mercado de usados, mas já adianto que muito do que vou listar aqui é baseado na minha percepção. São pontos subjetivos, portanto é natural que minha visão não seja unânime.
Resto de rico
De uns tempos para cá, o termo "resto de rico" se popularizou e muitas pessoas resumem os carros de luxo assim quando entram no mercado de usados. Eu não gosto do termo, já deixei isso bem claro em outros conteúdos, mas a verdade é que ele existe.
Para os desavisados, ele é usado quando um carro de luxo entra no mercado de usados, já com um preço bem mais baixo que o de quando era novo. Se antes era um produto limitado a pessoas com muito dinheiro, agora pode ser adquirido por uma parcela maior da população. Ou seja, já não é mais um "carro de rico", mas sim um "resto de rico". Não uso o termo por respeito aos veículos, que para mim não são restos de nada.
De qualquer forma, reconheço que alguns modelos exigem contas bancárias com muitos dígitos por conta do alto custo de manutenção. Com isso, na medida em que o público que pode ter esse tipo de carro perde o interesse pelo tempo de uso, fica cada vez mais difícil encontrar alguém que queira assumir o compromisso de ter algo tão dispendioso na garagem.
Prazo de validade
Com poucos compradores no mercado de usados, percebo que o prazo de validade dos carros de luxo é pequeno, e está cada vez mais curto. Se por um lado eles são recheados de tecnologia, por outro essa complexidade contribui para que mais itens possam dar manutenção no futuro.
Por exemplo, até o final dos anos 80, o Chevrolet Opala era sinônimo de carro de luxo no Brasil. Décadas depois de ter saído de linha, o interesse por ele ainda é grande, pois o comprador calcula que é possível mantê-lo sem grandes problemas, já que é um carro simples, com muita mecânica e pouca eletrônica.
Com a chegada dos importados nos anos 90 e a própria modernização que a indústria nacional teve desde então, os carros passaram a ser cada vez mais complexos, com uma eletrônica tão refinada que exige módulos com alto valor agregado.
Quando esses componentes começam a apresentar problemas, um primeiro dono se esforça para arrumar, um segundo opta pelo caminho de uma gambiarra que solucione o problema apenas de imediato, e um terceiro decide abandonar o carro.
Se esse carrão de luxo for blindado, seu prazo de validade é ainda mais curto
Blindados
Boa parte dos carros de luxo é blindada. A proporção é maior nos grandes centros urbanos, como nas capitais de São Paulo e Rio de Janeiro, e tendem a ser menores em cidades mais tranquilas. Mas seja onde for, a tendência de blindar carros de luxo é cada vez maior e irreversível.
O motivo é óbvio, pois assim como o Série 7 que citei acima, esses carros chamam muito atenção, e seus donos não se sentem seguros dentro deles.
Entendo que possa ser um mal necessário, como é o seguro de carros. Mas, como um apaixonado por carros, lamento que a originalidade e a dinâmica desses carros tenham que ser comprometidas.
A manutenção da blindagem nunca é barata, e muitas vezes é feita da maneira errada. Chega um ponto que o carro já não vale mais nada.
Marcas mais estáveis
Ainda que os carros de luxo sofram desses problemas, algumas marcas surpreendem no mercado de usados e conseguem manter o interesse por seus carros.
É o caso da Mercedes-Benz, a primeira da lista na minha opinião. Modelos clássicos do passado vão muito bem no mercado de antigos pelos mesmo motivos do Opala que citei acima, a simplicidade mecânica. Mesmo os mais modernos, já com bastante eletrônica embarcada, conseguem sustentar bons preços de revenda.
Na minha visão, isso acontece por causa da força da marca. Mesmo uma pessoa com recursos limitados, mas que é apaixonada por carros, por vezes arrisca ter um carro da estrela de 3 pontas na garagem, ainda que esteja ciente de que, a qualquer momento, seu brinquedo pode acabar com suas finanças.
Em segundo lugar, vem o interesse pelos BMW, outra marca que consegue se manter bem no mercado de usados. Correndo por fora, marcas como Audi e Volvo vão bem no mercado de usados com poucos anos de uso, mas perdem interesse com o passar dos anos.
Vantagens
Diante de tudo que listei, parece que o mercado de carros usados de luxo é totalmente desvantajoso. Mas nem sempre é assim, e vai depender de como cada um de nós encara a necessidade de ter um carro assim.
Parece claro, pelo menos para mim, que são compras emocionais. Pensando de uma maneira racional, qualquer carro, por mais simples que seja, atende à necessidade básica de transporte, que é levar pessoas do ponto A ao ponto B. Mas temos necessidades diferentes, em que o luxo e o status podem ser mais importantes para um do que para outro.
Quem está nesse perfil vê no mercado de usados de luxo excelentes oportunidades, pois o preço é muito atrativo quando comparado com o mercado de novos. A desvalorização desses carros de luxo é consideravelmente superior. Um carro de meio milhão de reais pode valer metade disso em pouco tempo de uso, mesmo que esteja com baixíssima quilometragem.
Outra vantagem é para aqueles que estão prestes a comprar um carro novo que não é considerado de luxo, mas que custa o mesmo que um usado de luxo. É o caso de muitos ex-donos de Civics e Corollas que resolveram mudar para carros usados de luxo, pagando o mesmo que pagavam antes.
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