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O último Gol: por que versão de despedida do VW é uma grande decepção
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Foram mais de sete milhões de Gols vendidos nos últimos 42 anos, uma verdadeira goleada da Volkswagen. Se considerarmos as bolas chutadas para fora, ou melhor, os exportados para outros 69 países, a conta passa de 8,5 milhões.
Essa bem-sucedida trajetória chega ao fim com uma série limitada de apenas 1.000 unidades, batizada de "Last Edition" - nome infeliz para um carro tão brasileiro como o Gol.
Fãs do modelo estavam ansiosos para conhecer essa última edição, que carrega o peso de homenagear um carro com muita história para contar. Mas foi decepcionante ver o resultado final. Baixo orçamento para o projeto? Preguiça de fazer algo melhor? Não sei, mas é certo que o Gol Last Edition passou longe de ser um carro voltado para os fãs.
Em um exercício de imaginar como esse último Gol poderia ser, busquei no passado os equipamentos mais marcantes do modelo. A seguir, minha homenagem com itens que não poderiam ficar de fora.
Motor forte
Lançado em 1984, o Gol GT revolucionou nosso mercado. Até então, os pequenos esportivos nacionais pouco se diferenciavam das versões comuns. No caso do Gol GT, o motor 1.8 refrigerado a água com comando de válvulas "bravo" entrou no lugar do limitado 1.6 refrigerado a ar e deu um salto gigantesco na performance do modelo.
Direção, freios, suspensão e pneus também foram revistos naquele que foi o primeiro hatch com apelo realmente esportivo do Brasil.
Depois dele, vieram as clássicas versões GTS, GTI e GTI 16v. Para honrar esse legado esportivo do Gol, a última edição deveria vir com um motor mais forte, como o ótimo 1.6 16v que equipou o modelo até há pouco tempo e que continua disponível na Saveiro. Mas, a VW achou melhor encerrar a carreira do Gol com o nada esportivo motor 1.0.
Rodas clássicas
Snowflake, Pingo D'Água, Orbital e BBS são os nomes populares de algumas das rodas mais famosas do Gol, e põe famosas nisso. São rodas que ditaram moda e jamais poderiam ter ficado fora. Das 1.000 unidades do Gol Last Edition, poderiam ser 250 com cada uma dessas, mas aí é sonhar demais.
Já a Volkswagen nem sequer sonhou. Decidiu apenas pintar de preto as rodas que já vinham equipando o Gol e aplicar um adesivo da roda Orbital na coluna traseira. Decepcionante.
Sei que é difícil conciliar o desenho de rodas antigas com carrocerias novas. Mas em uma edição especial, existe uma tolerância. Ainda que não fossem idênticas às do passado, mas que pelo menos fossem releituras que honrassem as clássicas rodas do Gol, certamente seriam mais atraentes.
Combinação de cores
Eu até gosto do Vermelho Sunset, cor escolhida para essa última edição. A cor é belíssima, mas nada tem a ver com a história do Gol. Ao longo dos 42 anos de vida, a cor mais marcante foi o Azul Mônaco, presente nos primeiros GTI.
O primeiro carro nacional com injeção eletrônica merecia essa homenagem, que poderia ir além e se estender em detalhes cinzas claros na altura dos para-choques, como no GTI original.
Ok, essa ideia do Azul Mônaco com para-choques cinzas não teria a menor chance de ser aprovada, mas que tal o famoso branco perolizado, outra cor muito cobiçada dos VW dos anos 90?
Bancos Recaro
Os cobiçados bancos da marca Recaro equiparam versões esportivas do Gol e jamais poderiam ter ficado fora dessa última edição. Com generosas abas laterais, ajuste lombar e do apoio das pernas, esses bancos marcaram época e são sinônimo de esportividade.
Mas a escolha mais barata da Volkswagen foi manter os bancos que já equipavam o Gol e trocar apenas o padrão das cores e do revestimento. Não ficou ruim, até que são bancos bonitos, e com um pouquinho de boa vontade dá para dizer que tem agradáveis abas laterais. Mas imaginem como teria sido legal se a VW encomendasse 1.000 pares de legítimos bancos Recaro para esse Gol.
Bolha no capô
Quando lançou o Gol GTI 16v, a VW se deparou com um problema. O motor era bem mais alto, não só devido ao cabeçote multiválvulas, mas também pelo belo bloco com bielas mais longas. Com isso, o capô original não fechou e a solução foi aplicar uma elegante bolha na parte superior do capô, e outra mais discreta na parte inferior do para-choque. O resultado foi dos melhores.
Cadê a bolha no capô do Gol Last Edition? Esquece. Claro que seria algo estético e não funcional, como foi no passado, mas quem se importaria com isso? O que vale é a homenagem, que não poderia ter passado em branco para o mais potente de todos os Gols.
Como realmente funcionam edições de despedida
Depois de todo esse romantismo nostálgico com o Gol, vou encerrar de maneira mais realista. Essas ideias são legais e muitos fãs gostariam de vê-las aplicadas, mas na prática as coisas não funcionam assim.
Antes mesmo do preço final ser anunciado, todas as unidades são vendidas em pré-venda para compradores bem relacionados com as concessionárias. Pagam um sinal generoso para garantir a compra, e depois o restante quando o preço for anunciado.
Esses compradores são em boa parte negociantes de carros, que imediatamente oferecem o modelo por um valor ainda maior no mercado de usados. O público comum tem dificuldade de entender, pois parece irracional pagar caro por um carro com pouco valor agregado, mas é certo que não faltam interessados em "investir" em veículos como esse, com forte apelo colecionável e com poucas chances de desvalorizarem no futuro.
Na prática, o que quero dizer é que essas edições de despedida são feitas para especulares ganharem dinheiro, e não para verdadeiros fãs dos carros. Sendo assim, para que gastar com tantas coisas, como as sugeridas aqui nessa coluna? Bom mesmo é aplicar uns adesivos e cobrar muito mais por isso. Sempre vai ter comprador.
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