Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Termo abusivo: lojas de carros usados exigem renúncia ao direito a garantia
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Recentemente, passei por uma situação bizarra na compra de um carro usado para um cliente.
O carro em questão, um Nissan Sentra 2014, que estava em uma concessionária aqui de São Paulo, foi inteiramente vistoriado em pontos importantes, como documentação, estrutura, funilaria, pintura, mecânica e elétrica.
No fim, o carro foi aprovado com louvor, já que tinha sido de um único e cuidadoso dono, que nunca se envolveu em acidentes e sempre fez as revisões preventivas.
O carro era tão bom, que antes mesmo de o cliente receber as fotos e o relatório, foi feito um sinal de reserva, para não correr o risco de perder o negócio para outro interessado.
Foi combinado que o pagamento total seria feito no dia seguinte, os contatos do vendedor e do comprador foram compartilhados, e a transação seguiu adiante.
No dia seguinte, fui surpreendido com uma mensagem do cliente, assustado com o termo que a concessionária exigiu que assinasse.
No termo, ele estaria ciente que o carro que estava comprando tinha problemas de motor, transmissão, freios, sistemas elétricos e suspensão.
Levei um susto, mas logo imaginei que fosse engano.
Entrei em contato com o vendedor, que confirmou o termo e disse que é solicitado em todas as vendas de carros usados com mais de oito anos ou mais de 140 mil km rodados - independentemente de estarem bons ou não.
Essa, infelizmente, não é uma prática isolada no mercado de veículos usados.
O que diz a lei
Carros usados são produtos duráveis, portanto o Código de Defesa do Consumidor, em seu Artigo 26, determina que tenham garantia de 90 dias, que vale a partir da data da compra.
Lojas e concessionárias de carros, obviamente, sabem disso, mas geralmente fazem de tudo para criar dificuldades no momento em que são acionadas para solucionar defeitos dentro do período da garantia.
O mais comum é dizer que a garantia vale somente para motor e câmbio, mas não é bem assim.
É importante destacar que a garantia vale para o carro como um todo, e não somente para uma ou mais partes.
Na teoria, um defeito elétrico ou hidráulico também deve ser coberto.
Já o termo exigido no caso citado, foi uma surpresa para mim, mas depois descobri que tem sido aplicado por outras empresas do ramo.
Termo não tem valor legal
Sendo assim, o tal termo não tem valor.
Ele não pode se sobressair ao Código de Defesa do Consumidor.
Mesmo assinando o documento, o comprador poderá exigir um reparo em garantia, por mais que a concessionária ou loja multimarcas recuse.
Na pior das hipóteses, a Justiça é acionada e o comprador ganha o caso.
O próprio vendedor confessou isso na conversa por áudio, na esperança de não perder o negócio por conta de um termo tão bizarro.
Ele estava apenas seguindo uma norma da empresa - que, convenhamos, não está acima da lei.
Cliente desistiu no negócio
Eu não autorizei que o cliente assinasse o termo, mesmo sabendo que ele era nulo e que o carro era bom.
O negócio foi desfeito, mas não sem antes gerar um grande desconforto.
Acontece que, antes de receber o termo polêmico, meu cliente foi convencido pelo vendedor a fazer polimento na pintura do carro, e higienização interna, ao custo de quase R$ 2 mil.
Como o negócio foi desfeito, ele precisou solicitar a devolução desse valor, que já tinha sido pago, além do sinal de reserva do dia anterior.
Essa solicitação precisou ter autenticação da assinatura, o que exigiu que perdesse um bom tempo dentro de um cartório.
Por que lojas fazem isso
Nós podemos e devemos discutir se o prazo de garantia de 90 dias é justo para ambos os lados.
Na minha opinião, como alguém que conhece muito bem carros usados, o prazo é longo para um produto tão complexo como um carro, que pode apresentar problemas a qualquer momento.
Em contrapartida, o preço mais alto praticado por revendedores sugere que tenham margem para arcar com isso.
Enfim, algumas coisas poderiam ser consideradas, mas hoje é assim que funciona e a lei deve ser respeitada.
Se a idade do carro ou a respectiva quilometragem forem muito avançadas a ponto de a revenda não querer assumir o risco de garantir a qualidade do mesmo, que ela não aceite colocar carros com essas características no seu estoque.
Mas revendedores fazem isso, e tenho certeza de que conseguem se livrar dessas obrigações.
Nem todos clientes estão dispostos a brigar por seus direitos na Justiça.
Sabemos que isso é desgastante e custoso, portanto nem todos vão até o fim.
Se ninguém reclama, logo vira prática comum, como aquela da garantia de motor e câmbio, que, de tão velha e comum, muitos acreditam na veracidade.
Fica o alerta: jamais aceite assinar um termo abusivo como esse.
Quem pede isso não pode ser levado a sério e, por melhor que o carro seja bom, vire as costas, vá embora e procure outro.
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