Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Carro popular: por que queda nos preços nem sempre é boa para o mercado
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Sempre que é anunciada uma significativa redução nos preços dos carros, o mercado entra em pânico. É notável como ninguém sabe muito bem o que fazer. Comprar agora ou esperar mais um pouco? Comprar novo ou usado? O que fazer com o carro que tenho na garagem? Essas são apenas algumas das principais dúvidas.
Para tentar respondê-las, não faltam opiniões de especialistas. Como são tantas, fica difícil escolher um lado. E, no fim, as decisões têm sempre um grau de risco.
Procuro exemplos do passado, para tentar achar respostas.
Isenção e redução de IPI em 2008
Em dezembro de 2008, foi anunciada isenção de IPI para carros 1.0, e redução da alíquota para os carros com motores até 2.0. O objetivo de alavancar as vendas dos carros novos foi alcançado nos meses seguintes, mas nem todos perceberam o estrago que foi feito no mercado de usados.
A redução do preço dos novos impactou diretamente no valor dos usados. Milhares de lojas espalhadas pelo país tiveram que readequar os preços de venda que, em muitos casos, ficaram abaixo daquilo que tinha sido pago quando a referência ainda era outra. Ou seja, prejuízo que levou algumas lojas à falência.
O que aconteceu para quem já tinha carro
Para quem não tinha nenhum carro, foi ótimo ter a oportunidade de pagar mais barato por um novo, ou até mesmo barganhar no sofrido mercado de usados daquele momento. Entretanto, quem já tinha um veículo na garagem para colocar na troca até se entusiasmava para visitar as concessionárias, mas levava um susto ao receber a proposta de compra do seu usado. O valor era muito baixo, devido à previsão de dificuldade na revenda.
Levou um bom tempo para que o mercado de usados entrasse novamente nos trilhos. Sabemos que ele nunca vai acabar, afinal de contas, para renovar uma frota, alguém tem que comprar a antiga. Mas ficou claro o quando ele depende da estabilidade do mercado de novos.
Quem sofre mais
Essa relação de preços é ainda mais sensível nos usados com poucos anos de uso. Nessa semana, já me ofereceram carros 2019, 2020 e 2021, sempre com a expectativa de pegar o valor de referência da Tabela Fipe, por parte de quem está vendendo.
Minha resposta tem sido a mesma: o mercado não está pagando Fipe, justamente por não saber o que vem pela frente. É provável, olhando para o passado, que aconteça algo semelhante com o caso citado de 2008.
Já os usados com mais tempo de uso, cerca de 5 anos ou mais, sofrem menos. São modelos que já passaram pelo período de maior desvalorização e se encontram numa situação que o estado de conservação conta mais do que a referência do preço de mercado.
Escalada de preços dos últimos anos
Pegando como exemplo a versão Like do Fiat Mobi, presente desde o seu lançamento em 2016, que sempre foi equipado com motor 1.0, ar condicionado, direção assistida, vidros e travas elétricas, podemos visualizar o quanto os preços subiram nesse período.
Apresentado como modelo 2017, o Mobi Like custava R$ 38 mil no lançamento. Eu sei, parece uma pechincha e dá vontade de voltar no tempo, mas basta ver os comentários das matérias dessa época, com críticas ao preço, algo que sempre aconteceu.
Esse preço ficou bem estável pelo menos até o modelo 2020, apresentado por R$ 41,3 mil, ainda num momento pré-pandemia da covid-19. Depois disso, o mercado virou de cabeça para baixo e os preços não pararam de subir. O Mobi Like foi para R$ 46,5 mil no modelo 2021, R$ 52 mil no modelo 2022, e R$ 62 mil no modelo 2023. Hoje, esse mesmo modelo 2023, tem preço sugerido de R$ 69 mil.
Repare que, o mesmo carro, igualmente equipado, somente com algumas melhorias, foi reajustado em mais de 80% desde o seu lançamento, enquanto que o salário mínimo subiu apenas 50% nesse mesmo período.
O que ainda precisa acontecer
A redução de preço que está por vir deve aproximar essa disparidade, mas melhor do que baixar o preço dos carros - ainda mais com redução apenas de impostos - seria o aumento do poder de compra na mesma proporção, o que infelizmente não deve acontecer.
Outro ponto fundamental, e que tem sido uma divergência entre o governo e o Banco Central, é abusiva taxa de juros praticada no nosso país, que precisa cair urgentemente.
Convenhamos, mesmo que o carro mais barato volte a custar cerca de R$ 50 mil, ainda é muito caro para a maioria. Boa parte procura linhas de crédito para poder financiar um carro e desiste quando faz contas e se assusta com o valor final, fruto das taxas de juros mais altas do mundo.
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