Melhor que Dolphin Mini? Encontrei um carro elétrico barato com 178 mil km
Na coluna da semana passada, alertei sobre os possíveis riscos de comprar o elétrico do momento, o BYD Dolphin Mini, e destaquei como acho arriscado comprar qualquer tipo de produto em sua fase de lançamento. Quanto mais caro e complexo ele for, maior é o risco de se deparar com problemas.
Os bons números de compradores nesses primeiros dias após o lançamento do novo BYD de entrada, que novo tem preço inicial sugerido de R$ 115.800, indicam que muitos estão dispostos a assumir esses riscos.
Entretanto, entendo que ainda tem muitos que pensam como eu e preferem esperar para ver como o modelo vai se comportar nos próximos anos, para só depois cogitar a compra.
Ainda sobre o tema, chamou minha atenção uma pesquisa que fiz em um dos principais classificados do Brasil, na qual encontrei um elétrico bem baratinho, porém bastante rodado.
Trata-se de um JAC E-JS1, com surpreendentes 178 mil km. É um carro modelo 2022, porém fabricado em 2021, o que sugere ter sido dos primeiros lotes de importação, pois foi o ano de lançamento dele. Estimo que tenha uns 30 meses de uso, que daria uma média de 6 mil km rodados por mês ou 200 km por dia.
Quando o E-JS1 foi apresentado, seu preço de cerca de R$ 150 mil assustou, por se tratar de um carro bem pequeno, com pouca autonomia e baixo desempenho.
Naquela ocasião, esse mesmo valor compraria o mais completo dos Toyota Corolla com motor 2.0 flex.
Mas, como todo elétrico, o E-JS1 tem baixíssimo custo por quilometro rodado, portanto poderia fazer sentido para quem fosse rodar bastante, e esse era um dos seus argumentos de venda.
Como o leitor pode perceber, o veículo que encontrei anunciado foi bem utilizado, portanto, deve ter cumprido com seu objetivo, certo? Bem, é o que veremos a seguir.
Desvalorização
Apesar desse JAC ter tabela Fipe de R$ 101 mil, esse que encontrei está anunciado por R$ 74 mil.
A explicação para isso é muito simples. Os preços agressivos da concorrente BYD forçaram os outros fabricantes a reposicionarem os seus.
Hoje, um E-JS1 zero-km sai por cerca de R$ 127 mil, bem mais barato que no lançamento, mas ainda acima do que pede a BYD pelo Dolphin Mini e a Renault pelo Kwid elétrico.
Com tantos concorrentes novinhos com preços mais baixos, parece impossível tentar revender um E-JS1 usado pelo valor da tabela Fipe.
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Quero receberAinda tem a questão da alta quilometragem, que afugenta possíveis interessados. Sendo assim, só um bom desconto para tentar encontrar um comprador. Para quem pagou os R$ 150 mil em 2021, deve ser desesperador ter que pedir menos da metade disso em menos de três anos.
Caso essa pessoa optasse pelo Toyota Corolla Altis Premium 2.0 flex lá em 2021, hoje iria se deparar com uma tabela Fipe de R$ 144 mil. Ou então, se fosse escolhida a versão Altis 1.8 híbrida, a tabela seria de R$ 146 mil. Mesmo considerando que ambos também estivessem com esses 178 mil km, é de se imaginar que, até com um desconto generoso, o valor de mercado ainda seria bem superior aos R$ 74 mil pedidos pelo dono do E-JS1.
Gasto por km rodado
Nesse ponto, é esperado que o elétrico seja mais vantajoso, mas veremos qual seria o gasto por quilômetro rodado desse JAC.
A fabricante promete autonomia de 300 km - porém, sabemos que isso só é alcançado no melhor dos cenários.
Dessa forma, tomo a liberdade de considerar 250 km de autonomia para uma bateria de 30 kWh. O custo da eletricidade varia bastante de acordo com a localidade, mas vou considerar o que eu pago aqui na minha residência, em São Paulo, que é cerca de R$ 1 por kWh - ou seja, teria gasto R$ 30 a cada 250 km, ou pouco mais de R$ 21 mil para rodar os 178 mil km.
No caso dos Corollas, o 2.0 flex com média de 10 km/l de gasolina a R$ 5,70 o litro teria gasto mais de R$ 101 mil, enquanto a versão híbrida do sedã, com média de 17 km/l, teria desembolsado cerca de R$ 60 mil.
A vantagem é expressiva para o E-JS1, que gastou aproximadamente um quinto do Corolla flex e um terço do Corolla híbrido.
Conclusão
De maneira objetiva, considerando apenas a parte financeira da compra e dos gastos com reabastecimento ou recarga, o melhor negócio teria sido investir no Corolla híbrido.
Somando os R$ 150 mil da compra com os R$ 60 mil do reabastecimento e subtraindo um possível valor de revenda em torno de R$ 130 mil, temos um custo final de R$ 80 mil.
Em segundo lugar, o pequeno JAC, se for vendido pelos R$ 74 mil pedidos pelo proprietário, teria gerado um custo total de R$ 97 mil. Já o Corolla 2.0 seria o mais caro de abastecer dos três, com cerca de R$ 120 mil gastos no período.
Espero que o leitor entenda, que os números são estimados.
Eu não tenho como saber com exatidão o consumo desses carros nas condições que o JAC teve e também não tenho como saber o valor pelo qual será vendido.
Ainda há mais variáveis nessa conta, como seguro e impostos, que inclusive variam em cada estado.
Tem também a manutenção, que no caso do elétrico tende a ser mais barata, mas depois de tantos ciclos de recarga, fica difícil saber se as baterias ainda estão eficientes, o que poderia gerar um custo altíssimo para troca, assim como pode acontecer com o híbrido.
Portanto, é apenas uma estimativa que demonstra que o elétrico até pode ser vantajoso no custo do quilometro rodado, porém quando roda muito, passa a ser repudiado pelo mercado de usados.
Para mim, está claro que financeiramente, ainda é mais racional investir numa compra mais certeira, como o Corolla 2.0, que apesar do maior custo total, tem fama de baixa desvalorização e boa aceitação na revenda. De todos, é certo que seria o mais interessante no mercado de usados com essa alta quilometragem considerada. Fora que, carro por carro, é até covardia tentar comparar um E-JS1 com um Corolla.
Sendo assim, fico pensando no desespero do atual proprietário desse JAC, que gastou muito para comprar, até economizou nas recargas, mas usou um carro simples e pouco confortável para agora ver seu dinheiro "derreter", com poucas chances de conseguir um comprador.
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