Fim da linha: vale comprar carro que não é mais produzido ou é furada?
Entre tantas objeções que existem com o mercado de usados, uma delas é o temor de escolher um modelo que já tenha saído de linha. Nem todos querem correr o risco de colocar na garagem algo que possa ter problemas com possíveis faltas de peças de reposição, ou então ter mais trabalho para conseguir revender no futuro.
Na semana passada, uma cliente me procurou com a intenção de comprar um hatch na faixa dos R$ 100 mil, com preferência pelo Yaris. Por coincidência, conversei com ela poucos dias depois do anúncio que o sedã deixará de ser fabricado em breve. Falei isso para ela, e imediatamente ficou com receio de continuar com a escolha desse modelo.
Expliquei que, por enquanto, apenas o sedã sairá de linha - mas, quando acontecer o mesmo com o hatch, não via motivos para se preocupar, já que carros da Toyota sempre são bem vistos no mercado de usados, mesmo depois de deixarem de ser produzidos. É o que acontece com o Etios, que além de ter saído de linha, ainda carrega o peso de ser desprovido de beleza. Mesmo assim, tem boa liquidez.
Diante disso, ela se convenceu e decidiu seguir com o Yaris - que ainda não saiu de linha, mas já começa a causar esse pânico no mercado. Podemos imaginar que é ainda pior com aqueles que realmente não são mais fabricados, mas o ranking de vendas dos usados mostra o contrário.
Segundo dados da Fenabrave, considerando os 50 modelos usados mais vendidos no mês passado, 58,1% foram de modelos que já saíram de linha. Essa relação é ainda maior se considerarmos apenas os 15 mais vendidos, onde apenas cinco modelos ainda são produzidos e representam 29,3% das unidades vendidas.
Ou seja, na prática, o comprador de carros usados não se importa tanto com o fato de um modelo ter saído de linha, mas note que isso não se aplica para todos.
O que eles têm em comum
Como eu disse, entre os 15 usados mais vendidos, apenas cinco ainda estão em linha. Os 10 restantes são, pela ordem de vendas, VW Gol, Fiat Palio, Fiat Uno, Chevrolet Celta, VW Fox, Ford Ka, Ford Fiesta, Fiat Siena, Chevrolet Corsa e VW Voyage.
Repare que todos eles, são veículos das categorias de entrada dos hatches e sedãs, são nacionais, tiveram bons volumes de vendas quando novos e utilizam mecânicas simples, confiáveis e baratas.
Com essas condições, o comprador se sente seguro em levar um desses modelos, pois sabe que vai conseguir manter e revender no futuro. Não por acaso o Corsa, que é o primeiro a ter saído de linha entre esses citados há 12 anos, ainda é sucesso entre os usados.
Para aqueles com orçamento baixo para compra de um carro, provavelmente vão escolher entre um desses 10 modelos para um compra segura.
O que pode ser evitado
O mercado de usados tem suas pegadinhas, e uma delas é pagar barato por um carrão com motor forte e recheado de equipamentos. São tentadores, eu mesmo me pego namorando alguns deles nos classificados. Mas é preciso ter pés no chão para entender que alguns podem virar pesadelos em pouco tempo.
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Quero receberGeralmente esse tipo de carro, que entrega muito e cobra pouco, carrega como pontos negativos o alto custo de manutenção e a dificuldade na revenda.
Analisando os 50 usados mais vendidos que aparecem no ranking da Fenabrave, não consigo apontar um que pudesse se encaixar nesse perfil. Ou seja, esses carros mais complicados são de fato preteridos no mercado de usados, e por isso não aparecem no ranking.
Porém, como diz o velho ditado, toda panela tem sua tampa. O que pode ser mau negócio para um também aparece como oportunidade para outro. O lance é saber escolher o modelo certo para as suas vontades e necessidades. Conheço muitas pessoas que adoram esses usados fora de linha renegados pelo mercado. Por terem conhecimento para pequenos reparos, paciência para garimpar peças e parceria com boas oficinas mecânicas, sabem aproveitar o que esses carros tem de melhor.
Por exemplo, quem se lembra do Nissan Altima? Sedã espaçoso, com mais de 180 cv, vários itens de conforto e segurança, mas que vendeu muito pouco, somente no ano de 2014. Além disso, não compartilha peças de acabamento e mecânica com nenhum outro carro vendido por aqui, portanto é uma compra recomendada somente para quem estiver disposto a encarar todos esses perrengues.
'Dinossauro' mais vendido
Como curiosidade, temos um 'dinossauro' presente na lista dos 50 usados mais vendidos. Trata-se do Fusca, modelo que saiu de linha há quase 30 anos, mas que ainda carrega uma legião de fãs em todo o país. Considerando o mês passado, ele está na 45ª posição, com 4.615 unidades comercializadas.
O número é impressionante, até mesmo quando comparado com o mercado de novos, onde ele apareceria na 12ª posição - à frente do Jeep Renegade. Pois é, no mês passado, foram comercializados mais Fuscas usados do que Renegades zero-km.
É simples entender o sucesso do Fusca, mesmo depois de tanto tempo. Sua simplicidade mecânica faz com que seja um automóvel disposto a encarar décadas de uso, sem onerar tanto o bolso do proprietário. É certo que isso não deve acontecer com modelos atuais, cada vez mais próximos de um celular ou computador, carregados de complexidades que não permitem que tenham vida longa.
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