Carro híbrido usado é bom negócio ou uma bomba? A resposta está no Corolla
A eletrificação dos carros parece ter vindo para ficar. Várias soluções são apresentadas pelos fabricantes, que vão desde híbridos leves até os elétricos puros. Para muitos ainda são opções distantes do bolso, mas aos poucos o mercado de usados tem absorvido aqueles que já passaram pelas mãos de um ou mais donos e conseguem ter preços mais acessíveis.
Um bom exemplo é o Toyota Corolla, modelo com excelente reputação no mercado e que passou a ter motorização híbrida há cinco anos. Quem quiser um Corolla híbrido não precisa pagar mais de R$ 188 mil por um zero-km, já que pode considerar gastar menos de R$ 130 mil por um modelo 2020. É uma boa diferença, que só não é maior devido à baixa desvalorização do Corolla.
Passados esses cinco anos do lançamento do Toyota Corolla com motorização híbrida, podemos analisar se valeu a pena ter investido nessa configuração mais cara e especular o futuro dos híbridos no mercado de usados. Contribui para essa análise o fato de existirem configurações híbrida e convencional - somente a combustão - para a mesma versão, a Altis Premium. Portanto, vou utilizar apenas essa versão, que compartilhava os mesmos equipamentos nas duas configurações de motorização.
Preço quando novo
Quem apostou no Corolla híbrido logo no lançamento pagou R$ 131 mil na versão Altis Premium. Caso optasse pela configuração somente à combustão, teria economizado R$ 6.000 no momento da compra.
Hoje, essas mesmas configurações zero-km, custam R$ 198,9 mil e R$ 185,6 mil, respectivamente. A diferença não só é maior em valor, como em percentual. Antes, o híbrido custava apenas 4,8% mais caro, e agora é 7,2%.
Sendo assim, podemos concluir que, pelo menos no Corolla, a tecnologia não barateou nesse período, como muitos poderiam supor que fosse acontecer,
Preço do usado
Pesquisei por Corollas 2020 anunciados em um grande classificado e encontrei 380 opções no território nacional. Dessas, 113 são de Corollas híbridos, ou seja, cerca de 30%. Eu não tenho informações se essa proporção é a mesma para todos que foram vendidos naquele ano, mas é de se imaginar que não seja muito diferente. Portanto, foi relevante o número de híbridos vendidos em 2020, e hoje disponíveis no mercado de usados.
Certo é que os donos desses híbridos que pagaram mais caro hoje competem de igual para igual com donos que optaram pela configuração à combustão. A Tabela Fipe do Altis Premium híbrido 2020 é R$ 128,8 mil, e do Altis Premium à combustão é R$ 127,5 mil.
Além da diferença de preço ser pequena, ela se inverte no preço médio dos anúncios, que é de R$ 130,2 mil para o primeiro e R$ 130,7 mil para o segundo. No mundo real, isso pode ser ainda pior, como vou relatar mais à frente.
Está claro que o modelo a combustão desvalorizou menos, e posso apostar que ele vai continuar segurando mais o preço - assim como qualquer Corolla do passado. Já o híbrido, quanto mais próximo do final da garantia do sistema eletrificado - oito anos para o Corolla -, passa a ser desinteressante no mercado.
É simples entender isso, pois sabemos que a manutenção de um sistema híbrido é onerosa e poucos estarão dispostos a assumir o risco desse custo quando o veículo estiver fora da garantia.
Quilometragem média
É de se imaginar que as pessoas que aceitam pagar mais caro pelo híbrido esperam o retorno desse investimento no custo menor por quilometro rodado. Mas para que isso realmente faça sentido, é preciso rodar bastante. Ou seja, quem optou pelo híbrido precisa rodar mais.
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Quero receberEsse é um ponto que também se reflete nos classificados, que apontam quilometragens médias mais altas nos Corollas híbridos, quando comparados com os Corollas à combustão. Inclusive, é difícil encontrar híbridos pouco rodados. Com o passar dos anos, isso tende a piorar, e fazer com que o interesse por ele seja ainda menor.
Opinião do dono
Tenho um seguidor, que já virou amigo, que teve a experiência com as duas configurações do Corolla, ambos comprados zero-km por ele. Com o híbrido, ficou por um período de dois anos e rodou cerca de 40 mil km. Vendeu no começo desse ano, e agora está com um somente à combustão.
Conversei com ele para entender os motivos para ter voltado para o modelo à combustão. A resposta não é tão simples e objetiva, já que ele gostava do híbrido, principalmente na economia que ele proporcionava no ciclo urbano. Mas ficou claro para mim que o híbrido não atendeu tão bem às necessidades dele.
Ele é 50 cv menos potente, e isso faz muita diferença no ciclo rodoviário, condição que ele enfrenta com certa frequência. E o consumo nessa condição não é muito diferente.
Por fim, teve muita dificuldade de revender o híbrido e só conseguiu um comprador quando baixou R$ 10 mil em relação à Tabela Fipe. Isso jamais teria acontecido com o modelo a combustão.
O que esperar do futuro
Quem compreendeu as informações que passei acima pode concluir que não vale a pena investir nos sistemas híbridos. Mas não é bem assim.
A Fiat apresentou recentemente um sistema híbrido leve para o Pulse e o Fastback. Custa apenas R$ 2 mil a mais, e o sistema é mais simples e barato. Mesmo no fim da garantia, uma possível reparação não deverá ser custosa, e com isso não afasta compradores no mercado de usados.
O carro não é mais fraco que sua versão somente à combustão, é um pouco mais econômico, e o pequeno investimento na compra já pode ser revertida no desconto de IPVA que alguns estados concedem para motorização híbrida.
Sendo assim, vejo futuro promissor nessa proposta da Fiat. Mas é apenas uma aposta, pois somente o tempo e o mercado vão nos responder. Até o momento, continuo com pé atrás com vários eletrificados, não pela experiência ao volante, que é sempre positiva, mas sim com a receptividade que o mercado de usados está tendo com eles.
Não podemos esquecer que carros no nosso país precisam durar bastante, portanto não bastam ser bons apenas quando novos.
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