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Sistema de arrefecimento: por que nunca devemos "completar a água" no carro

Reservatório água - Thais Rolland
Reservatório água Imagem: Thais Rolland

Colaboração para o UOL

05/11/2019 04h00

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É hora de dar uma pausa nas aventuras de garagem (mas não por muito tempo) para tratar de um assunto que chegou via comentários da coluna. No post sobre troca de óleo, o leitor Avila Reis pediu que falássemos sobre "troca de água" do carro. Então lá vamos nós!

Como o foco aqui é falar com iniciantes em manutenção automotiva, não acho prudente uma troca de líquido de arrefecimento na garagem. É um procedimento mais trabalhoso do que os que vimos até agora e precisa de cuidados bem especiais.

Antes de mais nada, vamos parar de chamar de "sistema de refrigeração" ou "água do radiador". Se fosse refrigeração daria para gelar a cerveja no radiador, certo? E água do radiador usávamos na época dos carros carburados (época linda, diga-se de passagem).

O nome correto é sistema de arrefecimento, que refere-se a manter a temperatura ideal de trabalho do motor - que é alta o suficiente para provocar queimaduras se determinadas partes do motor forem acessadas ainda quentes.

E o que usamos por lá é o fluido de arrefecimento, que é uma mistura de água desmineralizada e aditivo - que tem vital importância, principalmente no aumento do ponto de ebulição da água (ela ferverá acima dos 100°C) e no controle de corrosão do motor, entre outros itens.

Carros com injeção eletrônica não podem circular sem aditivo no radiador. Desde que esse sistema substituiu os carburadores, permitindo uma melhor dosagem de combustível e resultando em queimas mais completas, é muito comum os motores trabalharem acima dos 100°C. Ou seja: andar só com água no motor é quase garantia de superaquecimento em algum momento.

Além disso, muitos carros tem partes de alumínio (inclusive o cabeçote) e, nesses casos, colocar água de torneira no sistema é "cometer um assassinato", já que o cloro reage e devora o alumínio. Daí a importância da água desmineralizada (que é mais barata que a água mineral que você compra para consumir).

Como qualquer outro sistema, este precisa de manutenção preventiva que envolve substituição do fluido e limpeza do sistema. Não é um procedimento complexo, mas é trabalhoso e requer cuidados especiais que explicar a seguir - e vocês entenderão porque recomendo que sejam feitos na oficina.

Como trocar o fluido de arrefecimento

reservatório água - Thais Roland - Thais Roland
Imagem: Thais Roland

A primeira coisa é, como sempre, consultar o manual do proprietário para saber a frequência de manutenção. Dependendo do aditivo que o carro usa pode ser que você precise trocar o fluido todo ano ou a cada cinco - e, quando essas manutenções acontecerem, o tipo de aditivo deve ser respeitado, assim como a proporção entre ele e água desmineralizada.

Quando chega a hora de fazer esse procedimento, todo o fluido do sistema é esgotado e é feita uma limpeza no sistema antes de abastecê-lo com mistura nova.

A questão é que este é um sistema que não permite que fique ar dentro dele. Então, além da substituição, é importantíssimo que o mecânico faça a "sangria" do sistema, que consiste em retirar qualquer ar que esteja dentro do circuito de fluido e garanta que ele esteja preenchido apenas com a mistura água desmineralizada + aditivo. Este processo de sangria não é trivial e precisa ser realizado com muito cuidado e atenção.

Assim como o óleo do motor, o descarte do aditivo antigo também é uma preocupação e precisa ser feito de maneira correta. E aqui a recomendação é a mesma: recolher corretamente e levar a oficina ou posto de gasolina para que eles descartem por você.

Além do aditivo, outra preocupação do sistema de arrefecimento é a válvula termostática. Esse componente é justamente o que controla o fluxo de fluido do motor para o radiador constantemente, para que a temperatura do motor fique sempre sob controle.

Atualmente essa válvula fica, em geral, dentro de uma carcaça de plástico aparafusada em algum lugar do motor. E, quando precisa ser substituída, é trocada a carcaça toda, com ela dentro, já que é comum o plástico ressecar e trincar devido às mudanças de temperatura no motor.

Substituir a carcaça da válvula também não é nada sobre-humano. Mas, mais uma vez, requer sangria do sistema para garantir que ele está todo preenchido com fluido e livre de bolhas de ar - então é mais uma coisa legal para deixar para o seu mecânico de confiança fazer.

E se o nível do fluido baixar?

Por fim, quero falar de situações de emergência. O sistema de arrefecimento é fechado, o que significa que não tem para onde esse fluido "evaporar". Esse é o motivo de não haver necessidade de completa-lo com nada. Se o nível do fluido está abaixo da marca de mínimo significa que algo está errado - e completar só camuflará um problema que precisa ser identificado e resolvido.

Ainda assim, pode acontecer de sofrermos algum acidente em que o fluido vaze e que precisemos sair do lugar com o carro até chegar num posto de socorro. Numa situação dessas, é claro que você colocará no radiador qualquer coisa líquida que estiver ao seu alcance no momento. Mas é importante saber que, quando chegar à oficina, será necessário esgotar o sistema todo, fazer uma boa limpeza, resolver o vazamento e aí então colocar fluido novo, na proporção e especificações corretas.

Então se você é desses que gosta de ter um "Kit Apocalipse" no porta-malas do seu carro (é mais comum do que imaginam e acho super válido), em vez de ter uma garrafa de água para emergências com o radiador, tenha uma de aditivo diluído (preparado para uso), que o dano será menor.

Tenho certeza de que, ao longo da vida da nossa coluna aqui no UOL Carros, ainda chegaremos ao estágio em que vocês conseguirão fazer essa manutenção também na garagem de casa se assim escolherem (seja para economizar uma grana ou só pra se divertir mesmo).

Então continuem acompanhando e deixando seus comentários para enriquecermos nosso acervo e nos apaixonarmos por mecânica um pouquinho por semana.