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Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

GNV: abastecer o carro com gás natural é uma vantagem ou roubada?

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Colunista do UOL

06/04/2021 04h00

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GNV, sigla para gás natural veicular, é uma questão complicadíssima. O combustível tem defensores apaixonados e críticos fervorosos. E não sou eu quem tomará partido nessa briga.

Já tive um carro com GNV. Era um Chevrolet Kadett 1989 1.8, carburado. Isso foi em meados de 2003, se minha memória não me engana, e eu aproveitei bastante o combustível auxiliar.

Vamos começar por aí: o GNV é um combustível auxiliar. Ou seja, não substituirá o combustível original do carro, mas trabalhará junto com ele para trazer economia - e isso é muito importante.

Conversei com duas autoridades no assunto. Eduardo Polati é engenheiro da PowerBurst, especialista em combustíveis e lubrificantes, e Luciano Mariano é consultor da Diag Eletric e tem uma vasta experiência com GNV.

Arrisco dizer que minhas conversas com eles somaram mais de duas horas e foram riquíssimas. Por isso, será um desafio imenso condensar as informações para vocês aqui.

Começo com uma "voadora", contando que o GNV traz uma economia de combustível de cerca de 50%. Dependendo das características do carro, do seu modo de condução e do rigor nas manutenções, pode chegar a 70%. É muita coisa!

Polati explica que o GNV é um combustível mais limpo que o etanol, levando em conta que ele emite menos poluentes por ter uma queima mais eficiente e também por não necessitar de beneficiamento. Ou seja, do jeito que ele está na natureza já pode ser utilizado. Por causa da menor quantidade de emissões, ele pode, inclusive, prolongar a vida do catalisador do seu carro e até do óleo lubrificante.

Além de tudo isso, os kits de conversão evoluíram muito e dois graves problemas que a modificação apresentava foram resolvidos: a perda de potência e o tão temido back fire.

Atualmente a perda de potência ainda existe, mas fica entre míseros 10 a 12%, quase imperceptíveis. Isso porque os kits da quinta geração utilizam praticamente todas as estratégias de injeção de combustível nativas do carro. E já existe o kit de sexta geração, apropriado para caros com injeção direta.

Já o back fire foi totalmente eliminado. Era um fenômeno que ocorria nos primeiros kits, que usavam um misturador de combustível antes da borboleta. Isso enchia o coletor de admissão de GNV. Como a queima do GNV é mais lenta, às vezes acontecia da queima voltar para o sistema de admissão durante o cruzamento de válvulas e incendiar o GNV acumulado no coletor. Isso explodia a caixa do filtro de ar, às vezes a tampa do TBI e chegou a incendiar alguns carros.

Me desculpem se ficou técnico demais. O importante é que os novos kits já não possuem mais esse misturador, então não corre-se mais esse risco.

Mas é claro que nem tudo são flores e também temos as desvantagens do combustível.

A primeira é que ele é vantajoso de verdade só para quem usa o carro com força. Muito mesmo e, de preferência, em percursos leves. O GNV não tem bom desempenho se o carro estiver muito carregado, nem em ladeiras exigentes, e no trânsito ele é um pouco duvidoso. Se você precisa de potência, de plena carga, o combustível líquido continua sendo a melhor opção.

Outra questão é o custo. Você desembolsará, em média, R$ 4 mil para instalar o kit no seu carro. E, como está fazendo uma modificação que envolve segurança, será obrigado a passar por uma inspeção veicular todos os anos no Inmetro, que custa mais de R$ 300.

Uma coisa importantíssima sobre essa inspeção é que o Inmetro não olhará só a instalação do GNV. Eles fazem vistoria no carro e, se você estiver com uma lâmpada de farol queimada, ele carro é reprovado. Você tem 30 dias para resolver ou perde o dinheiro e terá que pagar uma nova inspeção.

A cada 5 anos você precisa submeter o seu cilindro de armazenagem a um teste e, se ele não passar, terá que gastar mais de R$ 1 mil nele - o tempo de vida máximo de um cilindro é de 25 anos.

Dependendo da situação, pode ser necessário fazer ajustes na suspensão do seu carro. O cilindro é bem pesado, e amortecedores, molas e todo o resto do conjunto podem precisar de uma recalibragem ou até serem substituídos.

O GNV é um solvente poderosíssimo, então você pode ter problemas de lubrificação em determinados pontos do motor. E esse é um ponto bem polêmico. Tanto Polati quanto Luciano são defensores do GNV, mas aqui entramos emum assunto discordante.

Enquanto o Polati defende o uso de um óleo lubrificante adequado para GNV, Luciano aposta na boa prática de usar o GNV alternadamente com o combustível líquido. Ainda quero consultar um profissional de retífica para ter uma terceira opinião.

Para carros flex existe um outro ponto a ser observado, mas que pode não ser uma desvantagem necessariamente.

Como o GNV usa as estratégias de injeção do próprio carro para operar, você deixa de ter a possibilidade do uso de gasolina ou etanol. Quando o kit é instalado você escolhe um dos combustíveis e as estratégias deste são copiadas para o GNV.

Há ainda o problema da disponibilidade. Cada vez menos postos estão oferecendo o GNV, então pode ficar complicado encher o seu cilindro em determinados lugares.

Isso tem vários motivos, mas um dos principais é o custo do sistema de abastecimento para o posto. É necessário um compressor que consome uma energia absurda paras bombas de abastecimento funcionarem, o que torna a opção pouco vantajosa para diversos estabelecimentos.

Por fim, se você mora no Rio de Janeiro, tem uma super vantagem. Carros com kit GNV têm 75% de desconto no IPVA. Isso rende pérolas do tipo Camaros com GNV, que prefiro não comentar.

A questão é que o GNV traz uma economia de combustível absurda. Mas é você quem tem que pesar vantagens e desvantagens para concluir se ele é adequado ou não.