Sem educação de trânsito e com pilotos imaturos, moto ainda é vilã das ruas
Imaturidade e falta de bom senso nas ruas ainda prevalecem no Brasil
Uma passadinha no Youtube é sempre sinônimo de imagens fortes quando o tema da busca é "moto". Na maioria das vezes, os vídeos mostram o quanto o veículo pode -- se mal usado, diga-se -- tornar seus condutores candidatos à dolorosas visitas ao pronto-socorro, ou lugar pior...
Não tem jeito: manobras radicais, transgressões de diversos tipos e acidentes exercem fascínio mórbido inegável. A quantidade de visualizações que tais imagens alcançam é o próprio combustível que alimenta a existência desses vídeos.
Já se a palavra buscada for "carro" ou "automóvel", o que acontece? No lugar de insanidades e tragédias, aparecem novidades do mercado, carrões dos sonhos e por aí vai. Alguém mais afoito ao constatar esta realidade se precipitaria, prejulgando fãs de motocicletas como gente desprovida de parafusos, desmiolados com pouco ou nenhum instinto de preservação. Já os motoristas seriam cidadãos de comportamento impecável.
Mas será isso mesmo?
Um fato é irrefutável: a motocicleta ainda é escolhida na base da emoção, e não da razão, por uma razoável parcela de seu público. O estereótipo do motoqueiro malvado, o destemido no pior dos sentidos, ainda é forte no Brasil, país onde há menos de quatro décadas motocicletas de qualquer tipo ou tamanho eram vistas raramente em nossas ruas e rodovias.
Por outro lado, como disse na coluna de duas semanas atrás, o comportamento dos motoristas brasileiros é inadequado, de modo geral, assim como é grande o desconhecimento do cuidado e atenção que os usuários mais frágeis das vias públicas -- entre eles, motociclistas -- merecem receber.
Problema ou solução?
Em poucas décadas nossas ruas ganharam milhões de motocicletas. O fato de não termos uma cultura motociclística como a europeia, onde motos foram a salvação da mobilidade no pós-guerra, explica parte da falta de educação no uso do guidão.
Outra parte da culpa talvez seja de Hollywood, já que na América do Norte, neste mesmo período, as motos em vez de transporte eram o veículo de transgressão por excelência. O cinema plantou a semente do motoqueiro mau... e ela vingou.
Neste verdadeiro banzé, separar o joio (o "motoqueiro" desrespeitoso) do trigo (o motociclista civilizado) é tarefa que exige árduo esforço. A constatação de que a motocicleta não é problema e sim solução para o transporte, seja nas grandes metrópoles como nas cidadezinhas desprovidas de uma rede eficaz de transporte público, é algo que deveria ser evidente para quem exerce o poder.
Apesar dos evidentes abusos cometidos por uma parcela de usuários e das consequências infelizes -- para eles e para a sociedade --, é impossível negar que a motocicleta desempenha um papel social do qual o país não pode e nem vai abrir mão.
Reeducar é preciso
Outro ponto importante é a educação. Acabar com a palhaçada que é o atual sistema de concessão da CNH, onde o conhecimento teórico de leis de trânsito tem peso maior que o treinamento na condução, é outro trabalhão que não pode mais ser adiado.
Por fim, há que se incutir nos motociclistas e "motoqueiros" que o mundo está mudando e vai mudar ainda mais. Do mesmo modo que hoje parte das pessoas norteia sua compra do eletrodoméstico "A" em detrimento ao "B" pois há como saber sobre sua eficiência energética através de um selo, para a escolha de uma motocicleta mais importante do que o som de escape lindão é saber se o sistema de freios tem algum dispositivo auxiliar tipo CBS ou ABS, por exemplo. Ou se o plano de manutenção possibilita maior espaço entre as revisões. Ou se os testes realizados pelas publicações especializadas indicaram qualidade dinâmica adequada.
O nome deste novo jeito de optar por uma ou outra moto chama-se maturidade, algo que deve vir embutido em uma nova visão dos veículos de duas rodas. Para alcançar este padrão é importante ter políticas públicas miradas à valorização das motos, a colaboração dos fabricantes por meio de campanhas educativas e, claro, o mais importante, o bom senso dos usuários de todos os meios de locomoção.
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