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CNH de moto precisa, sim, ser dividida. E por potência, não cilindrada

Atualmente, exame de habilitação para motos é tão simples que poderia ser feito até por um urso de circo - Reprodução
Atualmente, exame de habilitação para motos é tão simples que poderia ser feito até por um urso de circo Imagem: Reprodução

Roberto Agresti

Colaboração para o UOL

10/04/2017 10h00

Deixar pilotos sem experiência guiarem motos mais fortes não faz sentido

É possível tirar brevê para pilotar aeronaves e, logo em seguida, se candidatar a comandante de um Boeing 747? Definitivamente, não. E a razão é muito simples: pilotar avião exige aprendizado progressivo, acumular as tais "horas de voo". O começo é sempre em um pequeno monomotor, depois vêm aviões maiores e mais complexos, subindo progressivamente os degraus da longa escada que separam as peculiaridades de se pilotar um "Cessninha" das de dominar um voo transcontinental.

Não tão complexas como aviões, motocicletas também são máquinas que exigem aprendizado progressivo. É esse ponto de vista que sustenta o projeto de lei 3245/15, aprovado pela Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados: fazer com que os aprovados no exame da CNH percorram caminho mais que natural de aprendizado até conseguirem chegar ao que podemos chamar de "CNH plena".

Resumidamente, de acordo com o projeto, quem já tem CNH não será afetado. Mas os novos habilitados deverão acumular experiência antes de conduzir motos potentes. As tais "horas de voo", que progressivamente os qualificarão a pilotar "aviões de duas rodas" -- motos capazes de acelerar como um Boeing e alcançar mais de 300 km/h.

Diferentes patamares

Melhorar o processo de concessão da CNH é algo mais que lógico. Não faz sentido autorizar um cidadão capaz de realizar um percurso que até um urso de circo conseguiria fazer, como é hoje o exame de habilitação para motos, a conduzir indiscriminadamente modelos tão diferentes, como uma motoneta, uma pequena moto de 150 cc (como a CG), a furiosa Honda CBR 1000RR (com quase 200 cv) ou mesmo a gigantesca Harley-Davidson Electra Glide (com seus 420 kg), por exemplo.

Pilotar as motos maiores exige qualificação que vem com a experiência.

Habilitar motociclistas separando-os em níveis não é novidade: no Brasil foi assim no passado e, atualmente, na maioria dos países cuja segurança viária é exemplar, tal progressão é regra.

Mas a proposição que tramita em Brasília ainda merece uma correção: em vez de estabelecer como critério o tamanho do motor expresso em cc (centímetros cúbicos), a popular cilindrada, melhor seria determinar níveis de acordo relação peso/potência, o que evitaria incoerências como posicionar em um mesmo patamar a Honda CB 250F Twister (e seus 22 cv) e a nervosa Kawasaki Ninja 300 (cujo motor encosta nos 40 cv).