Alemanha cria "escudo digital" para prevenir acidentes; vai funcionar?

Aviso "dentro do capacete" é bom, mas está longe da realidade

Que tal ser avisado por uma voz dentro de seu capacete que no cruzamento poucos metros à sua frente está para atravessar um carro em alta velocidade? E se essa mesma voz te avisasse, mais adiante, que há um caminhão quebrado na próxima curva da estrada, ou que o trânsito simplesmente vai parar na saída do túnel?

Este verdadeiro anjo da guarda já existe, é eletrônico e está em estágio adiantado de desenvolvimento. É de autoria da forncededora alemã Bosch, que recentemente o exibiu em um evento realizado em seu centro de testes de Boxberg, na Alemanha.

Batizado de "escudo protetor digital", a engenhoca, simplificadamente, conecta veículos entre si. Fisicamente, o sistema é uma caixinha pouco maior do que um maço de cigarros e tem a responsabilidade de enviar e receber sinais de modo contínuo em velocidade de até dez vezes por segundo.

O sistema não apenas identifica a presença de veículos, mas também os classifica de acordo com a tipologia, posição, velocidade, direção de marcha e outros dados. Tudo isso é transmitido pelo padrão WLAN (wireless local area network) que, devidamente decodificado, serve de base para a troca de informações entre os veículos e gerar os devidos alertas.

Segundo a Bosch, o sistema é capaz de selecionar informações de forma autônoma, descartando dados derivados de veículos que não apresentem perigo, focando apenas naqueles que representam risco potencial como velocidade elevada em direção oposta ou transversal.

Não será apenas o motociclista que ouvirá (ou verá no painel) o alerta de perigo, mas também o motorista do automóvel, caminhão ou ônibus, alertado por sinal sonoro e também por informação de texto em tela de sistema multimídia.

Evidentemente a novidade se tornará cada vez mais efetiva quanto mais veículos estiverem equipados com tal dispositivo, ou seja, a melhoria da segurança dependerá de tempo e de eventuais políticas de segurança que poderão -- ou não -- instituir e incentivar a instalação de tal dispositivo.

Quando?

Esta luz de esperança está, realisticamente, a anos de se tornar realidade especialmente para nós brasileiros. Fadados a receber com retardo tecnologias de qualquer ordem, especialmente as destinadas à segurança, joga contra este tipo de sistema não só o investimentos significativo na produção, mas também o -- ponto nevrálgico -- aumento no custo de produção das motos e demais veículos. Em um cenário ideal, tal custo deveria (ou poderia) ser atenuado por incentivos do governo.

O que a Bosch propõe é mais um pontapé na bola que rola cada vez com mais estardalhaço e que prevê o uso da conectividade para salvar nossa pele: nossos smartphones e seus inúmeros aplicativos nos permitem chegar a lugares onde nunca estivemos, saber de notícias com uma velocidade que nunca imaginamos e ter e trocar experiências com pessoas que conheceremos apenas virtualmente.

O "escudo protetor digital" da Bosch, assim como outros sistemas semelhantes já aventados por outras empresas, tem como objetivo incorporar segurança à mobilidade sobre rodas, seja quantas elas forem, e usar o "stay tuned" entre veículos como arma para o sucesso.

Segundo a empresa, 3 mil pessoas morrem vitimadas por acidentes de trânsito diariamente em todo o planeta, e cerca de 30% destas pessoas são motociclistas, categoria que -- sempre de acordo com a Bosch -- apresenta risco 18 vezes maior do que os condutores de outros veículos.

Um dispositivo que alerte de maneira incisiva sobre perigo iminente é algo que não pode ser desprezado, elevando a máxima do "ver e ser visto", postulado mais do que básico para a segurança no trânsito, a um nível que efetivamente poderá salvar vidas.