Motociclista seria o culpado pelos acidentes que ele mesmo sofre?
A epidemia de acidentes que envolve motociclistas tem um grande culpado: o próprio motociclista. Não todos, não qualquer um, mas sim um tipo específico, que infelizmente parece em franca expansão.
Como reconhecê-lo? Não é nada difícil, pois são vários os fatores que o caracterizam.
1. Desconhecimento do veículo
Um deles, muito evidente, é o desconhecimento do veículo que pilota, a motocicleta.
Não fosse por isso, como explicar o comum hábito de não manter distância do veículo à frente? Motocicletas precisam de espaços maiores do que um automóvel para frear e, especialmente nos horários de pico, com o trânsito denso, ver motociclista pressionando motociclista, automóvel e até caminhão, rodando a um palmo ou menos da traseira em velocidade totalmente inadequada é mato.
Tal barbaridade é grande causa de acidentes. Colisões ou meros (mas dolorosos) tombos são frequentemente causados pela impossibilidade total de frear em espaços tão reduzidos. A perda de aderência vem a reboque da óbvia reação que é acionar os comandos de freio abruptamente, em busca de uma frenagem desesperada e infelizmente inócua.
2. Alta velocidade
Outra besteira comum ao guidão é rodar em velocidade exagerada no corredor. Convenhamos que usar a fresta entre os carros andando a baixa velocidade, ou mesmo parados, é uma abençoada vantagem de quem opta por se locomover em motocicletas. Então, para quê mesmo abusar da sorte, extrapolando a velocidade?
Quem anda de motocicleta com responsabilidade (e tem algum amor às pernas) sabe bem que, por maior que seja sua habilidade, a reduzida distância dos veículos quando circulamos entre carros pode ser potencialmente dolorosa caso algo dê errado.
Um distraído motorista checando mensagens no celular, aproveitando o trânsito parado, pode desviar levemente sua trajetória e tornar o corredor mais estreito que o previsto. E aí? Se a velocidade da moto for pequena, nada acontece. Se for alta, ai, ai, ai...
Infelizmente o que se vê com cada vez mais frequência é motociclista "rasgando" na fresta em velocidade além -- bem além! -- do bom senso, e quase sempre com o dedo pregado na buzina como se esta tivesse o dom de desmaterializar obstáculos.
3. Desrespeito às regras
Outra atitude besta cada vez mais comum deste naipe de motociclistas inconsequentes é a ultrapassagem pela direita mesmo quando há plena condição de realizar a manobra do jeito correto, pela esquerda. O que explica um erro tão primário? Ignorância.
Possivelmente muitos motociclistas jamais dirigiram um automóvel e portanto não sabem que a visibilidade de quem vem pela direita quando estamos ao volante de um automóvel é infinitamente menor.
4. Falta de civilidade
Mas não é apenas o desconhecimento ou o desrespeito às leis da física que andam em alta. A falta de civilidade e respeito às regras de trânsito e do convívio em sociedade também andam em alta entre muitos motociclistas.
A impaciência, não aguardar a abertura do semáforo ou simplesmente ignorá-lo, atravessando cruzamentos mesmo quando a preferência é da via transversal é uma transgressão cada vez mais frequente. Pequenas, ágeis e donas de uma capacidade de aceleração inigualável, as motocicletas parecem implorar para que desrespeitemos o sinal vermelho. Só que não: parar no sinal fechado é uma regra primária do convívio urbano sobre rodas. Desrespeitá-la é algo que exala barbárie e, quando dá errado, traz graves consequências, seja para motociclista, motorista ou, pior, para o coitado que estiver atravessando a pé.
Altamente errado também é a comum prática de rodar com motocicleta em áreas exclusivas para pedestres ou estacionar sobre calçadas. Trata-se de uma transgressão desnecessária, inconveniente, que denota total incivilidade e desconhecimento das regras de bom convívio. É paradoxal constatar que muitos motociclistas reclamam do desrespeito que sofrem quando, por exemplo, motoristas mudam de faixa sem dar sinal, mas que não se dão conta que invadir a calçada com a motocicleta, mesmo que em baixa velocidade, é algo inaceitável sob pretexto qualquer.
É senso comum a obrigatoriedade de fiscalizar tais condutas e reprimi-las de maneira definitiva. O método atual, multas e a consequente apreensão da CNH quando atingido o limite da pontuação não é efetivo pois demanda uma fiscalização específica que não ocorre. O modelo de punição atualmente está totalmente dedicado a coibir excessos de velocidade, certamente muito nocivo, mas que não é a única e tampouco a maior razão dos acidentes envolvendo motociclistas.
5. Soluções
A curto prazo, nenhuma. Para o futuro, exigem-se massivas campanhas de conscientização aliadas à vigilância mais efetiva destas perigosas transgressões, que demandam algo além dos radares. Talvez o ainda indispensável e incomparável olhar humano qualificado na fiscalização, cada vez menos presente em nossas ruas.
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