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Cavalos de guerra: como motos ajudaram Taleban a tomar poder no Afeganistão
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As motocicletas também são muito populares no Afeganistão. Arrasado por seguidas guerras desde o final da década de 1970, o país praticamente não tem um sistema de transporte público e, muitas vezes, as motos são o único meio de locomoção acessível à população.
Embora não disponha de dados oficiais do mercado de duas rodas, basta prestar atenção às fotos e às imagens vindas do país asiático para perceber que há muitas motos nas ruas de cidades grandes, como Kandahar e Cabul, e também nas regiões rurais e montanhosas.
A grande maioria são modelos antigos de marcas japonesas vindas do vizinho Paquistão, onde Honda e Yamaha têm fábricas. Apesar de seu papel importante na mobilidade dos cidadãos afegãos, as motos representavam uma ameaça para o governo local e até mesmo para o exército norte-americano que ocupava o país desde 2001.
Porque o Taleban, que retomou o poder do país neste semana, também usa motocicletas. Embora cada vez mais usem picapes e Humvees retirados das forças afegãs, a motocicleta continua sendo uma arma de guerra importante nas ofensivas do grupo.
O uso da motocicleta pelo Taleban em assassinatos de autoridades e políticos fez com que os governantes impusessem diversas restrições às motos. Desde que os Estados Unidos iniciaram a retirada das tropas em maio, a repressão aos motociclistas aumentou.
Em Cabul, o governo baniu o uso da moto no final de junho, permitindo apenas os entregadores e motoboys, que tinham autorização especial, a circularem pelas ruas da capital. Na maior cidade do sul do país, Kandahar, as autoridades já haviam proibido garupa há meses, para evitar os ataques do Taleban.
Com a retomada do poder pelo grupo fundamentalista, as motos voltaram a circular livremente nas cidades afegãs. Se por um lado, a liberação de motocicletas é uma boa notícia para os cidadãos que dependem do veículo para se locomover, por outro é ruim, pois elas são uma importante arma de guerra do Taleban.
Cavalo de guerra
Desde o início, as motocicletas faziam parte da estratégia de guerra do grupo extremista islâmico. Uma revista publicada pelo Taleban, em 2013, trazia uma matéria especial ensinando os guerrilheiros a transformar uma Honda CG 125, fabricada no Paquistão e também vendida no Afeganistão, em uma verdadeira "arma" de guerra.
A reportagem com o título "Steeds of war" (cavalos de guerra, em inglês) detalhava as alterações feitas no modelo, como o protetor de motor, malas laterais para carregar armamento (geralmente foguetes) e até mesmo um MP3 player adaptado ao guidão, para que os soldados pudessem ouvir as passagens do Alcorão, durante as ofensivas.
Segundo a revista, por ser barata (cerca de 700 dólares), ágil e econômica, a CG 125 era o cavalo de guerra ideal. Podia levar dois ocupantes armados. O piloto trazia um fuzil AK-47 a tira colo e o passageiro transportava um lançador de foguetes RPG. As malas laterais, feitas de lã, tinham capacidade para carregar até seis foguetes de RPG.
Com sua agilidade, as motos ajudaram o Taleban a combater e não se render às forças dos Estados Unidos nos locais mais montanhosos do país, ao sul e leste, na fronteira com o Paquistão. O poderio em duas rodas dos jihadistas era tão grande que obrigou as forças americanas e aliadas a também usar motocicletas na guerra contra o grupo.
O exército dos Estados Unidos levou modelos off-road com tração nas duas rodas, para enfrentar as areias do Afeganistão, e chegou até a usar motos elétricas, para evitar que o som dos motores a combustão denunciasse a chegada das tropas. Os fuzileiros navais, os famosos Mariners, tinham até um destacamento especial só de motocicletas.
Apesar de todo o esforço em quase duas décadas de guerra, as forças aliadas não conseguiram derrotar o Taleban por diversos motivos. Entre eles, o fato de que os guerrilheiros jihadistas conhecem as montanhas e o terreno como ninguém. Também sabem muito bem usar a agilidade das motos como estratégia de guerra, em ataques relâmpagos e patrulhas. Para a tristeza do povo afegão que, novamente, se vê governado pelos extremistas islâmicos.
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