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Pan America: por que nova moto de R$ 144 mil é a melhor Harley que já guiei

Colunista do UOL

15/10/2022 04h00

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A Pan America 1250 Special nasceu da necessidade de a Harley-Davidson ampliar seu leque de atuação. Apesar de ser uma das marcas de motos mais famosas do mundo, a fabricante norte-americana vinha enfrentando queda nos lucros nos últimos anos, enquanto assistia seu público fiel envelhecer e comprar cada vez menos suas enormes e cromadas motos cruiser.

O novo modelo, apresentado no exterior no início de 2021, faz parte de uma nova estratégia de negócios da Harley-Davidson e do seu CEO Jochen Zeitz, ex-Puma, que, entre outras medidas, procura focar nos segmentos que dão mais lucros. Atualmente, nenhum é mais lucrativo que o de motos aventureiras.

Eu, como fã de bigtrails e possuindo uma delas na garagem, confesso que estava curioso para pilotar a primeira moto aventureira da Harley-Davidson. Se há males que vêm para bem, testei positivo para Covid-19, na véspera do lançamento oficial do modelo no Brasil, no final de abril, e só agora tive a oportunidade de pilotar para valer a Pan America 1250 Special, versão mais completa e a única que será comercializada no País, com preço sugerido de R$ 143.800.

Mas, diferentemente de meus colegas, que andaram em uma pista fechada, tive a oportunidade de rodar com a aventureira da marca norte-americana no habitat para o qual ela foi projetada: uma viagem longa por qualquer estrada. Confesso que me surpreendi positivamente e entendi por que o modelo tem sido sucesso de crítica e de vendas até mesmo nos Estados Unidos.

A Pan America não é só a melhor Harley que já pilotei, em termos de desempenho, ciclística e tecnologia, mas também chega com qualidades que a credenciam a disputar a preferência do consumidor no disputado segmento de motos aventureiras.

Beleza está nos olhos de quem vê

Quando a Pan America foi apresentada no exterior, em 2021, não gostei do seu visual. Mas, agora, concordo com meu amigo Roberto Agresti, que escreveu para essa coluna sobre o modelo, na ocasião do seu lançamento nacional: pessoalmente, ela é melhor do que nas fotos.

Harley Pan America estática - Arthur Caldeira/Infomoto - Arthur Caldeira/Infomoto
Design da Pan America não vence concursos de beleza, mas é funcional e agradou os fãs da marca
Imagem: Arthur Caldeira/Infomoto

Ainda assim, a bigtrail da Harley não entraria na minha lista das motos mais bonitas. Entretanto, nove entre cada dez motociclistas, que me abordaram quando eu estava com a Pan America, elogiaram o design da moto. Prova de que "a beleza está nos olhos de quem vê', como diz o ditado.

Mas, enfim, considero a estética uma questão de gosto pessoal e não levo em consideração nas minhas avaliações. O que importa para mim é como o motor funciona, de que maneira a ciclística trabalha e se a moto cumpre o que se propõe. E a Pan America 1250 faz isso muito bem.

Bigtrail da Harley tem bom desempenho e muita tecnologia

Apesar da tradicional arquitetura V2, o novo propulsor Revolution Max de 1252 cm³ abandonou alguns dogmas dos antigos motores da marca de Milwaukee. Além da refrigeração líquida, traz comando duplo no cabeçote, com comando de válvulas variável.

Pan America na estrada - Renato Durães/Infomoto - Renato Durães/Infomoto
Novo motor da Harley Pan America tem força em baixos regimes e potência em altos giros; consumo foi de 16km/litro
Imagem: Renato Durães/Infomoto

Mas, deixemos a parte técnica de lado. Na prática, o motor tem bom torque em baixos regimes e também cresce de giros rapidamente, até atingir a máxima potência de 150 cv a 9.000 rpm. Desempenho que nunca experimentei antes em outras motos Harley - e equivalente às concorrentes do segmento.

O bom desempenho, contudo, é cobrado no consumo. Em cerca de 300 km, a Pan America teve uma média de 16,16 km/litro - bem próximo dos 18 km/litro prometidos pela Harley. Com tanque de 21,2 litros, a autonomia de cerca de 330 km também está de acordo com o que se espera de uma moto aventureira.

Quando o assunto é tecnologia a Pan America também se iguala às concorrentes. Não faltam controles eletrônicos para domar essa aventureira e torná-la uma moto versátil. São cinco modos de pilotagem; controle de tração e freios ABS, otimizados para curvas; assistente de partida em rampa, faróis adaptativos e até mesmo suspensões semiativas, que merecem elogios pelo seu bom funcionamento.

O conjunto tem garfo telescópico invertido, com tubos de 47 mm, da Showa, na dianteira; e um monoamortecedor, na traseira. Ambos com 190 mm de curso e ajustes eletrônicos, que mudam conforme o modo de pilotagem escolhido. No modo "Sport", por exemplo, as suspensões "enrijecem" para manter a bigtrail nos trilhos, mesmo com a resposta mais esportiva do acelerador. Já no modo "Off-road" ficam mais macias e absorvem as imperfeições de uma estrada de terra com excelência.

Amarradas a um quadro, que usa o motor como parte estrutural, as suspensões, em conjunto com as rodas de liga-leve - 19'', na dianteira, e 17'', na traseira -, são responsáveis por fazer da Pan America uma moto muito previsível e fácil de pilotar. Estável nas retas e confortável mesmo em rodovias mal pavimentadas.

Harley Pan America nas curvas - Renato Durães/Infomoto - Renato Durães/Infomoto
Pan America 1250 Special tem faróis adaptativos, que se acendem conforme a moto inclina nas curvas
Imagem: Renato Durães/Infomoto

Nas curvas, o conjunto surpreende: transmite confiança para inclinar de uma forma que nunca seria possível com as motos mais tradicionais da Harley. Segundo a própria marca, a inclinação máxima da Pan America é de 42°! Sim, a Pan America é uma Harley boa de curva.

Os freios da grife Brembo também proporcionam frenagens eficientes, parando com segurança os 258 quilos em ordem de marcha da Pan America Special. Peso que, embora elevado, está dentro dos padrões das motos aventureiras.

Mas, você deve estar se perguntando: como a Pan America se sai na terra? Desnecessário dizer que vai melhor do que qualquer outra Harley, afinal foi feita para isso também. Mas a marca foi além, projetou uma moto de uso misto que é capaz de enfrentar estradas de terra, como qualquer outro modelo do segmento aventureiro. Levando-se em consideração, claro, que usa roda aro 19, na dianteira, e pesa mais de 250 kg.

Subi com a Pan America um morro, geralmente utilizado para saltos de para-glides. São cerca de 10 quilômetros, com terra batida, muitos buracos e pedras no topo. Em nenhum momento, as suspensões decepcionaram e a posição de pilotagem também deixa você no controle total da moto - com a ajuda dos recursos eletrônicos, é claro.

Conclusão

Para a primeira versão de uma moto aventureira de uma fabricante que nunca fez uma antes, há muito mais a elogiar do que reclamar da Pan America. O motor vibra pouco e oferece força em baixas velocidades, em uma estrada de terra, e bom desempenho em altos giros, chegando a velocidades acima da permitida nas rodovias. Mas os pontos positivos da bigtrail da Harley vão além do seu motor.

Harley Pan America conforto - Renato Durães/Infomoto - Renato Durães/Infomoto
Para pilotos mais baixos, guidão é muito à frente e obriga inclinar as costas
Imagem: Renato Durães/Infomoto

Os motociclistas aventureiros procuram todos os tipos de estradas - às vezes, nenhuma estrada - e poder alterar os comportamentos da frenagem, do controle de tração e da aceleração são essenciais para passeios seguros e agradáveis dentro e fora do asfalto. A Harley fez um bom trabalho permitindo que pilotos experientes acessem e ajustem muitos desses parâmetros, ao mesmo tempo em que fornece modos simplificados, para aqueles que estão começando a se aventurar por aí.

Há outros detalhes interessantes, incluindo o tanque de 21,2 litros, manetes ajustáveis, um para-brisa eficaz, assento regulável, e o excelente sistema de ajuste automático de altura, o tal Adaptative Ride Height, que abaixa a suspensão traseira em até cinco centímetros, quando você para a moto. Além de ser uma comodidade para pilotos mais baixos ou não habituados a motos altas, também faz a Pan America acessível a um público mais amplo.

A reclamação vai para a ergonomia. Apesar do assento macio e confortável, eu, que meço 1,71 m, achei o guidão muito para frente, o que me obrigava a inclinar as costas para não pilotar com os braços muito esticados. Problema que, talvez, possa ser resolvido com um simples ajuste, recuando um pouco o guidão. Ainda assim, rodei 200 quilômetros sem parar e não senti cansaço, nem desconforto nas partes baixas.

Bigtrail da Harley - Renato Durães/Infomoto - Renato Durães/Infomoto
Com a Pan America, Harley conseguiu fazer uma moto aventureira digna do segmento e capaz de atrair novos clientes para a marca
Imagem: Renato Durães/Infomoto

Mas, escondido sob todo esse funcional projeto está uma ideia maior, no entanto: para a Harley-Davidson, a Pan America tem objetivo de atrair novos pilotos para a marca. Afinal, a Harley sempre terá um núcleo de leais consumidores, mas os gostos dos motociclistas estão mudando, e a empresa está tentando mudar com eles.

Surpreendeu-me como a Harley-Davidson conseguiu acertar na mosca em sua primeira tentativa de fazer uma moto aventureira verdadeiramente digna desse nome. E também por ser a melhor Harley que já guiei.