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Zontes: o que vale ou decepciona nas motos de 310 cc da marca chinesa

Colunista do UOL

01/04/2023 04h00

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A Zontes chegou ao Brasil agitando o segmento de motos médias. A marca chinesa, que desembarca no Brasil representado pela JTZ Motos, iniciou suas operações no país com três modelos de 310 cc.

Com preços que variam de R$ 26.990 para a naked R310 a R$ 27.990 para a cruiser V310 e a aventureira T310, as motos da Zontes chamaram a atenção dos consumidores por seu design atraente e moderno. Mas também despertaram a curiosidade por oferecerem equipamentos de série, geralmente, não encontrados em motos dessa cilindrada.

Os três modelos têm iluminação toda em LED, sistema de partida Keyless (chave de presença), além de abertura elétrica do tanque de combustível e do banco e trava de guidão automática. Destaque ainda para o painel digital com tela colorida de TFT, que oferece quatro modos de exibição das informações.

A estratégia é comum entre as novas fabricantes chinesas, que apostam em motos bem equipadas e visualmente chamativas, para brigar com as marcas mais tradicionais e conhecidas.

Trio compartilha motor de 310 cc

As três motos da Zontes compartilham o motor de um cilindro, com 312 cm³ de capacidade (de onde vem o 310 cc do nome das motos), arrefecimento líquido, quatro válvulas e duplo comando no cabeçote (DOHC). Alimentado por injeção eletrônica, o monocilíndrico produz 35,3 cv de potência máxima a 8.600 rpm e 3,06 kgf.m de torque a 7.500 giros.

motos Zontes - Divulgação - Divulgação
Motos da Zontes compartilham o mesmo motor de 312 cm³
Imagem: Divulgação

O desempenho pode ser comparado mais com os modelos de 310 cc da BMW, que também usam monocilíndricos com arrefecimento líquido, do que com as motos de 300 cc da Honda, como XRE 300 e a recém-lançada CB 300F, equipadas com motores arrefecidos a ar.

Outro diferencial dos modelos da Zontes é que todas têm embreagem deslizante e assistida, para acionar o câmbio de seis marchas. Já a transmissão final aposta na "boa e velha" corrente.

As motos da Zontes ainda compartilham o chassi Diamond e as rodas de liga-leve com 17 polegadas, na frente e atrás. Nos freios, o trio de 310 cc usa disco de 300 mm de diâmetro, com pinça de dois pistões, na dianteira; e disco de 230 mm com pinça de um pistão, na traseira. O sistema ABS de dois canais da Bosch vem de série nos modelos.

Como andam as motos da Zontes

Bem equipadas e com especificações que as diferenciam das concorrentes, as motos Zontes de 310 cc chamaram a atenção dos motociclistas brasileiros.

Confesso que, pessoalmente, os modelos da marca chinesa impressionam pelo seu visual moderno. O acabamento aparenta ser bem superior às marcas chinesas de baixa cilindrada, que desembarcaram no Brasil nos anos de 2010.

Manetes, guidão, mesa de direção e outras peças parecem ser feitas em ligas de metal bem acabadas. As carenagens têm encaixe justo e a pintura e os grafismos também agradam.

Mas, a grande dúvida é: afinal, como andam as motos da marca chinesa? Durante o evento de lançamento da Zontes no Brasil, pude fazer um curto test-ride nos três modelos, para ver o que vale a pena ou decepciona nas motos de 310 cc da Zontes. Confira as primeiras impressões.

Naked R 310 R

Apesar de ser a Zontes mais "barata" (R$ 26.990), a naked R310 não fica devendo em nada para os outros modelos. Conta com os mesmos equipamentos de série, como a chave presencial e o painel de TFT

Zontes R 310 - Divulgação - Divulgação
Naked tem visual e posição de pilotagem esportiva
Imagem: Divulgação

Ao subir na R 310, impressiona o baixo peso do conjunto - diferentemente das antigas chinesas, que costumavam ser pesadas, a naked da Zontes nem parece ter 171 kg em ordem de marcha.

A posição de pilotagem é um pouco esportiva, com o tronco inclinado a frente e as pedaleiras recuadas, típica das motos naked atualmente. O guidão largo e o banco confortável também agradaram.

Para dar partida, basta estar com o chaveiro, ou uma pulseira magnética, perto da moto. O motor acorda facilmente, mas vibra um pouco. Afinal, trata-se de um monocilíndrico.

Tem pouca força em baixos giros, mas como os números de desempenho deixam claros, o monocilíndrico gosta de giros mais altos. Acima de 5.000 giros tem boa aceleração e chega facilmente aos 100 km/h. Infelizmente, não foi possível atingir velocidades mais altas nesse primeiro contato.

Não dá para comparar com as motos Honda de 300 cc, que são arrefecidas a ar e produzem algo em torno de 24 cv. O comportamento do motor se assemelha mais ao da linha 310 cc da BMW, ou seja, até tem bom desempenho, mas pede giros mais altos.

A crítica, porém, fica para o câmbio. Apesar da embreagem assistida ter acionamento macio, o câmbio de seis velocidade tem engates poucos precisos. Na unidade avaliada, ao mudar de primeira para segunda marcha entrou o "neutro" em diversas ocasiões. Isso pode acontecer em motos muito novas, quase zero km, mas incomodou um pouco. Aliás, foi um problema em todas as motos do Zontes que experimentei.

Na parte ciclística, as suspensões da naked demonstraram bom acerto e transmitiram confiança nas curvas. Já os freios se mostraram um pouco "borrachudos", ou seja, demoravam a atuar depois que você apertava o manete. Contudo, o sistema ABS funcionou perfeitamente.

Cruiser V310

Apesar de não ser muito fã do estilo cruiser, a V310 foi o modelo da Zontes que mais me agradou. Com preço sugerido de R$ 27.990, oferece, além do visual atraente, posição de pilotagem confortável, com pedaleiras avançadas, que podem ser ajustadas, e assento macio.

Cruiser V 310 - Divulgação - Divulgação
Cruiser V 310 foi modelo da Zontes que mais me agradou
Imagem: Divulgação

Mesmo com estilo mais despojado e menos esportivo, a V310 também contornou as curvas com facilidade e segurança. Entretanto, apresentou o mesmo problema no câmbio, difícil de engatar as marchas, e também nos freios "borrachudos", isto é, não freiam imediatamente.

O modelo ainda se diferencia por usar dois amortecedores, na suspensão traseira, enquanto suas irmãs contam com apenas um amortecedor central. O pneu traseiro da V310 também é mais largo, na medida 180/55-17. Na dianteira, usa o mesmo 110/70-17 dos outros modelos.

Crossover T310

Com porte maior, devido ao seu estilo trail, a T310 também custa R$ 27.990 (sem frete). Um dos modelos da Zontes que mais chamou a atenção, pois conta com ajuste elétrico do para-brisa, protetores de mão e de motor de série.

Apesar de ser vendida no exterior com rodas raiadas e aro 19 na dianteira, a JTZ Motors optou por trazer uma versão mais crossover da T 310, ou seja, que mescla a ciclística esportiva com a posição de pilotagem trail. O modelo desembarcou aqui com rodas de liga-leve de 17 polegadas, calçadas com pneus de uso misto.

T 310 - Divulgação - Divulgação
Versão crossover T310 demonstrou comportamento estranho nas curvas
Imagem: Divulgação

Embora chame a atenção na ficha técnica, a T 310 foi a que menos me agradou na prática. Seu assento é mais firme e a posição de pilotagem, estranha. As pedaleiras recuadas com o guidão largo parecem não combinar muito.

Outra crítica fica para o acerto das suspensões. A meu ver, são muito esportivos para o estilo crossover. Em movimento, a T 310 se comportou bem nas retas, mas não foi muito bem nas curvas. A moto exigia mais do piloto para contornar as curvas. Problemas que podem ser causados pelas suspensões muito firmes ou pela estranha posição de pilotagem. Entretanto, outros jornalistas especializados, presentes ao evento de lançamento da Zontes, tiveram a mesma impressão.

Conclusão

Primeiramente, vale destacar que as motos da Zontes mostram como as fabricantes da China evoluíram nos últimos anos. Principalmente, quando comparadas às primeiras motos chinesas de baixa cilindrada que desembarcaram no Brasil na primeira década dos anos 2000.

Apesar de ainda parecerem "inspiradas" em motos de fabricantes tradicionais, elas têm acabamento superior e uma melhor ergonomia. Seu motor também tem desempenho satisfatório para sua capacidade cúbica, com crítica para o câmbio impreciso. Em uma unidade, inclusive, o pedal de marchas estava quase solto. Claro que se trata das primeiras unidades montadas no Brasil e, espera-se que esses "problemas" sejam corrigidos com o tempo.

Zontes 310 - Divulgação - Divulgação
Modelos da Zontes serão vendidos, inicialmente, nas concessionárias Suzuki das grandes capitais
Imagem: Divulgação

Verdade que os modelos Zontes são mais sofisticados do que as motos de mesma cilindrada vendidas no Brasil. Entretanto, acho importante esclarecer que elas têm uma proposta e um público diferente. São feitas para quem usa a moto mais por lazer do que por necessidade. Afinal, mais tecnologia, como sistemas elétricos, motor arrefecido a líquido, etc, significa manutenção mais cara no dia a dia. Isso não é um defeito, trata-se apenas de uma constatação.

Outro ponto importante é justamente a qualidade do serviço de pós-venda. A disponibilidade de peças e oficinas autorizadas também vão definir o sucesso da Zontes no mercado brasileiro. Mas, com bastante experiência, adquirida ao longo de 30 anos representando a Suzuki no Brasil, a JTZ Motos, do grupo J.Toledo, sabe bem disso.

Tanto que planeja iniciar a comercialização dos modelos primeiramente pelos grandes centros, onde existem concessionárias da Suzuki mais bem estruturadas e mão de obra especializada.

Se você chegou até aqui, porque pensa em comprar uma Zontes, um conselho. Procure uma concessionária da marca e faça um test-ride nos modelos antes de assinar o cheque.

Informe-se também sobre o programa de revisões, o preço das peças que mais se desgastam, do seguro, enfim... E, se comprar uma, volta aqui para me contar como foi a sua experiência e qual modelo você escolheu.

A Zontes tem crescido bastante na Europa nos últimos anos e, se fizer tudo certo, tem tudo para repetir o sucesso no Brasil. Quem ganha com isso somos nós, motociclistas, que temos cada vez mais e melhores opções de motos no mercado.