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Jorge Moraes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Ameaça ou coadjuvante? Como novo Sentra encara o reinado do Corolla

Colunista do UOL

18/03/2023 04h00

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O segmento dos sedãs médios está na UTI e respira por aparelhos. Será que é exagero de nossa parte essa afirmação? Vamos aos números, então. Nos dois primeiros meses deste ano, todos os modelos juntos venderam 5.881 unidades. Isso é menos do que vendeu o sétimo colocado no ranking dos SUVs, no caso, o Toyota Corolla Cross, com 5.939 emplacamentos.

Claro que, quando falamos em SUVs, estamos colocando na mesma cesta os compactos, médios, grandes e premium. Mesmo assim, podemos ter um parâmetro de quanto o segmento dos sedãs médios encolheu nos últimos anos.

Dessas 5.881 unidades vendidas em 2023, 5.085 foram do Corolla. Isso mostra que o segmento se resumiu a praticamente um player. A Nissan quer voltar a essa disputa com a oitava geração do Sentra, que tem visual para deixar a concorrência babando, boa entrega de tecnologia, mas?

Parece que as montadoras ainda não aprenderam algumas lições nesses últimos anos. A Nissan, que sempre foi uma boa referência com seus sedãs no Brasil, demorou para trazer a nova geração do Sentra para cá. Deixar um vácuo justamente durante um êxodo de clientes para os utilitários esportivos (SUVs) pode ter sido um pecado capital.

Sedã bem ajustado

Faço um parêntese na análise do segmento para passar aqui as primeiras impressões do novo Sentra. A Nissan deu um tiro certeiro no design do sedã. Conseguiu nesta oitava geração o que nunca havia feito com sucesso nas demais gerações que vieram ao Brasil: unir esportividade, requinte e elegância nas linhas modernas do modelo. Isso é algo que a Honda já acertou muitas vezes com o Civic (não vamos entrar no mérito da geração 11) e que Toyota se esforça muito para imprimir em seu best-seller.

A cabine do novo Sentra é outro espetáculo. Pelo menos na versão Exclusive que testamos em São Paulo, que estava com o único opcional do sedã, o interior com o acabamento em biton no couro de ótima qualidade.

Em relação à tecnologia o novo Sentra também manda bem com sistemas de segurança e assistência ao motorista de primeira linha. Alerta e frenagem autônoma de emergência, alerta de mudança de faixas, ACC (que a Nissan chama de ICC - piloto automático inteligente), sensor de ponto cego e muito mais.

E cadê o "mas"?

Bom, vamos falar agora do conjunto mecânico do novo Sentra. Mesmo com a Nissan ressaltando que se trata de uma nova geração do velho conhecido motor 2.0 aspirado e que o mesmo passou por melhorias na engenharia, não ter turbo ou eletrificação em um segmento que passa perto dos R$ 200 mil é algo que a gente demora um pouco a compreender.

É nesse momento também que podemos retomar nossa análise do segmento dos sedãs médios. O líder absoluto da categoria oferece as opções de entrada como motor 2.0 aspirado de 177 cv de potência e, nas versões mais caras, o consagrado conjunto híbrido flex que regenera energia (dispensa tomada) e que tem uma eficiência absurda na cidade.

O Civic, que por muitos anos disputou lado a lado a liderança com o Corolla - chegando a ganhar em alguns momentos -, chegou híbrido, mas praticamente saiu do páreo ao passar a ser importado da Tailândia e custar quase R$ 250 mil.

Os executivos da Nissan deram seus argumentos para a insistência pelo motor 2.0 aspirado - mesmo que lá fora exista o Sentra híbrido e-Power que faz até 25 km/l de gasolina. Com a experiência no setor aprendemos a ouvir e respeitar esses argumentos, mas, na prática, sabemos que o fator financeiro é o que pesa mesmo nessa escolha para cada mercado.

Imagina quanto custaria o Sentra e-Power no Brasil? Essa tecnologia híbrida da Nissan é cara e poderia deixar seu sedã próximo ao patamar do Civic.

As mudanças da engenharia as quais eu não descreverei aqui deram 11 cv a mais na potência do sedã, que agora entrega 151 cv e os mesmos 20 kgfm de torque, distribuídos pelo câmbio CVT que simula oito marchas. Tem quem goste desse tipo de câmbio?

A Nissan afirmou durante o lançamento que o motor também ficou mais econômico. E isso é verdade. Nos mais de 200 km que rodamos com o sedã na estrada a nossa média ficou em 13,9 km/l, exatamente o mesmo valor que foi aferido pelo Inmetro e que consta nos números oficiais da ficha técnica do carro. Uma boa marca para um sedã de porte médio.

E tem outros "mas..."

Mesmo com muitos pontos positivos, o novo Sentra tem outros pecados que poderiam (e deveriam) ter sido evitados. Quanto entrei no carro e não vi a alavanca do freio de mão eu comemorei: "Agora sim, o Sentra terá freio de estacionamento eletrônico, algo que nem o líder tem".

Não foi dessa vez. O freio de estacionamento está lá embaixo, bem perto de sua canela esquerda. De volta aos anos 1980. A central multimídia também merecia ser maior do que as 8 polegadas oferecidas e ter uma conexão sem fio. E a falta do carregador de celular por indução é algo inexplicável em um carro de R$ 171 mil reais (versão Exclusive).

Enfim, o novo Sentra é um belo e bom carro. Anda bem, é bonito, não bebe muito e tem muita tecnologia. Mas nasceu para ser coadjuvante no segmento dos sedãs médios e ainda terá que suar muito para tentar acompanhar a tal revolução dos SUVs em nosso mercado.

* Colaboração de Bruno Vasconcelos