Jorge Moraes

Jorge Moraes

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
ReportagemCarros

Por que a Ford escolheu vender a fábrica de Camaçari ao governo e não à BYD

A novela envolvendo a instalação da primeira fábrica da BYD nas Américas ganhou um novo capítulo com a notícia de que a Ford escolheu vender o complexo de Camaçari, na Bahia, ao governo do estado e não diretamente aos chineses. Os valores não foram revelados, mas o acordo para reversão da propriedade ao poder público "seguirá a legislação vigente com indenização em preços compatíveis com o mercado".

Mas por que a montadora norte-americana preferiu vender suas propriedades ao governo do estado e não para a BYD? O que ouvimos das nossas fontes é que essa modalidade de venda é mais simples, uma vez que há muita complexidade em uma aquisição de grande porte.

Ford e BYD são duas gigantes automotivas globais que seguem as suas próprias regras e um acordo direto entre elas poderia demorar anos devido às questões corporativas. Há meses antecipamos aqui no UOL Carros que as duas montadoras tinham um acordo, mas que a assinatura não tinha ocorrido entre as partes por razões ainda desconhecidas.

Com esse anúncio da venda do complexo industrial ao governo do estado, a BYD poderá concluir a aquisição junto ao poder público e acelerar a implementação das três fábricas previstas para o estado nordestino. Uma dedicada à produção de chassis para ônibus e caminhões elétricos. A outra vai produzir automóveis híbridos e elétricos, com capacidade estimada em 150 mil unidades ao ano na primeira fase, podendo chegar a 300 mil unidades. A terceira, voltada ao processamento de lítio e ferro fosfato, atenderá ao mercado externo, utilizando-se da estrutura portuária existente no local.

O investimento total do grupo chinês na Bahia será de R$ 3 bilhões. Nesse valor já deve está inserido os custos com a compra do complexo, que deve gerar mais de 5 mil empregos diretos e indiretos e entrar em funcionamento no segundo semestre de 2024.

A empresa de tecnologia chinesa, maior fabricante de automóveis elétricos do mundo, produzirá cinco veículos no complexo baiano, entre eles o Dolphin, o híbrido Song, uma picape e o elétrico subcompacto Seagull, de 3,78 m de comprimento, 2,50 m de distância entre-eixos, 1,71 m de largura e 1,54 m de altura. O Seagull tem o porte do Ford Ka, feito no país até 2021. O quinto produto seria um modelo inédito.

A meta da BYD é participar como grande player do mercado no segmento dos veículos urbanos e entregar carros como o Seagull, 100% elétrico, ao preço entre R$ 100 mil e R$ 110 mil. Ele começará importado e será comercializado a partir do primeiro trimestre de 2024.

O polo de Camaçari estará pronto para receber um outro investimento, nova fase, na categoria dos "pesados" para produção dos chassis de ônibus e caminhões elétricos, assim como a divisão de baterias. O governo da Bahia deverá precificar bem isso.

A BYD está no Brasil desde 2015. A empresa tem fábricas em Campinas, onde faz chassis de ônibus elétricos, e módulos fotovoltaicos para painéis solares e, em Manaus, montou em 2020 uma fábrica para produzir baterias de fosfato de ferro-lítio.

Continua após a publicidade

O SUV híbrido Song, de motor 1.5 a combustão de 110 cv mais um elétrico 179 cv, disputará com o Dolphin, 100% elétrico plug-in, para ser o modelo de largada. O utilitário faz uma média 38,4 Km/l na cidade e 28,1 Km/l na estrada. A BYD vai explorar a corrente híbrida no país e dará a mesma importância da proposta 100% elétrica.

Incentivos

A contribuição do Estado da Bahia para viabilização do empreendimento inclui a concessão de incentivos fiscais até 31 de dezembro de 2032, de acordo com a legislação tributária estadual.

Os benefícios baseiam-se na Lei nº 7.537/99 que institui o Programa Especial de Incentivo ao Setor Automotivo da Bahia (Proauto), e na Lei nº 7.980/2001 e Decreto n.º 8.205/2002, estaduais, que institui o Programa de Desenvolvimento Industrial e de Integração Econômica (Desenvolve).

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

Só para assinantes