BYD na Bahia: o que esperar da produção de carros elétricos no Brasil
Camaçari vai nascer de novo com a BYD. E, de lá, esse "pátio de promessas políticas" precisa ser reconstruído e implementado para quebrar o ditado popular que diz: falar é fácil, quero ver na prática.
Reunir o chefão mundial era a cena que faltava no capítulo final da série: chineses invadem a Bahia. E aconteceu ontem quando Wang Chuanfu garantiu inovação e tecnologia. Dois valores que precisarão de mão de obra especializada para criação do centro de desenvolvimento e pesquisas. A BYD quer transformar Camaçari em uma "nova China".
Certamente vamos ver gente estagiar do outro lado do mundo para aprender, pois quem sabe ensina, quem não sabe pergunta. O inglês e o mandarim serão as novas línguas locais no espaço baiano.
A "revolução" tecnológica deve chegar em mais um ano ao lugar que um dia produziu o SUV mais desejado do Brasil, o Ford EcoSport. Hoje, Camaçari está quase deserta e sabemos desde já que o complexo industrial demandará investimento pesado da China e um baita cumprimento de benefícios fiscais por parte do governo.
A fórmula da fabricação, dos produtos, baterias e derivados além dos carros, nós desconhecemos. Os chineses são misteriosos e tudo por aqui é muito novo.
A BYD sabe que o horizonte elétrico em céu de brigadeiro está ameaçado pela nova tributação do governo - dói escrever 35% de desincentivo ao futuro BEV. Compreendo que as alternativas do etanol estão em pauta, mas não podem transformar o país em uma ilha. O governo comprou a ideia e, depois de debater a questão com as montadoras locais, chamou a Anfavea para ser madrinha do novo imposto.
Os chineses, sem falar de política ou mencionar quem quer que seja, estão sentados em cima de um baú cheio de dinheiro. Muita grana para colocar na rua a próxima fase do plano, dita diretamente pela vice-presidente Stella Lee ao colunista que vos escreve: "vamos liderar no segmento que somos especialistas".
A liderança dos asiáticos parece inquestionável para o futuro, vide até o que já vem aprontando em termos de emplacamentos a concorrente GWM. E tudo na velocidade que assisto desde o último ano.
No portfólio BYD, o Song Plus será fabricado na Bahia e certamente receberá o visual que vi no Salão de Munique, no mês passado. O utilitário híbrido será a melhor aposta, mas não descarte a picape como produto mais lucrativo do futuro polo automotivo chinês. Dolphin e Seagull estão no cardápio de fabricação porque os elétricos feitos no Brasil poderão ganhar um apelo fiscal diferenciado.
A Ford não iria colocar água no chopp do governo baiano e, na semana passada, aprovou acordo para utilização imediata da fábrica de Camaçari. A assinatura do contrato de transação para reversão da fábrica no Estado da Bahia permitiu a cerimônia. O processo garantiu a utilização imediata do imóvel pelo estado, que despachou o acordo com a BYD.
Para explicar melhor: a assinatura do capítulo final que envolveu Ford e a Bahia foi o encerramento das negociações entre a montadora e a Estado. Lá trás, juntos, construíram uma história no polo automotivo e agora finalizaram um namoro que já tinha acabado faz tempo.
A BYD está no Brasil desde 2015, atuando em Campinas na produção de chassis de ônibus elétricos e painéis fotovoltaicos. Em Manaus montou uma planta de baterias de fosfato de ferro-lítio e entra na produção de veículos com os benefícios da lei 7.537/99 do programa de incentivo ao setor automotivo da Bahia.
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