Jorge Moraes

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Mercedes encolhe no Brasil e não dá para culpar os chineses por isso

Quem gosta de carro e é um observador atento às ruas deve ter notado que está cada vez mais difícil encontrar um carro novo da Mercedes-Benz rodando por aqui. A impressão que já havíamos tido foi relatada também por alguns leitores e fomos atrás de números para saber se essa constatação é embasada pelos emplacamentos.

Vamos comparar os números de vendas da Mercedes no último ano antes da pandemia com os emplacamentos atuais. Como o ano ainda não acabou, vamos usar o intervalo de janeiro a setembro como referência.

Nesse período de nove meses, em 2019, a marca alemã tinha vendido 7.325 unidades e o sedã Classe C era o best-seller com mais de 2.600 emplacamentos. Já entre janeiro e setembro de 2023 o acumulado da Mercedes é de 3.194 vendas e o carro de passeio mais vendido é o SUV de sete lugares GLB com 740 unidades emplacadas. O sedã caiu para a segunda posição com 590 modelos vendidos.

É necessário ressaltar que as vendas caíram no setor automotivo em geral no Brasil após a pandemia. Nos primeiros nove meses de 2019 foram vendidos 1.645.415 carros no país, enquanto no mesmo período deste ano as vendas estão acumuladas em 1.209.293 unidades.

Mas quando falamos de encolhimento da Mercedes no mercado não estamos olhando apenas para os números absolutos. A marca da estrela perdeu e muito em participação de mercado. Ao fim de setembro de 2019, a montadora alemã ocupava a 16ª posição no ranking da Fenabrave (Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores) com 0,45% de market share na venda de automóveis de passeio. Foi nessa posição que ela terminou aquele ano.

Ela estava à frente, por exemplo, de Audi, Volvo, Porsche e Land Rover, que são suas concorrentes diretas no mercado premium e de esportivos. Hoje a história é bem diferente.

No acumulado de 2023, a Mercedes desponta apenas na 21ª posição no ranking de vendas de automóveis. Sua participação de mercado caiu quase pela metade, passando para apenas 0,26%. Dessa forma, a gigante alemã foi ultrapassada pelas rivais citadas acima e ainda viu novas marcas superá-la sem nenhuma cerimônia.

Para ficar claro que essa queda acentuada não é normal, mesmo com a redução geral da vendas, vamos pegar os números de participação de mercado da Audi, outra marca alemã que tem um público-alvo bem similar ao da Mercedes.

A montadora das quatro argolas, pertencente ao Grupo Volkswagen, ocupava a 17ª posição de mercado com 0,38% de market share no período que estamos analisando em 2019. Hoje, no acumulado de 2023, a Audi está na mesma posição (17ª) com 0,36% de participação de mercado, uma queda bem menor que a da concorrente também alemã.

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Mas o que aconteceu para que a Mercedes encolhesse tanto em nosso mercado? Culpar a chegada das marcas chinesas não faz muito sentido, afinal mostramos que a Audi praticamente não perdeu participação e outra alemã cresceu, que é o caso da BMW.

BYD e GWM ocupam hoje a 14ª e 15ª posições no ranking de vendas no acumulado deste ano com 0,50% e 0,49% de participação, respectivamente. Vale também citar a Volvo. A sueca é uma das poucas marcas que atuavam em 2019 em nosso mercado e hoje tem números maiores. Mesmo considerando as três citadas em um patamar diferente, mas disputa o cliente.

A Volvo vendeu 5.459 unidades entre janeiro e setembro de 2019 e tinha 0,33% de share na 18ª posição e hoje acumula 5.745 emplacamentos com 0,48% de participação na 16ª posição.

Uma das razões que podem ter pesado nessa queda da Mercedes nós ouvimos de alguns clientes tradicionais da marca, que precisaram "descer um degrau" devido aos elevados preços praticados pela montadora alemã nos últimos anos.

Os aumentos sucessivos de preços atingiram praticamente todas as montadoras e já falamos aqui sobre a prática de bonificação que corrige a tabela na marra. Mas vamos pegar o best-seller da Mercedes como exemplo da subida recente de preços. O GLB 200 foi lançado no Brasil no fim de 2020 por R$ 299.900 e hoje tem valor de tabela na linha 2023 por R$ 386.900.

A demora para trazer veículos 100% elétricos para o Brasil também pode ter pesado na migração de clientes para marcas ligadas na tomada, como Volvo, BYD e GWM. Esse erro a Audi, por exemplo, não cometeu com a chegada do SUV e-tron há alguns anos.

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Vamos ver como será o movimento da Mercedes nos próximos meses. Se a chegada dos elétricos da família EQ será suficiente para reaquecer o mercado para a marca ou se ela terá que se contentar com as últimas posições no ranking de vendas nacional. Isso sem contar a distância para o rival direto BMW, que acertou na fábrica e na variedade de ofertas montadas no Brasil.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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