Jorge Moraes

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Montadoras temem invasão chinesa e falam em fábricas fechadas ainda em 2024

A disputa entre as montadoras em relação aos impostos de importação para carros elétricos, em especial os modelos vindo da China por marcas como BYD e GWM, continua intenso. Na última quinta-feira (5), durante a coletiva da Anfavea, o tom do debate assumiu até um direcionamento de ameaça.

"Se o Brasil não rever isto imediatamente, nós corremos o risco de ter a produção impactada, inclusive com o fechamento de fábricas já no segundo semestre," alertou o presidente da Anfavea, Marcio de Lima Leite.

Na coletiva, o CEO da Volkswagen no Brasil, Ciro Possobom, pediu a volta do imposto de forma imediata. "O que a gente pede claramente é voltar isso [imposto para eletrificados importados] para 35% e estimular a indústria local. Eu acho que isso é interesse para todos os brasileiros", destacou.

Vale destacar que a Volkswagen não comercializa nenhum produto eletrificado no Brasil. O ID.Buzz e o ID.4 estão disponíveis apenas por meio de assinatura pelo Sign&Drive.

Ao longo da apresentação, um dos principais temas discutidos foi o desequilíbrio da balança comercial, com um volume maior de importações do que de exportações. "A importação tem sido responsável pela mudança na nossa estratégia e a gente precisa estar atento ao que está acontecendo," destacou Leite.

No primeiro semestre de 2024, foram quase 200 mil emplacamentos de importados, 38% mais que no mesmo período de 2023. A China representou 78% das importações, com alta de 449%. O alerta de tensão já foi ligado.

Ainda sobre a balança comercial, Leite ressaltou que as importações afetam tanto as empresas fabricantes como o setor de autopeças. "Você tira emprego das montadoras, dos fabricantes. O efeito é duas vezes desastroso", disse.

Uma das questões é que o gestor da Anfavea ainda destacou que caso não haja regulamentação e desburocratização, isso pode colocar em risco os R$ 130 bilhões de investimento anunciados pelas montadoras ao Brasil.

Falta produto de qualidade

Na avaliação do professor de MBAs da FGV e especialista no setor automobilístico, Antônio Jorge Martins, as empresas tradicionais não têm produtos para fazerem concorrência às empresas chinesas. "Eles também podem importar os veículos. Mas não fazem isso, porque nem lá fora eles têm produtos para concorrer com os chineses", afirma.

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"As montadoras chinesas têm veículos menores com muita tecnologia e preço mais reduzido. Se essas empresas tivessem evoluído nos últimos anos, teriam produtos a altura para concorrer", complementa.

Ainda segundo Martins, todas as empresas terão que se adequar a uma nova realidade. "O que está em jogo hoje tem a vertente calcada na competitividade e todas precisam evoluir para atender os anseios dos consumidores", diz.

Importações da China

No primeiro semestre de 2023, 65% das importações vinham da Argentina e apenas 7% eram da China. Neste primeiro semestre, as importações da Argentina caíram para 45% e as da China subiram para 26%.

"A China teve uma política automotiva extremamente protecionista na fase que precisava criar a indústria automobilística e agora vem abaixando", justificou o presidente da Anfavea, que vem dialogando com o governo para antecipar os impostos.

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*Colaborou Rodrigo Barros

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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