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Kelly Fernandes

Como ônibus elétrico pode mudar realidade do transporte nos grandes centros

Willian Moreira/Futura Press/Folhapress
Imagem: Willian Moreira/Futura Press/Folhapress

Colunista do UOL

06/11/2020 04h00

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A mobilidade elétrica trata da substituição total ou parcial de motores de combustão interna por propulsores elétricos. O setor automotivo é o que mais se destaca quando o assunto é eletromobilidade, impulsionado pelo aumento da demanda do mercado global e amparado pelas adequações produtivas em montadoras e fornecedores. Mas a mobilidade elétrica não é só para os carros.

Utilizar energia elétrica ao invés de gasolina ou diesel reduz a emissão de poluentes atmosféricos, responsáveis pelo surgimento e/ou agravamento de doenças crônicas, de gases do efeito estufa (GEE) e de poluição sonora.

Em vista disso, a inserção de novas tecnologias também pode ser utilizada a serviço de mudanças sistêmicas no transporte público coletivo por ônibus para contribuir com o desenvolvimento sustentável social e econômico.

Transições tecnológicas podem ser maneiras de redesenhar o papel dos serviços de transporte público coletivo. Historicamente deixado à margem dos investimentos públicos em mobilidade, o transporte por ônibus contribuiu para o acelerado crescimento urbano das cidades brasileiras.

Justamente por esse motivo, esse é um meio de transporte essencial para o acesso a centros econômicos e culturais que estão cada vez mais distantes dos locais onde mora a maioria da população.

De acordo com Marcus Regis, coordenador de projeto da Empresa Alemã de Cooperação Internacional GIZ, "transporte leva e traz pessoas, mas também traz desenvolvimento". Ao associar transição tecnológica com desenvolvimento local, Regis ressalta a capacidade humana e técnica existente no Brasil, que, se empregada no sentido de atender a demanda interna por mais quantidade e melhor qualidade de transporte para pessoas pode, entre outras coisas, alavancar a indústria nacional.

Segundo a Pesquisa de Informações Básicas Municipais realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2018), somente cerca de 30% dos municípios brasileiros possuem transporte público coletivo próprio.

Essa escassez de transporte coletivo também é realidade nas capitais e nas regiões metropolitanas, onde a população sofre com longos tempos de espera no ponto de ônibus ou precisa realizar extensos e exaustivos trajetos até chegar ao local de embarque mais próximo.

O custo dos serviços de transporte é sempre utilizado como justificativa para frear investimentos. Regis também afirma que a "conta" do transporte público não fecha no preço da passagem, ao mesmo tempo que ressalta como a expansão e a qualificação do sistema podem promover o desenvolvimento local e nacional de forma integrada, gerando mais empregos e melhorando a qualidade de vida da população.

"Mudar exige um custo enorme, mas custa muito mais não fazer nada. Custos que são ambientais, mas também são sociais e econômicos", diz.
Os desafios para a expansão e inovação tecnológica do setor de transporte passam por mudanças culturais, que, por sua vez, precisam influenciar a redefinição de políticas públicas, oportunidades de financiamento e de desenvolvimento tecnológico.

A construção de ambientes de inovação como plataforma para o setor pode ter por referência experiências como o Clean Air Action Plan (Plano de Ação Ar do Limpo) de Amsterdam-HOL, onde a eletromobilidade é estratégica para o alcance de seus objetivos.

No entanto, é importante se atentar para o fato de que uma estratégia para o Brasil precisa incluir perspectivas que considerem não só os diferentes portes populacionais, como também as diferenças de nível econômico, político e social e as assimetrias regionais.

"É preciso que do diálogo entre os setores público e privado e a sociedade saia uma estratégia inclusiva, realista e adequadas às necessidades das cidades brasileiras, além de viável", enfatiza Regis.

O coordenador de projetos da GIZ, que também é coordenador-executivo da Plataforma Nacional de Mobilidade Elétrica (PNME), relata que dá trabalho trazer governo federal, estadual e municipal, junto com a indústria e a sociedade civil, para falar de problemas que afetam e interessam a todos.

Por isso, foi criada a PNME, que agrega mais de 30 instituições da indústria, governo, sociedade civil e academia, como tentativa de trazer essa pluralidade de opiniões sobre o mesmo assunto e unificar o debate.

Entre os dias 16 e 19 de novembro acontecerá um evento online e gratuito sobre o tema: a 1ª Conferência da Plataforma Nacional de Mobilidade Elétrica (PNME). Como parte da estratégia da plataforma de facilitação de diálogos entre especialistas, responsáveis por gestões, pessoas da academia, entre outras. A conferência abordará e desdobrará temas apresentados na coluna de hoje.