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Kelly Fernandes

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Associação movimenta comunidades do Recife com bicicletas compartilhadas

Divulgação
Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

28/05/2021 04h00Atualizada em 28/05/2021 17h43

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A Ameciclo (Associação Metropolitana de Ciclistas do Recife) é uma organização da sociedade civil recifense criada em 2013, ano que também é marco histórico de outras articulações que giram em torno da defesa dos direitos de quem caminha, pedala e usa transporte público coletivo.

Dentre muitos processos desenvolvidos pela Ameciclo ao longo da sua trajetória, hoje o destaque vai para o "Bota pra Rodar", que disponibiliza bicicletas de uso compartilhado para pessoas moradoras dos bairros Torre e Ilha do Retiro, localizados na Zona Oeste do município de Recife (PE).

Para conhecer mais sobre o projeto, conversei com Thuanne Teixeira, coordenadora da Ameciclo e do "Bota pra Rodar". Na entrevista, ela conta sobre o projeto que tem colocado a vida das pessoas de duas comunidades em movimento, apontando perspectivas e desafios.

Kelly Fernandes: você poderia contar para a gente um pouco mais sobre o projeto? O que motivou a criação do "Bota pra Rodar: e quais aspectos da realidade das pessoas ou da cidade o tornam tão necessário?

Thuanne Teixeira: o 'Bota pra Rodar' foi inspirado no movimento PROVO [movimento neerlandês], que na década de 1960 deixava bicicletas brancas soltas nas ruas para que as pessoas pudessem utilizá-las. Então, dentro do contexto da cidade de Recife, que é uma das capitais mais desiguais do País, ressalto a missão da Ameciclo de "transformar a cidade, através da bicicleta, em um ambiente mais humano, democrático e sustentável". Entendendo que a mobilidade é um direito que leva as pessoas a exercerem outros direitos, vimos na bicicleta a oportunidade de fornecer uma ferramenta de acesso à cidade e aos direitos básicos, como lazer e saúde.

KF: em quais locais o "Bota pra Rodar" está? Onde mais vocês gostariam que ele estivesse?

TT: o "Bota pra Rodar" está em dois bairros da zona leste, Torre e Ilha do Retiro. Mais especificamente, em comunidades que ficam dentro desses bairros: a Vila Santa Luzia [bairro da Torre] e Caranguejo Tabaiares [Ilha do Retiro], lugares de extrema vulnerabilidade socioeconômica.

Foi possível instalar o "Bota pra Rodar" nesses lugares por meio de parcerias. Na Torre conseguimos um lugar físico para deixar a bicicleta graças à parceria com a Instituição Cepas (Centro De Ensino Popular E Assistência Social De Pernambuco Santa Paula Frassinetti). Em Caranguejo Tabaiares, fizemos uma articulação com a Biblioteca Comunitária.

Em uma das comunidades são cobrados R$ 2 para usar a bicicleta durante o dia todo, valor que é menos da metade do preço da passagem do ônibus mais barato. Ou seja, as pessoas também acabam economizando tempo e dinheiro. E sim, a gente pretende espalhar o "Bota pra Rodar".

Quanto mais botar pra rodar, melhor! Mas, para isso, precisamos de financiamento. A Ameciclo, recentemente, passou em um edital da Prefeitura de Recife, no entanto o recurso ainda não foi liberado. Mas já existem comunidades interessadas no projeto porque a gente saiu no jornal.

KF: como funciona o "Bota pra Rodar" e quais são os principais desafios que vocês enfrentam para manter o projeto?

TT: o projeto funciona através de campanhas de arrecadação de bicicletas usadas. A gente também se inscreve em editais para financiamento porque precisamos de recursos para manter a articulação e o projeto, principalmente para fazer a compra das ferramentas e peças para troca, porque as bicicletas que chegam usadas muitas vezes estão em condições muito precárias e acabamos substituindo muita coisa.

Fazemos a campanha de arrecadação e quando conseguimos as bicicletas nós as reformamos e restauramos com a ajuda da comunidade durante cursos de mecânica básica. Ao final, as bicicletas prontas são compartilhadas e tornam-se comunitárias.

KF: quem usa mais as bicicletas?

TT: como o "Bota pra Rodar" tem um aplicativo, as pessoas são cadastradas para poder tirar a bicicleta. O perfil é bem variado em termos de gênero, mas até hoje ninguém se cadastrou como uma pessoa não-binária. Quanto a idade, a maior parte são pessoas jovens ou adultas, mas acredito que não haja muitas pessoas idosas cadastradas. E não tem crianças, porque as bicicletas são grandes.

Muitas pessoas jovens vão para a bicicleta e os adultos a utilizam para ir ao trabalho ou para a instituição de educação. Além disso, para retirar as bicicletas, precisa ter documento e um comprovante de residência.

KF: quais falas ou experiências com pessoas alcançadas pelo Bota pra Rodar motivam a Ameciclo e as pessoas diretamente relacionadas com o projeto? Tem alguma situação em especial que você destacaria?

TT: eu destacaria como a bicicleta colabora com a dinâmica do dia a dia, porque a gente está lidando com pessoas que estão em situação de vulnerabilidade socioeconômica. São pessoas que não têm dinheiro para pegar ônibus e elas se veem imobilizadas, literalmente, dentro da própria comunidade, e a bicicleta permite a resolução de questões cotidianas.

Por exemplo, uma usuária de uma das unidades do Bota pra Rodar um dia foi levar a criança dela na creche, voltou e disse que naquele dia conseguiria costurar por conta da economia de tempo possibilitada pela bicicleta.

Assim acaba a entrevista com a Thuanne, deixando aquela sensação de que a vida ganhou movimento com, e assim como, as rodas das bicicletas que o projeto "Bota pra Rodar". A Ameciclo está com uma campanha de arrecadação e você pode contribuir diretamente com o projeto. Acesse as redes sociais da associação e saiba mais.