Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Precisamos preparar sistema de transporte para eventos climáticos extremos
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Na China, vídeos mostram pessoas com água até o pescoço em um vagão de metrô da cidade de Zhengzhou. Enquanto isso, vilarejos inteiros da Alemanha foram transformados em escombros após enchentes de proporções nunca vistas. Ao mesmo tempo, a humanidade tenta controlar uma pandemia global que já ceifou mais de 4 milhões de vidas. Provas de que a mudança climática já é uma crise consolidada.
Segundo o relatório especial do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), divulgado em 2018, nos próximos 100 anos o nível médio do mar poderá subir cerca de 0,26 m a 0,77 m; e a temperatura média global poderá aumentar entre 1,8°C e 4,0°C.
As duas previsões consideram que o aumento do aquecimento global não ultrapasse 1,5ºC - ou caso supere essa marcação alcance no máximo 2ºC - de variação em relação ao período pré-industrial o que só é possível se reduzirmos drasticamente a emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE), entre eles o dióxido de carbono (CO²) emitido por veículos movidos a combustíveis fósseis, como carros, motos, caminhões etc.
Os limites de aumento da temperatura global foram firmados em 2015 por meio do Acordo de Paris durante a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Os países que fazem parte do Acordo, como o Brasil, precisam elaborar a cada cinco anos suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês), que, como o nome já indica, tratam de quanto cada país irá contribuir para a redução de emissões globais de GEE. E quanto menos nos aproximarmos da meta que define o limite do aquecimento global, maiores são as chances de controlar o aumento do nível do mar e da temperatura, logo, de proteger e conservar a vida no planeta.
Mais do que levar a meta a sério, dada a gravidade do cenário, é preciso que todos os setores se mobilizem, inclusive o da mobilidade urbana. Para tanto, precisamos tratar de um tema muitas vezes esquecido quando o assunto são investimentos em sistemas de transporte: adaptação.
Em síntese, o projeto de Adaptação na Mobilidade Urbana visa desenvolver conteúdos que estejam alinhados com o objetivo de reduzir a exposição e vulnerabilidade das pessoas em relação aos efeitos inevitáveis da mudança no clima. Para tanto, são necessárias adaptações planejadas que considerem a ocorrência de eventos extremos. Ou seja, com níveis, períodos e intervalos acima da média histórica, a exemplo: demasiadamente quentes e seguidos de chuvas intensas e concentradas.
E, ao falar sobre vulnerabilidade e exposição no Brasil, é preciso apontar para o fato que as pessoas mais sujeitas são aquelas de menor renda, sendo em sua maioria negras (pretas e pardas), moradoras de áreas de risco, majoritariamente distantes de áreas com provisão de equipamentos públicos e urbanos.
Muitas dessas pessoas já sentem na pele os efeitos da mudança climática, pois ficam presas em vagões parados entre estações porque problemas técnicos comprometeram a operação em dias de chuva. Ou são expostas a situações ainda mais dramáticas, como deslizamentos e enchentes que impedem a volta para casa, seja porque percorrer o trajeto tornou-se impossível, seja por suas casas terem sido destruídas.
O cenário é crítico em escala local, mas também em escala global, tornando cada vez mais comuns cenas de pessoas atravessando quilômetros no mar, no céu e na terra para encontrar um abrigo seguro, onde possam dormir, comer e cuidar de si e da família com a certeza de acordar no dia de amanhã. Segundo estimativas do Banco Mundial, após a pandemia do novo coronavírus até 150 milhões de pessoas estarão em condição de extrema pobreza até 2021, o que significa dispor de menos de US$1,90 por dia para viver.
Em junho deste ano, a Prefeitura de São Paulo lançou o Planclima SP (Plano de Ação Climática do Município de São Paulo) -elaborado com o apoio da rede internacional de cidades que integram o grupo de Grandes Cidades para a Liderança Climática (C40). O Plano visa mitigar as emissões de GEE na cidade, mas também adaptar os índices de emissão aos cenários futuros, com estratégias que vão desde melhorar o caminho até o ponto de ônibus a aperfeiçoar os protocolos de paralisação preventiva do sistema de mobilidade no caso de eventos extremos.
A capital paulista não é a primeira a lançar um plano com tais determinações. A cidade de São Paulo está alinhada com outras iniciativas nacionais e globais, as quais exigem o reposicionamento das pessoas envolvidas com a construção de políticas, planos e projetos de mobilidade urbana.
Outras medidas para a adaptação do sistema de transporte podem ser a criação de barreiras para conter o aumento do nível do mar, planejamento de rotas estratégicas em caso de eventos extremos, melhoria das condições de conforto térmico durante deslocamentos, investimento para aumento da resiliência da infraestrutura de transporte de cargas, estreitamento do diálogo entre técnicos de diferentes áreas e outras ações necessárias ao cuidado e à manutenção da vida desta e das próximas gerações.
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