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Kelly Fernandes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lula na COP 27 é convite para pensar o papel do transporte para o clima

Ahmad Gharabli/AFP
Imagem: Ahmad Gharabli/AFP

Colunista do UOL

18/11/2022 04h00

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Vários acontecimentos recentes nos convidam a pensar no futuro. Hoje quero chamar a atenção para dois deles. O primeiro está relacionado com a eleição de 2022, na qual o presidente eleito foi Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula. A vitória de Lula indica uma mudança de governo - portanto, de agenda política - com construção iniciada por uma equipe de transição a partir do plano de governo elaborado no início da corrida eleitoral.

A equipe de transição tem a responsabilidade de construir um diagnóstico sobre o cenário atual através de dados e informações fornecidas pelo atual governo, assim como por meio do diálogo com atores e representantes de setores estratégicos. Depois desse primeiro diagnóstico, a equipe precisa construir uma proposta e dimensionar quais são os investimentos necessários para abrir caminho para a nova agenda. Por exemplo, com a criação de novos ministérios, reposicionamento de pautas, desenvolvimento de novos programas, ajustes orçamentários e outras definições estratégicas.

O segundo acontecimento é a realização da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), conhecida como Conferência das Partes (COP). O evento, em sua 27ª edição, reúne lideranças sociais, políticas e econômicas do mundo todo para tratar sobre as Mudanças Climáticas. Este ano a COP 27 acontece entre os dias 6 e 18 de novembro em Sharm El-Sheikh, no Egito.

Antes do início da conferência, a organização do evento já anunciou a centralidade de temas como financiamento e adaptação ao clima. Ambos temas chave para a proteção dos países mais suscetíveis aos efeitos do aquecimento global, seja por vulnerabilidades sociais e territoriais, seja por injustiças econômicas históricas que impossibilitam investimentos para proteger suas populações e biodiversidade.

Na última quarta-feira (17/11), os dois acontecimentos que provocaram reflexões sobre o futuro cruzaram-se durante a participação do presidente Lula na COP 27. "O Brasil voltou!",foi uma das falas mais enfáticas ditas pelo futuro dirigente da maior economia da América Latina. Frase que expressa um reposicionamento do Brasil quando o assunto é mudança do clima, portanto, um novo papel da temática na agenda política nacional frente à emergência global.

Isso, em um momento em que os efeitos do aquecimento global intensificam-se, enquanto a humanidade dá passos lentos - ou, por vezes, retrocede - quando o assunto é manter o aumento da temperatura global em 1.5 graus em relação ao período pré-industrial. Fracassar nisso significa cidades e países inteiros enfrentando o aumento do nível do mar, a intensificação das chuvas e o prolongamento dos períodos de seca.

Antes que você estranhe a temática da coluna de hoje, o reposicionamento da agenda climática na política brasileira também passa pelas cidades, que, na América Latina, são as mais urbanizadas entre os países em desenvolvimento.

E, no mundo, as cidades são responsáveis por aproximadamente 75% da emissões de GEE, tendo o transporte como o principal emissor devido a ineficiências do sistema relacionadas com padrões de urbanização que alongam o tempo e recursos gastos com transporte, cujos impactos negativos são maximizados pelo uso de combustíveis fósseis e estímulo ao automóveis.

Lembrando que falta clareza sobre o papel do setor de transporte para o alcance das metas, as quais podem ser traduzidas no comprometimento do poder público com a redução das distâncias entre moradia e emprego; estímulo ao uso de meio de transporte sustentáveis, como ônibus, metrô e bicicletas; substituição de tecnologias veiculares; substituição de combustíveis fósseis por fontes de energia renovável.

Essas, entre outras soluções, para além de contribuir para a redução de emissões de GEE, contribuem para processos transparentes, inclusivos, participativos e para a criação de ambientes urbanos mais saudáveis e com melhor desenvolvimento econômico, com oportunidades de emprego e reposicionamento do Brasil como produtor de tecnologias verdes e limpas, ou seja, menos emissoras.

Ainda tratando da fala do futuro presidente, é importante evidenciar o interesse em receber a COP no Brasil em 2025, mais precisamente em uma cidade amazônica.

Anunciando a clara intenção de aproximar as lideranças globais da realidade que permeia o cotidiano de quem habita e região, em um contexto em que 75% das pessoas que vivem na Região Norte do país estão em cidades e realizam deslocamentos através transporte aquaviário, meio de transporte com pouco espaço em planos e projetos nacionais.

Em barcos e balsas, a população da amazônia contorna diariamente a ausência de infraestrutura e preços altos provenientes da ausência de regulação, escassez de combustível e falta de planejamento regional.

Cruzar interesses locais e globais é o caminho para o desenvolvimento urbano sustentável, porém, precisamos atacar as causas, não apenas os efeitos.

Para ter mais clareza, é necessário olhar para como as pessoas vivem, quais são suas necessidades e as razões pelas quais adotam padrões de deslocamentos, consumo e comportamento que vão de encontro com princípios de sustentabilidade ambiental. Essas são algumas das informações cruciais para a conciliação da agenda climática global e local em busca da preservação do planeta e da biodiversidade.

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