Tragédias climáticas: como a omissão dos governos vitima pobres e negros

É no verão que percebemos de maneira mais evidente os impactos da ausência de redes de infraestrutura.

No caminho das águas, junto aos fundos de vale, rios e córregos, a circulação de pessoas sofre com enxurradas, enchentes e deslizamentos de terra.

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Só nas últimas semanas, vários sistemas de transporte sofreram paralisações totais ou parciais em decorrência das fortes chuvas, tal como aconteceu na Linha 7 - Rubi da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) na última terça-feira (7).

Atualmente, a linha está em funcionamento normal, apesar das encostas instáveis ao lado da via.

Tragédias climáticas

Com a alteração da intensidade de eventos climáticos extremos, existe a urgência de mapear, monitorar e implementar ações preventivas para reduzir seus efeitos, assim como criar estratégias para acolher vítimas de tragédias climáticas.

Por tragédias climáticas, entendemos os impactos decorrentes de, por exemplo, chuvas intensas que podem deixar uma cidade inteira debaixo d'água de uma hora pra outra.

Quem mais sofre com o impacto das chuvas são as pessoas empobrecidas, mulheres e pessoas negras, maioria moradora de encostas íngremes.

"Mas eu não tenho para onde ir", é a resposta dada aos profissionais da defesa civil que alertam quem vive em áreas de risco.

Essas pessoas de fato não têm para onde ir, porque no Brasil faltam 5,8 milhões de habitações para atender a demanda populacional e milhares de pessoas vivem em moradias inadequadas ou em áreas de risco geológico,

Isso significa que, a qualquer momento.tais cidadãos podem ser vítimas de deslizamentos de terra e ter suas vidas engolidas por lama.

Racismo ambiental

Portanto, morar em encostas não é uma escolha e, sim, a única alternativa diante da falta de moradia acessível.

Em decorrência da incapacidade de comprar uma casa ou custear o valor de um aluguel, resta viver nos espaços esquecidos das cidades, comumente áreas de fragilidade ambiental e relegadas a escassez de infraestrutura, como nas margens de rios e córregos, em encostas íngremes ou no caminho da água da chuva.

Lugares onde, salvo raras exceções, as obras de melhoria urbana não chegam. Como bem lembrado pela jornalista ambientalista Mariana Belmont nas redes sociais, "racismo ambiental não acontece nos morros de Perdizes".

O termo racismo ambiental foi cunhado pelo Dr. Benjamin Chavis.

Conforme apresentado por Angela Davis no prefácio do livro "Uma ecologia decolonial: pensar a partir do mundo caribenho", de Malcom Ferdinand, Chavis descreve esse conceito como: "a discriminação racial na elaboração de políticas públicas ambientais, a aplicação de regulamentos e leis, o direcionamento deliberado de comunidades racializadas para instalações de resíduos tóxicos, a sanção oficial da presença de venenos e poluentes que representam uma ameaça à vida em nossas comunidades e a história da exclusão de pessoas racializadas dos espaços de lideranças nos movimentos ecológicos."

O termo é abrangente e constata que as principais vítimas das mudanças climáticas e desdobramentos ambientais de condutas irresponsáveis são pessoas negras e empobrecidas, moradoras de cidades, áreas rurais e de florestas.

Transportando o termo para o contexto da mobilidade urbana, constata-se que as pessoas que utilizam o sistema de trens para deslocamentos da franja da região metropolitana para as áreas com concentração de empregos, além de serem relegadas a trajetos de mais de duas horas, são ameaçadas com o risco iminente de um deslizamento, enchente ou pane elétrica durante seu percurso - ou mesmo enquanto dormem intranquilas com o barulho da chuva.

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