Crescimento da frota de motos é maior em cidades do Norte e Nordeste
Nas estatísticas, a frota de motos cresce no Brasil. Nas ruas, motociclistas circulam sem capacete, em alta velocidade e transportando mais pessoas do que o permitido. Tudo isso em meio a ruas estreitas e íngremes de favelas, bairros sem atendimento de transporte coletivo onde os poucos pontos de ônibus existentes carecem de manutenção. Não à toa, o movimento ascendente da taxa de motorização é acompanhado pelo crescimento da taxa de mortalidade e internações relacionadas a sinistros de trânsito envolvendo motocicletas.
Porém, o crescimento da frota de motos não ocorre de maneira homogênea. Segundo o estudo "Tendência e desigualdades da mobilidade urbana no Brasil", publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o aumento da taxa de motorização por motocicletas é maior nas regiões Norte e Nordeste, com destaque para Belém/PA, onde ocorreu o maior aumento percentual no período de análise (2001 - 2020).
Ainda tratando sobre diferenças regionais, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), publicada em 2019, 82,6% da população acima de 18 anos declarou usar capacete ao conduzir uma motocicleta. Entretanto, na Região Nordeste, apenas 68,6% relataram fazer uso desse equipamento - mesmo que em todo o território brasileiro o uso de capacete seja obrigatório tanto para quem pilota, quanto para quem está na garupa de motocicletas, motonetas, ciclomotores, triciclos e quadriciclos motorizados, de acordo com a Resolução nº 453/2013 do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN).
Segundo o artigo "Perfil epidemiológico das vítimas de traumas faciais causados por acidentes motociclísticos", publicado em um periódico científico de Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilo-facial em 2015 e realizado com base em dados do Hospital Regional do Agreste, em Caruaru/PE, entre as pessoas envolvidas em sinistros de trânsito, "a maioria (62,3%) fazia uso de EPI mínimo necessário (capacete) no momento do acidente, no entanto, dos que faziam uso, apenas 35,8% utilizavam capacete integral com viseira; 13,2% faziam uso de capacete aberto com viseira, 7,5% faziam uso de capacete aberto sem viseira, e os demais utilizavam capacete integral sem viseira ou capacete modular.
Além disso, o uso de sistema de retenção do capacete foi de 43,6%. Em relação às motocicletas, as duas potências mais frequentes foram 125cc (45,3%) e 150cc (41,5%), respectivamente.".
O artigo também chama a atenção para o fato de que os sinistros de trânsito são considerados como um dos mais sérios e desafiadores problemas na Traumatologia Bucomaxilofacial.
Porém, é preciso observar outros fatores de risco que envolvem o aumento do número de lesões e mortes envolvendo pessoas que conduzem motocicletas. Conforme o estudo "Fatores de risco para motociclistas no Brasil", do Instituto Cordial, ao menos quatro fatores de risco estão associados à mortalidade es à lesões envolvendo motociclistas: usuário, ambiente viário, veículos e fatores estruturantes.
Elencar tais fatores nos ajuda a observar de maneira mais sistêmica o quadro preocupante do aumento da frota de motos acompanhado de comportamentos imprudentes de quem as conduz e, portanto, aumento de sinistro de trânsito conforme apresentado no início desta coluna.
Pois, para além da má conduta de quem pilota o veículo - como direção agressiva, não utilização do capacete, uso de drogas e demais substâncias ou situações que podem comprometer a consciência -, existem questões urbanas e socioeconômicas como precarização do trabalho, fiscalização deficiente, desenho da infraestrutura viária e infraestrutura limitada de transporte coletivo.
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