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Pai dos SUVs, Jeep CJ-2A tem raiz na 2ª Guerra e legião de fãs no Brasil

Colunista do UOL

17/07/2020 11h00

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(SÃO PAULO) - Ocasional ou intencional, o lançamento do novo Ford Bronco foi na mesma semana em que o Jeep CJ-2A completa 75 anos. Vistas um pouco míopes podem enxergar apenas os parentescos óbvios: são utilitários e têm nacionalidade estadunidense. E daí?

Jeep CJ-2A 1945 - Divulgação  - Divulgação
Jeep CJ-2A 1945
Imagem: Divulgação

E daí que a gênese de ambos está na Segunda Guerra Mundial.

Tudo começou quando os EUA entraram no conflito, jogando no time dos Aliados (Reino Unido, França, União Soviética e Estados Unidos) contra o Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Já em meados de 1940, um comitê dentro das Forças Armadas disparou aos fabricantes de automóveis - que a partir de fevereiro de 1942 suspenderiam a produção civil - especificações para um novo veículo militar: leve, ágil, capaz de carregar quatro soldados e armamentos, versátil o bastante para se converter, por exemplo, em ambulância, e ter tração das quatro rodas.

Jeep 1945 - Divulgação  - Divulgação
Imagem: Divulgação

Apenas American Bantam, Ford e Willys-Overland apresentaram protótipos - BRC40, GP e MA, respectivamente. A Willys levou o braço de ferro por ter o motor mais valente, o "Go Devil", de 60 cv. Elementos dos concorrentes, contudo, foram incorporados, como o capô longo e plano emprestado do Ford.

Agora batizado de MB (modelo militar B, traduzindo), o jipe da Willys começou a ser fabricado em meados de 1941. No fim daquele ano, a Ford fora chamada para incrementar a produção, utilizando as especificações da Willys. Seu jipe então vira GPW.

Ford GPW - RM Sotheby's / divulgação  - RM Sotheby's / divulgação
Ford GPW
Imagem: RM Sotheby's / divulgação

Quanto ao nome Jeep, pelo qual o MB ficou conhecido, duas versões convivem. Uma dá conta de vem da abreviação de "General Purpose", já que aquele era um veículo de propósitos generalizados. Há também a teoria de que o apelido tenha sido emprestado do personagem "Eugene the Jeep", de "Popeye", um animal com superpoderes.

eugene the jeep - Divulgação  - Divulgação
Imagem: Divulgação

Resumindo a importância do Willys Jeep MB, basta lembrar que Dwight D. Eisenhower, general do Exército Americano durante a Segunda Guerra e posteriormente presidente dos EUA (1953 - 1961), elencou o veículo como um dos componentes que garantiram a vitória das Forças Aliadas.

Para Brandt Rosenbusch, historiador da Jeep, "o MB deixou uma marca tão forte nas Forças Armadas e no mundo que o governo o desejou em mãos civis o mais rápido possível. A Willys-Overland então começou a projetar uma versão civil em 1943, e receberam permissão para iniciar a produção em 17 de julho de 1945. Quase um mês antes do fim oficial da guerra".

Foi, portanto, o primeiro veículo de tração nas quatro rodas produzido em massa disponível ao público. Antes disso, caminhões de baixo volume ou veículos militares eram os únicos 4x4.

João Barone é referência quando o assunto é música e bateria - e também jipes militares. "O Jeep é uma espécie de ovo de Colombo: alguém descobriu que um veículo 4x4 é pau pra toda a obra. Independente do conforto, vai a qualquer lugar. E isso ficou evidente durante a Guerra, onde se demonstrou um carro crucial no campo de batalha. Era questão de tempo até o conflito acabar e ele se tornar uma das invenções que encontraria uso na vida civil", avalia o músico, que completa: "no Brasil, onde até hoje tem lugar sem estrada direito, ele se adaptou muito bem, sobretudo nas áreas rurais. E, além do Fusca, muita gente aprendeu a dirigir em um jipe".

Barone e seu Jeep - Arquivo pessoal  - Arquivo pessoal
Barone entre seu Willys MB 1944 e um Wrangler da geração anterior
Imagem: Arquivo pessoal

Por aqui, começou a ser montado em 1954 em São Bernardo do Campo (SP) pela Willys-Overland do Brasil e seguiu até 1983, quando a Ford - que comprara a conterrânea em 1967 - o descontinuou. Para acomodar o motor de quatro cilindros Hurricane, tinha grade frontal e capô mais altos que o antecessor militar.

Brandt complementa a visão de Barone sobre um dos veículos mais relevantes do planeta. "O CJ-2A foi usado para uma incrível variedade de trabalhos: na agricultura, como veículo de entrega e até serviço florestal. Ele atendia todas as necessidades. A Willys chegou a comercializá-lo como o "Universal", porque era muito versátil".

Ainda de acordo com o historiador, é difícil imaginar um mundo sem o Jeep. "Acredito que alguém teria inventado algo pelo menos semelhante, mas naquele momento o mundo precisava de algo que não tinha visto antes. Muitas grandes mentes começaram a criá-lo com um propósito: ganhar uma guerra", reflete.

Carro de coleção

O CJ-2A, assim como seus antecessores militares, estão em alta. Talvez os mais raros sejam os MA, que não passam das 1.500 unidades fabricadas, segundo Brandt. Mas há quem procure os MB e também os civis para colecionar.

Angelo Meliani tem uma oficina de restauração no bairro do Ipiranga (SP) especializada em 4x4, sobretudo nos Willys. Diz ter perdido a conta de quantos passaram por lá. São quase 30 anos mexendo com esses carros. E a demanda não para.

Angelo Meliani - Arquivo pessoal  - Arquivo pessoal
Oficina do Angelo Meliani, no Ipiranga (SP)
Imagem: Arquivo pessoal

"Sem pegar mais nenhum projeto, tenho trabalho pelos próximos dois anos, tanto para modelos civis quanto para militares", comemora.

Meliani não é apenas um restaurador. Tem verdadeiro amor pelos jipes. "Quando dá na telha, fechamos a oficina e vamos fazer um trilha", brinca o restaurador, que tem uma biblioteca no segundo andar da oficina avaliada em cerca de R$ 30 mil. "Herdei a paixão por jipes do meu pai, com quem trabalhei por 22 anos", conta.

Segundo ele, 70% das peças de reposição fabricadas hoje são de boa qualidade. Algumas raras têm que ser importadas. "Depende da configuração que o cliente quer. Se for rigoroso e quiser até o rádio que vinha nos jipes, daí tem que importar", explica.

Do CJ ao Wrangler

O CJ (abreviação de Civilian Jeep, ou jipe civil) também foi o primeiro a exibir a grade dianteira com sete fendas (duas a menos que no MB), marca registrada dos veículos da marca.

Jeep CJ-2A 1945 - Divulgação  - Divulgação
Jeep CJ-2A 1945
Imagem: Divulgação

Havia poucas mudanças em relação ao modelo do combate. Porta traseira foi incluída, o estepe agora ia pendurado na lateral, faróis maiores, tampa de combustível externa e novo câmbio. O motor, contudo, era o mesmo. Na vida longe de tiros e bombardeios, trocava soldados por agricultores e tantos outros trabalhadores que precisavam de um utilitário parrudo e sem frescuras.

Em 1949, o modelo é sucedido pelo CJ-3A, que passou a ter para-brisas de peça única e eixo traseiro mais forte, mantendo o motor original. Em 1953 uma leve atualização levou ao CJ-3B. No mesmo ano a Willys-Overland foi vendida para a Kaiser Company por US$ 60 milhões. A ideia era ampliar a gama Jeep, o que levou ao CJ-5, maior que o CJ-3B.

CJ-5 1973 - Divulgação  - Divulgação
CJ-5 1973
Imagem: Divulgação

"Nos 16 anos de propriedade da Kaiser, fábricas foram estabelecidas em 30 países e veículos Jeep foram comercializados em mais de 150 nações", informa a Jeep. Em 1970, a Kaiser Jeep foi adquirida pela American Motors Corporation (AMC), que a partir de 1973 instalaria motores V8 na linha CJ.

Wrangler 97 - Divulgação - Divulgação
Wrangler 1997
Imagem: Divulgação

Em 1986, com mais de 1,5 milhão de unidades fabricadas, o CJ abre caminho para o Wrangler - que hoje, vejam só, é o principal rival do...Ford Bronco.