Quer saber mais sobre jipes militares? Pergunte ao João Barone
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(SÃO PAULO) - Ser baterista d'Os Paralamas do Sucesso, uma das bandas seminais do rock nacional, talvez seja a principal credencial de João Barone. Mas sua contribuição para a cultura vai além da música: por 20 dos seus 57 anos dedicou-se a desvendar histórias nem sempre conhecidas sobre brasileiros na Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945). No Twitter, sua apresentação entrega: "Bateria; Brasil na Segunda Guerra".
Um daqueles brasileiros é João Lavor Reis e Silva, pai do baterista. Falecido em 2000, fora um dos 25 mil combatentes da Força Expedicionária Brasileira, agrupamento militar enviado à Europa para reforçar as tropas dos Aliados (Reino Unido, França, União Soviética e Estados Unidos) contra o Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Daí nasce o fascínio pelo tema e dois livros a respeito: A Minha Segunda Guerra (2006, ed. Panda Books) e 1942 - O Brasil e Sua Guerra Quase Desconhecida (2013, ed. Nova Fronteira).
Documentários Barone já fez três. Em Um Brasileiro No Dia D, narra a trajetória de Pierre Clostermann, aviador curitibano que participou do desembarque aliado na Normandia, no famoso Dia D. O Caminho Dos Heróis é uma espécie de reprise das andanças dos soldados da FEB pela Itália. Detalhe: nas duas ocasiões despachou um dos seus jipes militares para (respectivamente) França e Itália. Afinal, esses carros também foram protagonistas no combate.
O terceiro nasceu do segundo livro, dividido em episódios para o canal Philos.
E vem mais por aí: além de uma minissérie sobre a FEB, Barone prepara um programa sobre automobilismo histórico.
O músico carioca ainda é um dos fundadores do Clube dos Veículos Militares Antigos do Rio de Janeiro (CVMARJ). Gentil e vibrantemente resumiu a esta coluna como a Segunda Guerra e os jipes militares também fazem parte de quem o músico, escritor, pesquisador e documentarista é.
"Do pouco que comentava da experiência dele na guerra, meu pai contava que dirigia um jipe. Certa vez, ao rebocar um carregamento de munições, se viu sob fogo inimigo. Então teve que se virar ao volante do jipe para fugir, quando chegou a ter uma concussão no tímpano. Aí você pode imaginar que eu e meus irmãos (eu sou o mais novo) o idealizávamos como um herói de guerra, daqueles heróis silenciosos. Ele nunca falou da guerra de modo glamourizado.
E foi assim que crescemos ao longo dos anos 1960: vendo filmes e séries de guerra na televisão e brincando de soldados e aviõezinhos. Larguei desse assunto quando descobri os Beatles, no começo dos anos 1970. Só fui reencontrar o interesse pela guerra, que sempre tive veladamente, no final dos anos 1990, quando resolvi comprar um jipe da Segunda Guerra para restaurar. Achei que ia ser interessante ter um igual ao que meu pai dirigiu, rigorosamente restaurado.
Primeiro foi um Willys MB 1944, que adquiri ainda desmontado de um cara da Ilha do Governador, o José Delatorre, grande especialista em restauro de jipes militares antigos. Com o advento da internet, conseguimos adicionar certo rigor no trabalho de recuperação. Mandei vir muita peça dos EUA. Mas não foi demorado, levou só alguns meses até poder rodar, em 1999.
Essa primeira restauração teve as marcações do exército americano, inspirada especificamente na unidade de blindados "Tank Destroyer". Depois dei uma virada e resolvi caracterizar com as marcas do exército brasileiro. Cada um dos três regimentos que combateram na Itália tinha uma numeração. A do Regimento Sampaio, na qual meu pai serviu, era a 310. No capô, o Cruzeiro do Sul. Quanto a esses tracinhos (na ponta esquerda), vi muitas fotos com esse numeral mas ninguém sabe direito do que se trata. Alguns dizem se tratar do número da companhia, pois cada regimento tinha três batalhões.
Depois tive uma picape Dodge WC-51, usada para carregar equipamentos militares. Pneuzão 900 x 16, muito versátil. Era um carro bacana, muito emblemático da Segunda Guerra, porque produzido em grande quantidade. Daí me apareceu uma situação muito oportuna, em 2004.
A primeira fábrica que produziu um veículo parecido com o que o exército americano queria foi a American Bantam. Era uma empresa de carros pequenos, e como americano não gosta de carro pequeno, estavam à beira da falência. Então, viram na demanda do exército uma forma de escapar da bancarrota. E assim acabaram produzindo o primeiro jipe da história.
As Forças Armadas americanas então resolveram pegar esse protótipo e fazer uma segunda rodada de licitações, pois não podiam ter apenas uma empresa na concorrência pelo melhor modelo e o melhor orçamento. Foi quando a Willys e a Ford também se interessaram em construir seus protótipos, baseados no da Bantam.
A Willys fez o MA, equipado com o motor "Go Devil", um quatro-cilindros de 65 cv. Foi o diferencial entre os três. Aprimorou para o MB, que entrou em produção em massa. E então o governo americano pediu que a Willys autorizasse a Ford a fabricar o mesmo modelo, com pequenas sutilezas, para aumentar a produção de guerra.
A Ford montou modelos-pilotos, sendo que no fim acabou entrando em teste o GP. Inclusive essa grade que a gente tanto conhece do Jeep foi invenção da Ford, que a fez de chapa prensada, mais fácil de produzir. As primeiras da Willys eram de vergalhões soldados uns nos outros.
O Brasil chegou a receber 33 desses protótipos da Ford no começo dos anos 1940, mas não sobrou nenhum. E aí, em 2004, descobri um desses à venda nos EUA. Meti as caras e trouxe para cá. E virou possivelmente um dos jipes mais raros do Brasil, da fase pré-produção. Tem um motor de trator a gasolina e está em perfeitas condições.
Esses são meus dois jipes raros".
Há também um Dodge WC-53 Carryall, desmontado, a ser restaurado.
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