Vai comprar um Fusca? Saiba o que checar, quanto custa e se vale restaurar
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
(SÃO PAULO) - Há tempos que o Fusca é o carro antigo mais anunciado, buscado e vendido na internet. Colecionadores tarimbados reverenciam sua estatura histórica e se encantam com a valorização de certos modelos.
Atrás de um Fusca estão também aqueles precisando de um carro sólido, confiável e acessível para funções mais mundanas, sobretudo nos interiores. É o faz tudo da fazenda ou da oficina e também o primeiro veículo de alguns jovens. Não existe carro mais carismático, universal e democrático.
Contudo, seja qual for a finalidade de quem pretende comprar um Fusca, é bom conhecer alguns segredos - mecânicos, estruturais, e mercadológicos.
Maurício Marx, colecionador e comerciante especializado em modelos europeus, diz que o primeiro passo é definir o papel do carro.
"Antes de mais nada, saiba que tipo de Fusca você quer comprar. Se faz questão de originalidade, prefira os carros prontos ou restaurados no padrão de fábrica. O valor de um modelo impecável pode assustar, mas na ponta do lápis um Fusca para restauro ou com reparos a fazer sairá mais caro na maioria dos casos, fora a dor de cabeça. Por outro lado, se a ideia é só passear e curtir um encontro de antigos no final de semana, com R$ 10 mil você já consegue achar um Fusquinha", orienta Marx.
Então você achou um. Hora de mergulhar em aspectos estruturais.
Alexandre Lopes de Almeida, presidente do Fusca Clube do Brasil, lembra que o modelo foi "extremamente utilizado", e por isso é preciso cuidados básicos: "preste atenção se estão intactos os debruns do capô, os assoalhos, os pés de coluna e o chapéu de Napoleão. Sua substituição é complicada e requer um funileiro que saiba como fazer o serviço".
Tal peça também é lembrada por Alexander Gromow, outro especialista em Fusca. "Verifique as condições do chassi, em especial na região do chapéu de Napoleão, onde costumam ocorrer quebras", alerta. "Mesmo não apresentando nenhuma batida na frente, vale a pena olhar na suspensão dianteira o chapéu de Napoleão, se está amassado ou torto. É muito comum no caso de Fuscas que sofreram graves acidentes ser trocada apenas a carroceria, mantendo o chassi torto", complementa Marx.
Ele também pede atenção para a caixa do estepe, localizada sob o capô. "Retire o estepe para avaliar se o carro já sofreu algum tipo de batida que possa ter afetado a estrutura. Nessa área, não pode haver ranhuras nas chapas, algo como um papel amassado. As chapas têm que estar lisas, com pontos de solda livres de massa", avisa.
O restaurador Leonardo Forestieri, da 455 Garage, perdeu as contas de quantos Fuscas já fez, mas lembra de detalhes importantes: "além dos assoalhos e pés de coluna, verifique os vincos da carroceria, se estão lisos. Se estiverem grossos, é porque tem muita massa ali".
"Bananinha" e afins
Peças e acabamentos de reposição são um dos principais infortúnios dos colecionadores atualmente, simplesmente porque estão rareando. Em certos casos, o desafio pode ser ainda maior.
"Quem estiver buscando um modelo alemão da década de 1950 ou um nacional especial, como 'pé de boi', 'cornowagen', 1600S, Última Série ou Série Ouro; deve prestar muita atenção nos itens que são exclusivos da versão. Mesmo havendo algumas lojas especialistas nisso, são peças difíceis de serem encontradas e bastante caras", recomenda André Takeda, da Restaurakar.
"Apenas um par de "bananinhas" de um Fusca 1950 pode chegar 2 mil euros", reforça Marx. Assim são apelidadas as luzes de direção na coluna B.
Mesmo peças aparentemente simples pedem cuidado, de acordo com Ricardo Robertoni, da Private Collections. "É extremamente importante saber se os estribos são originais, pois há um mercado paralelo de peças muito ruins. Para-choques, por exemplo, são feitos de uma lâmina mais fina, que dá para entortar com as mãos. Os originais são mais grossos, mais fortes. A parte dos faróis e lanternas também é importante, assim como os frisos. E as rodas têm a data de fabricação, que tem que bater com o ano do carro. Tudo o que é original, além de não comprometer a qualidade, valoriza o carro", conclui.
Quanto ao motor, a recomendação é ter certeza de sua originalidade. "Antigamente, era comum em retíficas a troca por um recondicionado", lembra Almeida, do Fusca Clube.
"Descubra se há folga na polia do virabrequim. Se tiver, o motor está ruim", decreta Forestieri. Lacre no velocímetro é sempre um bom sinal, pois a quilometragem tem que ser coerente com os sinais de uso do carro.
Banco de Celta não rola
Outros desafios se impõem para quem gosta de preservar o mínimo de originalidade em bancos, comandos e acabamentos do interior.
Fuscas eram carros populares com bancos desconfortáveis, que muitas vezes foram trocados por bancos de carros populares mais modernos. E não apenas isso: é muito difícil encontrá-los com a tão desejada tapeçaria original de fábrica. "No caso dos modelos alemães, pode contar com um gasto que ultrapassa os R$ 25 mil se precisar refazer", lamenta Marx.
Para ele, "não adianta ter um Fusca todo original por fora e ter o interior feito em couro ou fora do padrão de fábrica. Ter o interior original valoriza muito o carro, além de ficar com aquele 'cheirinho' de Fusca quando abre a porta".
Uma das empresas mais requisitadas atualmente para esse tipo de serviço é a AntiqueBug Autoparts, que por ora só tem página no Facebook.
Robertoni, da Private, ainda sugere atenção para peças como borrachas internas, para-sóis e vidros. E revela que aquele papelão que protege o estepe, se for original, é valioso.
Fuja do bege
Hoje o mercado está em alta para Fuscas alemães e os da década de 1950, sobretudo os "split window" e "oval window". "São carros mais raros e com valorização internacional. Hoje, se eu fosse investir uns R$ 150 mil, compraria um 1954 ou 1955", conta Alexandre Vicentini.
("Split" é uma referência aos primeiros Fuscas, que têm a janela traseira dividida - daí o nome, em inglês. Foi com esse estilo que as primeiras unidades do carro mais famoso do mundo desembarcaram no Porto de Santos em 11 de setembro de 1950, importadas pela Brasmotor - que, a partir de janeiro do ano seguinte, passou a recebê-los desmontados (CKD) e montava-os aqui.
Em 1953, a coluninha central do vidro traseiro desapareceu e logo veio o apelido "oval". Com esse visual o Fusca inaugurou a manufatura da Volkswagen no Brasil, em 23 de março daquele ano. Num galpão na Rua do Manifesto, no bairro paulistano do Ipiranga, doze operários montavam o carro, que chegava da Alemanha desmembrado).
Porém, o colecionador alerta para detalhes de acabamento, que são raros e caros. No fim, tranquiliza: "comprando um carro bom, com certeza terá um bom investimento a médio e longo prazo".
Seu colega Takeda concorda, também com ressalvas.
"Por conta da valorização e da liquidez, o comércio de Fusca está em alta há alguns anos no Brasil e no mundo. Mas, uma análise prévia no investimento das melhorias que terá que fazer no carro, seja por necessidade ou capricho, é muito importante. Nada custa pouco e no final da restauração, caso deseje ou necessite se desfazer do hobby, talvez não consiga recuperar o dinheiro investido", aconselha.
De fato, os "split" são unanimidade. "Nos originais, pedem e vendem por R$ 300 mil", conta Robertoni. Depois vem o "oval", seguido pelos Última Série e Série Ouro, "que chegam a valer R$ 120 mil no caso dos zero-quilômetro". É preciso citar também alguns modelos importados, como os conversíveis e o 1303, que podem chegar a R$ 150 mil, segundo o comerciante.
Obviamente, há Fuscas acessíveis. "Na minha loja todos são muito bem aceitos. Aqui a média de preço é de R$ 30 mil. Já vendi um 1973 totalmente original, intacto, por R$ 31 mil, quando pedem por R$ 45 mil. Mas tem sempre muito Fusca bacana por R$ 25 mil", se gaba Robson "Alemão", da Século XX Veículos de Coleção.
O problema, segundo ele, são os de motor 1.3, de 1971 para cima. "Muito fracos de venda. Se for na cor Bege Alabastro, então, nem pego. Já encalhei com três. Jurei nunca mais pegar Fusca Bege Alabastro", debocha.
"Os mais desejados são os coloridos, de cores vivas como amarelo, laranja, verde...", conclui Alemão.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.