Compacto, polêmico e revolucionário, Romi-Isetta era lançado há 64 anos
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(SÃO PAULO) - Da rua Marquês de Itu, no centro de São Paulo, 12 desconhecidos carrinhos partiram para a Rego Freitas, logo alcançando o largo do Arouche, a praça da República e a avenida São Luís. Atravessaram o viaduto Nove de Julho e na sequência tomaram a Maria Paula, a Brigadeiro Luís Antônio e a Treze de Maio antes de desembocarem no Palácio Episcopal, no meio de um parque no bairro da Bela Vista.
Depois de receberem a bênção do cardeal d. Carlos Carmelo Motta, zarparam em direção à avenida Paulista. Dali ganharam rapidamente a Angélica, a São João, a Glete e a Rio Branco. O destino era a sede do governo paulista, nos Campos Elíseos, onde o extravagante Jânio Quadros aguardava para conhecer a novidade. Dirigiu um deles e ficou impressionado: "como é engenhoso este bicho". A terceira etapa do passeio consistiu em voltar para a Marquês de Itu 133, sede da Companhia Distribuidora Brasileira Comércio e Indústria.
Foi assim o lançamento do Romi-Isetta naquela quarta, 5 de setembro de 1956.
Isso no Brasil, porque pela Europa circulava havia três anos. Concebido pelo projetista de aviões Ermenegildo Pretti e revelado no Salão de Turim de 1953, o Isetta foi a aposta da italiana Iso - fabricante de scooters e pequenos caminhões de três rodas - em um veículo acessível e econômico para o período de reconstrução após a Segunda Guerra Mundial.
Embora econômico e adequado às estreitas ruas italianas com seus 2,25 m de comprimento e 1,40 m de largura, não vendeu bem no país de origem.
Mas na Alemanha, sim. Graças a BMW, que comprou os direitos de fabricação da Iso e em abril de 1955 lançou seu próprio Isetta, um tanto distinto do original e equipado com motor de 247 cc oriundo de motocicletas. Isso permitia que os alemães rodassem com o microcarro usando uma licença de motos, não de automóveis.
Na Inglaterra, a BMW o fabricava com um eixo traseiro de apenas uma roda, se beneficiando da legislação local que distinguia veículos de três e quatro rodas. Por lá, perante a lei, estava na categoria de sidecars e motocicletas.
Depois do Isetta 250 vieram o Isetta 300 e o Isetta 600, este para quatro passageiros. Quando a produção se encerrou, em maio de 1962, mais de 160 mil exemplares haviam sido vendidos.
Tornos e carros
Como tantas outras fabricantes mundo afora, a Indústrias Romi S.A. não nasceu produtora de veículos. Seu ramo era o agrícola e seu principal produto, tornos. Um carro cruzou o caminho da empresa quando seu fundador, Emílio Romi, aceitou o desafio do enteado Carlos Chiti: "por que não trazemos um ou dois carrinhos destes aqui?", perguntou apontando, empolgado, para uma revista italiana que falava sobre o ainda novato Iso Isetta.
Dois exemplares foram importados para realização de testes pelas ruas de Santa Bárbara d'Oeste, cidade no interior de São Paulo sede da Romi. Depois ocorreram as negociações sobre os direitos de licença e royalties com Renzo Rivolta, dono da Iso Autoveicoli. Motor e câmbio importados se juntavam na linha de montagem da Romi às demais peças produzidas por 60 fornecedores. O primeiro carro saiu no dia 30 de junho de 1956 com 72% de nacionalização.
A mira apontava para o Fusca: custando Cr$ 370 mil, era mais acessível que o rival da VW, que partia de Cr$ 540 mil - ou 38 e 56 salários mínimos, respectivamente.
Os planos da Romi eram audaciosos. "Nossa empresa procurou a BMW em 1957 para produzir cinco novos modelos em parceria, entre eles uma picape e um veículo para quatro passageiros. Porém, com as crises do pós-guerra, a situação dos europeus era instável", conta Eugênio Chiti, filho de Carlos Chiti. Contudo, em 1959 o motor passou a ser fornecido pela empresa alemã. Monocilíndrico, rendia 13 cv, ante 9,5 do bicilíndrico da Iso.
Logo de saída o Romi-Isetta fez sucesso com a classe artística. Mas talvez seu momento de maior fama tenha sido durante a Caravana da Integração Nacional - evento que marcou a inauguração de Brasília, em 1960 -, quando o então Presidente da República Juscelino Kubitschek desfilou pela Esplanada dos Ministérios em um deles.
Pena que o fim chegou logo depois. "Naquele momento, as cidades não apresentavam problemas de mobilidade e a gasolina era barata. As vantagens oferecidas pelo nosso carro ainda não sensibilizavam o público", avalia Chiti.
Em 13 de abril de 1961, após cerca de 3 mil unidades fabricadas, o mais simpático carro daqueles tempos, talvez à frente demais de seu tempo, foi produzido pela última vez.
Hoje é raridade. Estima-se que existam ainda cerca de 350 carros rodando. Lá fora também é cobiçado por colecionadores. Neste momento, a casa de leilão Bonhams oferece um Isetta 300 1958 por € 30 mil, equivalentes a R$ 190 mil.
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