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Mora nos Clássicos

BMW "gourmetizava" Mini Cooper há 20 anos; relembre história do modelo

Colunista do UOL

03/10/2020 08h00

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(SÃO PAULO) - Em 4 de outubro de 2000, durante o Salão de Paris, um Mini totalmente novo se apresentava. Depois de 5,3 milhões de unidades espalhadas pelo mundo, o modelo original e espartano dava lugar a um hatch mais sofisticado, confortável e luxuoso em duas versões, One e Cooper.

O inusitado: era um Mini produzido pela BMW.

Mini 2000 - Divulgação  - Divulgação
Imagem: Divulgação

Seis anos antes, a marca alemã comprara o Rover Group, detentor das marcas Mini e Land Rover. Desta, viria a tecnologia para produzir seus próprios modelos off-road (seu primeiro SUV, o X5, estreia em 1999), enquanto o popular carro inglês - agora convertido em marca e rebatizado como MINI - abriria portas para o segmento de carros compactos.

Alguns conceitos surgiram antes do modelo definitivo. No Salão de Genebra de 1997, a marca apresentou a dupla Spiritual e Spiritual Too - que tinha motor traseiro e, como o original, rodas nos cantos e bom espaço interno, mas não tinha a "cara" de um Mini.

ACV30 Concept Car 1997 - Divulgação  - Divulgação
ACV30 Concept Car 1997
Imagem: Divulgação

O ACV 30, também revelado naquele ano, para celebrar os 30 anos da vitória dos Mini Coper no Rali de Monte Carlo, tinha desenho mais próximo daquele que se tornaria a segunda geração do compacto inglês.

Se o Mini clássico tinha janelas deslizantes para reduzir peso e aumentar o espaço para os ombros dos ocupantes, rodas de 10 polegadas para não invadir a cabine e portas finas com generosos compartimentos internos, o novo Mini apresentava soluções mais condizentes com seus tempos e beneficiadas pelas tecnologias disponíveis.

Mini interior - Divulgação  - Divulgação
Interior do Mini sempre fugiu do convencional
Imagem: Divulgação

Partida do motor por botão, airbags e controles do rádio no volante eram itens de conveniência e segurança com os quais o original jamais sonhou.

A dupla de motores também era nova. Desenvolvida pela BMW em conjunto com a PSA, era composta por um 1.6 de quatro cilindros, de 90 cv no One e 115 cv no Cooper. A versão mais extrema, John Cooper Works, chegava a 210 cv. Um carro com o conceito do Mini e o toque da engenharia da BMW não poderia entregar outro resultado senão uma sensação ao volante única e altamente divertida, mesmo nas versões de desempenho mais modesto.

Mini Cooper S  - Divulgação  - Divulgação
Imagem: Divulgação

Clássico e novo chegaram a conviver, mas apenas por dias, não o bastante para o antigo conhecer os futuros membros da família, como os SUVs Countryman e Paceman, a perua Clubman e o conversível Cabrio.

Como nasceu

Seus criadores - Sir Leonard Lord, executivo da BMC que o encomendou, e Alexander Arnold Constantine Issigonis, o engenheiro e designer que o projetou - desejavam um carro compacto moderno, prático e barato. Mas o Mini foi além: bem-sucedido enquanto inovação tecnológica e mercadológica, acabou virando também ícone cultural e lenda do automobilismo.

Alec Issigonis - Divulgação  - Divulgação
Alec Issigonis e sua cria, no lançamento à imprensa, em 1959
Imagem: Divulgação

Como o VW Fusca e o Citroën 2CV - apenas para citar outros modelos longevos -, o Mini é fruto de um contexto político e social. A Inglaterra dos anos 1950 ainda se recuperava dos esforços empenhados na Segunda Guerra Mundial, e portanto não havia recursos para modelos genuinamente novos e a compra de automóveis era controlada.

Então, o que os ingleses podiam comprar eram modelos do pré-guerra reconstruídos, geralmente obsoletos, ou os chamados "carros bolha", como o Heinkel Kabine e os Iso, BMW e Romi Isetta. Quando Sir Leonard Lord definiu as diretrizes do Mini, a ordem era fazer um carro pequeno, mas em hipótese alguma um "carro bolha".

Pensado, projetado e desenvolvido num intervalo excepcional de dois anos, o modelo foi lançado oficialmente em 26 de agosto de 1959 em duas "versões": Austin Seven e Morris Mini-Minor. As duas marcas trilharam histórias distintas - a Morris foi fundada em 1919, 14 anos depois da Austin - até 1951, quando se fundiram sob o conglomerado British Motor Corporation.

As diretrizes do projeto foram fielmente atendidas: espaço interno para quatro adultos, dimensões externas compactas, economia de combustível e preço acessível. Em outras palavras, o Mini media 3,05 metros, era equipado com um motor de 848 cc de 35 cv e custava a partir de £ 497.

Mini campanha 1959 - Divulgação  - Divulgação
Campanha de lançamento do Morris Mini-Minor e do Austin Seven
Imagem: Divulgação

Ironicamente, o Mini não atingiu o público que mirava. A classe trabalhadora que deveria comprar aquele modelo econômico, barato e de desenho incomum não queriam justamente um modelo econômico, barato e de desenho incomum. Para esses compradores, o Mini não entregava status de modelos maiores. E se era para ser um automóvel popular, ele deveria parecer como tal.

A consequência lógica da rejeição se refletiu nas vendas: foram pouco mais de 116 mil emplacamento no primeiro ano, muito aquém das expectativas dos executivos da BMC - e do potencial do veículo.

Contudo, se a classe média não entendeu o Mini, os mais abastados, sim. Logo caiu nas graças de celebridades, artistas, roqueiros e gente "cool" da época. A lista de famosos ao volante de um Mini incluía todos os Beatles, o ator e piloto Steve McQueen e a Princesa Grace de Mônaco, entre outros. Foi a virada de mesa: no fim do anos 1960, mais de dois milhões deles estavam nas ruas e as vendas anuais chegavam a 250 mil unidades.

Nos anos seguintes, o Mini foi construindo família com os modelos Moke, Traveller, Clubman e Countryman, além de passar por customizações e ganhar edições especiais. Nada se comparou, porém, ao sucesso dos modelos criados pelo projetista de carros de corrida John Cooper.

Mini Traveller - Divulgação  - Divulgação
Mini Traveller (e seu gêmeo da Austin, Countryman) ampliava o espaço para bagagens
Imagem: Divulgação

Os primeiros Coopers surgiram em setembro de 1961 oferecendo desempenho superior com um motor que saltava de 848 cc para 997 cc e de 35 para 56 cv, esticando a velocidade máxima de 116 km/h para 141 km/h. E a aceleração até os 100 km/h não tomava mais 30 segundos da vida do ingleses, mas sim 18 segundos. Câmbio mais curto, suspensões recalibradas e freios redimensionados reforçavam o espírito esportivo.

O que levou o modelo mergulhar nas competições ainda nos anos 1960. Não apenas nas de pista, como o Campeonato Britânico de Turismo, mas também num ambiente ainda mais incompatível com um carro como ele, os ralis - sobretudo o de Monte Carlo, dominado pelo Mini Cooper.

Mini Monte Carlos - Divulgação  - Divulgação
Mini Cooper aterrorizou carros maiores nos ralis, tendo mais êxito no de Monte Carlo
Imagem: Divulgação

O Mini atravessou as décadas de 1970, 1980 e 1990 com sutis atualizações estéticas e mais incisivas mudanças mecânicas - essas sobretudo para atender normas de segurança e emissões de poluentes cada vez mais rígidas.