Viagem de trator antigo mistura desafio com romantismo "voando" a 15 km/h
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(SÃO PAULO) - Dizem que a fé move montanhas. No último sábado, ela moveu um grupo de tratoristas a sair de São Carlos rumo a Torrinha em uma viagem que, contando a escala em Brotas (todas no interior de São Paulo), durou oito horas. De carro ou moto, fariam em cerca de uma.
Isso porque decidiram se aventurar sobre tratores antigos: um Lanz Bulldog 1951 (de origem alemã), dois Ursus 1959 (poloneses), um Deutz DM 55 1964 e dois Massey-Ferguson 65X 1975 (brasileiros). Daí não passarem dos 15 km/h.
Entretanto, a velocidade baixa era inversamente proporcional ao desafio de controlar um bichão de uma tonelada e sem qualquer recurso eletrônico.
"Tem que ter uma concentração muito grande. A velocidade pode ser baixa, mas você vai sentado lá no alto, a direção tem folga, o acelerador é manual e as marchas, secas. Além disso, os Lanz Bulldog e os Ursus têm um único cilindro, por isso apelidados de 'cabeça quente'. Isso quer dizer que se você não souber controlar sua força numa subida, ele pode parar e começar a girar ao contrário e, de repente, o trator dá ré. É muito cansativo", pondera José Vignoli, entusiasta que se aventurou em um dos Massey.
Criados para rodar calmamente sobre a planície das fazendas, alguns tratores acabam se encontrando em situações estranhas à sua essência. Em certo momento, os tratoristas tiveram que se arriscar em uma das serras de Torrinha. "Subimos o morro com pedras rolando, trator empinando e derrapando. Não vamos repetir essa experiência, mas foi maluco", relembra Vignoli.
"Parece fácil, mas não é. Não pode ir alguém que queira bancar o esperto, o engraçadinho. Tem que ter humildade, porque é perigoso, e espírito de grupo, porque tudo é uma surpresa", completa.
Por outro lado, há o prazer de curtir a máquina que adoram apreciando paisagens e sendo recebidos calorosamente nos lugares. No total, rodaram mais de 200 km, o equivalente a um terço do caminho que anualmente desbravam até Aparecida do Norte - a gênese das viagens de trator.
Capitaneados pelo bastante católico João dos Anjos Duarte, o João "Trator" - dono de uma oficina de restauração de tratores em São Carlos -, o pessoal do Clube Paulista de Tratores monta em suas máquinas, novas ou antigas, rumo à meca do catolicismo nacional em uma viagem que, faça chuva ou faça sol, acontece desde 2016.
A exceção foi neste ano, quando só dois tratores fizeram a viagem por conta da pandemia. Para manter o grupo unido, o jeito foi fazer um passeio mais curto, só pra não enferrujar.
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