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Exclusivo: como incêndio criminoso destruiu perua Mercedes que foi de Senna
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(SÃO PAULO) - Premidos pela efeméride, a cada 1º de maio nos dispomos a formular a lista de carros que Ayrton Senna teve fora das pistas. Por ter contado com a memória de Leonardo, irmão do piloto, a mais completa provavelmente seja a que UOL Carros elaborou ano passado.
Um NSX 1991 preto e um S4 Avant 1993 prata - os dois últimos carros que usou no Brasil - sempre protagonizam esse elenco. O Honda encontrou a garagem do piloto em São Paulo no ano em que Senna conquistou seu terceiro e último título na Fórmula 1, pela McLaren, então embalada por motores da marca japonesa. A perua chegou dois anos depois, quando Ayrton e Leonardo se tornaram importadores da Audi.
Endeusados, transcendem a condição de meros automóveis. Dificilmente sairão das mãos da família Senna e saem da toca apenas em situações excepcionais, quando saem. Eu mesmo já estive tête-à-tête com o Audi e confesso que dá um tremelique.
Nada famoso, quase desconhecido, foi um 300 TE 1986 azul. Segundo Leonardo, "o Ayrton ficou bastante tempo com uma perua Mercedes-Benz. Ele gostava muito daquele carro e principalmente de peruas, por causa do porta-malas generoso para levar os aviões de controle remoto dele".
Pena que a perua não gozou da mesma vida de holofotes, zelos e paparicos da dupla nipo-germânica: um incêndio reduziu toda a vanguarda tecnológica e a elegante sisudez dos Mercedes dos anos 1980 a um esqueleto torrado. O que no passado fora o porta-malas que carregou o hobby de um dos esportistas mais famosos do mundo virou um cinzeiro gigante.
A coluna teve acesso exclusivo ao boletim de ocorrência que resume o que aconteceu na noite de 4 de outubro de 2019: "dois indivíduos desconhecidos adentraram ao local dos fatos, renderam o vigia, dispararam um tiro para o alto, e mandaram que o vigia abrisse as portas do barracão. O vigia informou que não tinha as chaves e o prenderam no 'quartinho' nos fundos do barracão e atearam fogo no local".
Nas páginas seguintes, o B.O. se desenrola: "o vigia escutou alguns barulhos no local e passado algum tempo, cerca de oito minutos, ouviu um barulho de porta se abrindo. Então alguém teria perguntado a ele 'quem está aí', 'o que está acontecendo'. Foi então que o vigia respondeu que estava rendido e trancado no local. Após isto, ele teria aberto o portão do quartinho, se identificado e liberado o vigia. O GCM estava com uma arma de fogo nas mãos e de toalha de banho".
A casa do Guarda Civil Metropolitano ficava nos fundos do galpão e dava acesso ao local. Tempos atrás, era ele quem tomava conta dos veículos, de acordo com fontes ouvidas pela coluna.
Ainda segundo o B.O., "ouvimos também um dos proprietários dos carros que estavam no local. Em resumo, ele teria se desentendido com o guarda civil, pois este estava levando pessoas sem sua autorização para ver a coleção de carros. Ainda teria proibido o vigia de guardar o veículo seu e de sua esposa no interior do barracão. Fato que foi desrespeitado por algumas vezes. Ainda de acordo com o depoimento, o guarda não teria gostado dessa atitude de proibir que seus carros não pudessem ser guardados no interior do local".
O documento também aponta que o guarda estava com as chaves do quartinho onde o vigia foi trancado e que não atendeu a intimação para depor, tampouco justificou sua ausência. Também não há sinais de arrombamento, e câmeras de segurança da empresa oposta ao galpão não apresentam imagens que sugiram invasão.
"Já no início das investigações, por meio de depoimentos informais colhidos até aquele momento, havia a suspeita de que o vigia poderia estar envolvido no crime de incêndio e de disparo de arma de fogo", revela o B.O.
Consta ainda que os agentes da GCM que atenderam a ocorrência localizaram o estojo do projétil deflagrado, mas não o apresentaram para devida apreensão - o guarda tomou o estojo da mão de um colega, alegando que poderia ser seu, pois havia dado alguns tiros no local em outra ocasião.
O inquérito policial está encerrado. Concluiu que o incêndio foi criminoso, mas que o autor é indefinido. Agora cabe ao Ministério Público dar ou não sequência nas investigações para indiciar suspeitos.
Mas, afinal, como um Mercedes-Benz que pertenceu a um tricampeão mundial de Fórmula 1 foi parar num galpão em Limeira?
Coleção J.O.R.M.
Eram pra lá de ambiciosos os planos para a coleção J.O.R.M.: convertê-la em um museu de três andares, desenhado por Oscar Niemeyer, incrustado sob o heliponto do Autódromo de Interlagos. Isso segundo o curador do acervo, Paulo "Loco" Figueiredo.
José Oswaldo Ribeiro de Mendonça era o proprietário dos veículos e, em nome do anonimato, incumbiu Figueiredo, personagem famoso na cena antigomobilista nacional, de constituir a coleção, cujo valor, segundo especialistas, é incalculável.
Tudo começou quando Mendonça comprou de Figueiredo um High Boy 1929.
"Com o passar do tempo, ele começou a gostar de carros e partimos para compras de veículos históricos da indústria nacional, da indústria europeia, carros de pilotos. Nos tornamos amigos e uma hora virei curador. O mais importante é que ele não fez isso por vaidade ou investimento financeiro", revelou Figueiredo à reportagem de UOL Carros em 2017, momento em que o acervo somava 500 peças.
Entre elas, além do Mercedes 300 TE de Senna, um Porsche 911 com cara de GT1, que pertenceu a Paulo Maluf; um Brabham 1972 pilotado por Wilson Fittipaldi na F-1, um Opel Olympia de Getúlio Vargas, um raríssimo Lister Storm de 1.200 cv, além de um punhado de Bentleys, Rolls-Royces e Ferraris.
Mas nada saiu como o planejado: Figueiredo e Mendonça, herdeiro do Grupo Colorado - empresa do setor agroindustrial sediada em Orlândia, no interior de São Paulo -, se desentenderam e a união foi desfeita. Quando o empresário morreu, em dezembro de 2017, a família resolveu se desfazer dos carros.
Eles então foram alocados em um galpão em Limeira (SP), sob cuidados do então namorado da filha de Mendonça - o personagem interrogado pela polícia e que teria se desentendido com o segurança.
A reportagem procurou os envolvidos para esclarecer quantos carros havia no galpão e quais foram queimados junto com a perua de Senna. Também questionar de quem eram os veículos no momento do incêndio e por que a coleção não estava mais sob os cuidados de Figueiredo.
A família Mendonça respondeu, por meio de advogado, que "exercerá seu direito de não manifestar a respeito dos fatos e não responderá os questionamentos apresentados".
Figueiredo também ignorou os apelos da coluna.
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