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Romi-Isetta, 65: por que primeiro carro nacional foi breve e injustiçado
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(SÃO PAULO) - Embora Ford, General Motors e Volkswagen, entre outras, já estivessem instaladas no Brasil importando ou montando veículos, nasceu de uma fabricante de tornos sediada em Santa Bárbara d'Oeste, no interior de São Paulo, o primeiro carro nacional produzido em série.
Em 5 de setembro de 1956, a Máquinas Agrícolas Romi (posteriormente Indústrias Romi) lançou o Romi-Isetta com pompa e circunstância: um comboio de 12 deles costurou o centro de São Paulo antes de receber a bênção do cardeal d. Carlos Carmelo Motta, no Palácio Episcopal, e depois se apresentar a Jânio Quadros no Palácio dos Campos Elíseos, então sede do governo.
Concebido pelo projetista de aviões Ermenegildo Pretti e revelado no Salão de Turim de 1953, o Isetta era a aposta da italiana Iso Autoveicoli para a mobilidade urbana no pós-Guerra europeu.
Depois de dois exemplares trazidos ao Brasil para testes, iniciaram-se as negociações sobre os direitos de licença e royalties entre a Romi e Renzo Rivolta, dono da Iso. Motor e câmbio eram importados, mas demais peças vinham de 60 fornecedores locais. O primeiro carro ficou pronto no dia 30 de junho de 1956, com 72% de nacionalização.
A princípio, era empurrado por um motor bicilíndrico de 236 cm3 e 9,6 cv. Mas, a partir de 1959, assumiu um monocilíndrico de 289 cm3 e 13 cv oriundo da BMW, que quatro anos antes comprara os direitos de fabricação da Iso para ter seu próprio Isetta.
A mira do Romi-Isetta apontava para o Fusca: custando Cr$ 370 mil, era mais acessível que o rival da VW, que partia de Cr$ 540 mil - ou 38 e 56 salários mínimos da época, respectivamente.
Os planos da Romi eram audaciosos e incluíam uma parceria com a BMW para aumentar a família com duas picapes, um furgão e um modelo para quatro passageiros. Na última hora a fabricante alemã desistiu, pois ainda enfrentava as agruras consequentes da Segunda Guerra Mundial.
Logo de saída o carrinho fez sucesso com a classe artística. Contudo, seu momento de maior fama talvez tenha sido durante a Caravana da Integração Nacional, um evento que marcou a inauguração de Brasília em 1960 - o então Presidente da República Juscelino Kubitschek desfilou pela Esplanada dos Ministérios em um Romi-Isetta.
Pena que o fim chegou logo depois. "Naquele momento, as cidades não apresentavam problemas de mobilidade e a gasolina era barata. As vantagens oferecidas pelo nosso carro ainda não sensibilizavam o público", avalia Eugênio Chiti, filho de Carlos Chiti, este o enteado de Américo Emílio Romi, fundador da empresa.
Em 13 de abril de 1961, após cerca de 3 mil unidades fabricadas, o mais simpático carro daqueles tempos, talvez à frente demais de seu tempo, foi produzido pela última vez.
Hoje, os cerca de 350 exemplares que ainda rodam lidam com uma injustiça. No mesmo ano em que o Romi-Isetta nasceu surgiu também o Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA), órgão criado por JK para estimular e balizar a indústria automobilística brasileira.
E que se tornou o pivô de uma celeuma que dura até hoje: quem é, afinal, o primeiro carro nacional, Romi-Isetta ou DKW-Vemag?
Isso porque o decreto 41.018, apresentado pelo GEIA em 26 de fevereiro de 1957, em resumo diz que "consideram-se automóveis de passageiros, para os efeitos do presente decreto, os veículos de quatro rodas assim designados comercialmente, destinados ao transporte de pessoal, com capacidade normal para o mínimo de 4 e o máximo de 7 passageiros, inclusive o motorista".
Como nota-se, o Romi-Isetta é capaz de levar apenas dois ocupantes. Porém, com 72% de peças fabricadas localmente, atendia a um item mais conectado à intenção de nacionalizar a indústria brasileira, como determinava o Art. 4º:
"A produção nacional de automóveis de passageiros deverá atingir até as datas fixadas neste artigo, os seguintes níveis de realização, indicados como porcentagem ponderal das peças fabricadas no País: 1º de julho de 1957 - 50%, 1º de julho de 1958 - 65%, 1º de julho de 1959 - 85%, 1º de julho de 1960 - 95%".
Lançado em 19 de novembro de 1956, o DKW-Vemag Universal tinha (inicialmente) 54% de seu peso composto por peças nacionais e comportava quatro passageiros - daí alguns o considerarem o primeiro.
Para celebrar a efeméride, o Centro de Documentação Histórica - CEDOC da Fundação Romi montou uma exposição na Avenida João Ometto, em Santa Bárbara d'Oeste - onde desenhos técnicos do carro (muitos em italiano) são revelados pela primeira vez.
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