Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Como ser o pior navegador do mundo em um rali de regularidade
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(SÃO PAULO) - Embora tenha explicado umas 16 vezes que eu seria um péssimo navegador, o pessoal do Troféu Rally Clássico São Paulo insistiu para que eu participasse da terceira etapa da competição, realizada há dois sábados. "O que importa é a diversão, botar carro antigo na rua para passear", assim me convenceram os organizadores.
A aventura começa na noite anterior, com uma apresentação sobre o trajeto, as regras e a navegação, que pode ser feita de dois modos: por um aplicativo com tudo mastigado ou por uma boa e velha folha de papel cheia de números marcando tempo e quilometragem, além de símbolos - as tais tulipas.
E começa aí, também, sua escolha sobre ser ou não ser um navegador que preste. Porque o certo seria deixar a cerveja, os quitutes e a conversa sobre como clássicos nacionais estão descaradamente subindo de preço, quem são os vilões dessa escalada e por que este e aquele modelo são supervalorizados de lado e prestar atenção no que o cara que passou um tempão bolando os desafios do trajeto tem a dizer.
Mas não. Achei que com o mapa na mão e um motorista experiente - o que era o caso - beliscaríamos, no mínimo, o lugar mais baixo do pódio. Não passamos nem perto.
No sábado pela manhã, em frente ao Theatro Municipal, bateu o arrependimento. "Devia ter prestado atenção. Devia ter baixado o aplicativo de navegação, agora é tarde. Devia ter pedido pra ser o motorista. Devia ter checado antes se o Fiat 147 Rallye tinha hodômetro parcial, o que ele não tem. Espero que o Davide esteja falando sério sobre não se importar com o resultado dessa corrida maluca que nos aguarda".
Bem, vamos nessa. Na pior das hipóteses será um passeio de carro antigo num sábado ensolarado. Como pode ser ruim? E lá fomos nós.
No deslocamento até o posto à beira da estrada, de onde de fato o rali começa, a conversa flui sobre decavês, restaurações, preços de carro antigo, carreiras, viagens...
Chegamos ao posto de gasolina à beira da estrada, a partir do qual a competição efetivamente começava. Do Theatro até ali foi o que se chama de "deslocamento" - o que, pra mim, é sempre a melhor parte.
E aqui outra dica de ouro sobre como ser o pior navegador do mundo: zere o cronômetro, acreditando que o tempo só deve correr enquanto tivermos pontos de passagem pelo caminho.
Então, sem o parâmetro do tempo, sem hodômetro parcial, sem a planilha eletrônica que vai compensando os atrasos e avanços e sem nenhuma noção do que está fazendo ali, você vai entendo que está fazendo tudo ali, menos disputando um rali de regularidade - no qual, vale lembrar, não pontua quem passar por certo ponto no tempo mais aproximado daquele determinado pela organização. Se passar antes ou depois, soma pontos.
Chegamos a pensar que, bem, no fim das contas nem estragamos tanto assim a corrida. Mas daí você vê o carro 34, que em tese deveria estar um minuto atrás de você, que é o 33, lá na frente. E quando vê o 16 te ultrapassado, daí a confusão se instala de vez. Mas o erro é dos outros, claro.
Só assumimos (eu, pelo menos) que tudo estava arruinado quando, depois de errar uma entrada e fazer o contorno quatro quilômetros depois, cruzamos com nossos competidores na contramão. Meu companheiro não sabe, mas foi aí que abandonei de vez a planilha e respondi suas perguntas sobre onde virar e qual velocidade manter aleatoriamente.
No fim do dia, o que valeu mesmo foi ver tanto carro antigo na rua. Não levamos o troféu de pior dupla do rali, mas sequer chegamos perto do pódio. Para isso, é obrigatório um navegador minimamente experiente.
Não podem dizer que não avisei.
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